Crítica - Super 8 (2011)

Realizado por J.J. Abrams
Com Joel Courtney, Elle Fanning, Kyle Chandler, Riley Griffiths

O que têm Steven Spielberg e J.J. Abrams em comum? Bom, ambos partilham uma paixão enorme pelo género da ficção-científica. Filmes misteriosos sobre extraterrestres, viagens espaciais e criaturas de outros mundos é coisa que não falta no currículo de ambos. Spielberg é obviamente conhecido pelos seus “E.T.: The Extra-Terrestrial”, “War of the Worlds” e “Close Encounters of the Third Kind”. Abrams trouxe-nos a nova versão de “Star Trek” e espantou meio mundo com os enigmas da série de televisão “Lost”. Agora, os dois realizadores/produtores juntaram-se para consumarem no grande ecrã um dos grandes acontecimentos cinematográficos do ano. A rodagem deste “Super 8” ficou marcada por uma enorme expectativa em torno dos fãs, já que Abrams (ao seu bom estilo, diga-se) manteve tudo em segredo até poucas semanas antes da estreia nos Estados Unidos. Até há bem pouco tempo, ninguém sabia muito bem o que este filme nos iria trazer. Mas agora que ele finalmente estreou, podemos assegurar-vos que estamos na presença de um dos melhores e mais interessantes filmes do ano.



Quando a sua mãe morre num terrível acidente, Joe Lamb (Joel Courtney) vê-se subitamente atirado para um mundo mais pobre e desprovido de cor. Com um pai (Kyle Chandler) demasiado rígido e atarefado para lhe dar atenção, Joe depressa recorre ao seu grupo de amigos para abafar as mágoas. Poucos meses depois da morte da mãe, o Verão chega e Charles (Riley Griffiths) – o melhor amigo de Joe – convence o grupo a juntar-se para filmar um vídeo amador sobre zombies e investigações policiais. Com o intuito de filmarem uma cena de despedida, Charles, Joe e os outros dirigem-se para um apeadeiro nos limites da cidade. É aí que Joe conhece Alice Dainard (Elle Fanning), uma rapariga por quem nutre uma paixoneta, mas de quem está proibido de se aproximar devido a inimizades entre os pais de ambos. Qual Romeu e Julieta, a aproximação entre ambos é, no entanto, inevitável. E é quando a noite parece estar a decorrer da melhor maneira que o impensável acontece: um comboio com uma carga misteriosa descarrila mesmo em frente ao grupo de jovens e este vê-se forçado a abandonar as filmagens do seu filme experimental. A partir desse momento, coisas estranhas começam a tomar de assalto a pacata cidade do estado de Ohio. Pessoas desaparecem a um ritmo alarmante; casas e postes de electricidade aparecem destruídos; e perante a presença das forças militares na cidade, todos começam a desconfiar de que algo de muito errado se está a passar.



Sem querer revelar muito mais da linha narrativa para não trair os esforços de Abrams e companhia, digamos apenas que “Super 8” é uma obra que se vai descobrindo à medida que a fita se desenrola. Durante a primeira metade do filme não sabemos muito bem que sentido é que a história vai tomar, sendo tudo filmado com extremo cuidado para manter o espectador colado à cadeira. Abrams demonstra uma vez mais que é um mestre do suspense, preferindo guardar os trunfos para o fim do jogo do que esbanjá-los todos logo no início. Nesta fase mais misteriosa da película, quem brilha mais alto é o grupo de jovens actores que nos faz lembrar o clássico “The Goonies”, de 1985. Porventura, é aqui que o dedo de Spielberg mais se faz sentir. Já todos conhecemos o fascínio de Spielberg para com a mensagem familiar de toda e qualquer história. Todos conhecemos a sua propensão para valorizar os relacionamentos entre pais e filhos nas suas películas. Poder-se-ia quase dizer que as relações familiares são quase uma obsessão para o famoso realizador norte-americano. E neste “Super 8”, essa faceta familiar volta a assumir ponto de destaque, o que lhe assegura a presença de uma alma enorme e o que faz com que as personagens se tornem muito mais verosímeis, empáticas e alvo de uma aceitação gigantesca por parte do público. De facto, o público não demora muito a apaixonar-se por estas personagens porque rapidamente começa a sentir que as conhece desde sempre. Todos nós somos capazes de nos identificar com as desventuras deste criativo e destemido grupo de amigos. E isso facilita (e muito) a empatia com o espectador, nada mais fazendo do que valorizar a película.



Apesar de estarmos perante um grupo de actores muito jovem, pouco ou nada sentimos a sua juventude. Joel Courtney, Elle Fanning, Riley Griffiths e companhia tomam conta do filme sem qualquer problema, brilhando muito mais alto do que qualquer um dos actores seniores. De facto, as prestações mais caricaturadas até pertencem aos actores seniores, relegando para os jovens os aspectos mais positivos a nível da interpretação e do argumento. Claro está que, entre esses jovens, Elle Fanning é (incontestavelmente) quem reina por completo. Estamos, sem dúvida alguma, perante o desabrochar de uma grande estrela, um grande talento. Sempre que a jovem Fanning entra em cena, o ecrã parece ganhar um pouco mais de brilho, um pouco mais de cor, um pouco mais de credibilidade. Mais do que em qualquer outra altura da sua carreira, a jovem actriz tem o mundo a seus pés. Esperemos que não se perca com o advir de uma idade onde tudo se decide.
É justo dizer que “Super 8” presta homenagem a uma década muito particular da humanidade e da sociedade norte-americana. O retrato dos anos 70 está muito bem conseguido, levando o espectador numa viagem temporal sem obrigar este último a puxar muito pela imaginação. “Super 8” é também uma ode à própria indústria do cinema. Não é difícil imaginarmos um pouco do jovem Spielberg ou do jovem Abrams na pele destes miúdos obcecados pela Sétima Arte, trazendo um elemento de curiosidade sempre agradável para uma obra cheia de simbolismos ocultos. Uma obra que, apesar de tudo, não é perfeita, nem está imune a críticas. É verdade que, na íntegra, “Super 8” funciona e é agradável de se ver. Mas a meia hora final deixa um pouco a desejar, relegando demasiada responsabilidade para os ombros de miúdos com poucos recursos e fazendo dos adultos meras marionetas com cérebros pouco avançados. O efeito-surpresa que se pretendia para o final também não foi conseguido da melhor maneira, pois embora interessante e até mesmo relevante, acaba por não ser propriamente original. Já para não falar de um argumento com algumas pontas soltas e algumas sequências de credibilidade algo duvidosa.



No seu todo, porém, “Super 8” consegue afirmar-se como uma das obras mais interessantes de 2011, comprovando o talento de alguns jovens actores e o crescimento quase meteórico de um realizador deveras invulgar. Não é o portento que se imaginava que pudesse vir a ser, mas é certamente um dos melhores filmes deste Verão.


Classificação – 4 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. Concordo plenamente com a crítica. Tive o prazer de ver este filme no fim de semana passado. Sem dúvida um bom filme para este Verão, tal como o Rui refere, cria uma certa curiosidade e atenção por parte do espectador ao longo do desenrolar das cenas.

    Aconselho.

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