Crítica - Rise of the Planet of the Apes (2011)


Realizado por Rupert Wyatt
Com James Franco, Andy Serkis, Freida Pinto, John Lithgow

A obra original deste franchise (com Charlton Heston a encabeçar o elenco) estreou no longínquo ano de 1968 e depressa se tornou uma obra de culto. Depois de algumas sequelas menos bem-sucedidas na década de 70, foi a vez de Tim Burton reinventar esta peculiar história de ficção-científica, decorria o ano de 2001. A coisa também não correu lá muito bem, ficando para a História da Sétima Arte como um dos piores filmes do visionário realizador norte-americano. Dez anos mais tarde, surge agora uma nova tentativa de ressuscitar o franchise, desta vez sob a forma de prequela. De facto, mais do que as sequelas, as prequelas parecem ter invadido Hollywood nos últimos anos, dando novos significados aos termos reboot e remake. Parece que qualquer franchise que se preze não consegue escapar à prequela da praxe, com vista a uma nova saga e a um novo rol de muitos milhões de dólares. Depois de ainda há bem pouco tempo termos assistido ao renascimento da saga X-Men, assistimos agora à génese dos macacos falantes. E a verdade é que a prequela deste franchise de culto não embaraça os seus criadores originais, embora esteja uns furos abaixo daquela que se arquitectou para os mutantes da Marvel.


Will Rodman (James Franco) é um cientista brilhante que vive atormentado pelo contínuo definhar do pai (John Lithgow), fruto da doença de Alzheimer. Com o objectivo de encontrar uma cura para essa doença, Will trabalha sem parar no produto Alz – 112, um produto da sua invenção que promete mudar o mundo. Antes da testagem em humanos, Will e a sua equipa elaboram uma testagem exaustiva em chimpanzés. Dentro de poucos dias, vêem que o medicamento faz efeito, eliminando todos os sintomas da doença de Alzheimer. Porém, efeitos secundários que ninguém esperava manifestam-se igualmente: os primatas desenvolvem uma inteligência extraordinária, inteligência apenas comparada à dos humanos. Mas antes que se pudesse estudar este fenómeno a fundo, um incidente nas instalações laboratoriais faz com que todo o projecto seja cancelado, para grande pesar de Will e seus colaboradores. O presidente da empresa de engenharia genética ordena então o abate de todas as cobaias e todas são, de facto, abatidas. Bom… todas, menos uma. Caesar (interpretado por Andy Serkis através da tecnologia motion-capture, já utilizada em filmes como “The Lord of the Rings” ou “A Christmas Carol”) – um chimpanzé bebé – é adoptado em segredo por Will, que passa assim a observar o seu crescimento de bem perto, acabando por desenvolver uma relação de amizade bastante forte com o símio. No entanto, o que Will desconhece é que está a criar o futuro líder da revolução símia, uma revolução que irá mudar a face da Terra para todo o sempre…


Todas as prequelas possuem um sentimento de fatalismo que as torna deveras interessantes. O facto de o espectador já conhecer o que se vai passar no futuro permite-lhe observar todos os acontecimentos com outros olhos, formando-se uma certa aura de cumplicidade entre a tela e a audiência, que eleva as qualidades da obra em questão e encobre os seus defeitos. Temos exemplos disso no recente “X-Men: First Class”, com o espectador a prestar muito mais atenção à relação entre Charles Xavier e Erik Lehnsherr por saber que ambos se vão tornar arqui-inimigos. Temos isso também na segunda trilogia da saga Star Wars, onde acompanhamos o percurso de Anakin Skywalker com todo o cuidado por sabermos que ele está fadado a transformar-se no temível Darth Vader. E temo-lo igualmente neste “Rise of the Planet of the Apes”, onde assistimos ao desenvolvimento de Caesar com um olhar algo fatalista, já que sabemos perfeitamente aquilo que o futuro lhe reserva. De facto, é como se as prequelas entregassem um pouco do poder narrativo ao espectador. Este já sabe o que vai acontecer e, por causa disso, sente-se quase como se tivesse um papel activo no desenrolar da demanda que os seus olhos acompanham. Tal aura de fatalidade acaba por se afirmar como o ponto mais forte desta obra, já que capta a atenção da audiência por inteiro.


“Rise of the Planet of the Apes” não precisa de suar muito para se afirmar como uma obra de entretenimento puro e eficaz. Acima de qualquer outra coisa, é uma aventura à boa maneira de Hollywood, com efeitos especiais de topo (a equipa é a mesma de “Avatar” e esta é a primeira vez que o motion-capture é filmado em conjunto com os actores live-action e dentro de um set real, sem panos de fundo verdes ou azuis), uma banda-sonora de Patrick Doyle empolgante, interpretações suficientemente seguras para prender o espectador à cadeira e um desenvolvimento narrativo fluido e entusiasmante. A narrativa não tem pontos mortos e até há espaço para a transmissão de uma mensagem moralista sempre oportuna (embora já um pouco gasta). Tudo factores inerentes a um bom blockbuster de Hollywood, consumado a pensar numa faixa etária abrangente e num bolo de lucros gigantesco. O problema é que “Rise of the Planet of the Apes” sucumbe também a alguns dos defeitos inerentes a um grande blockbuster norte-americano. Algumas personagens (para não dizer quase todas) são unidimensionais, actuando de acordo com um molde pré-fabricado que não convence ninguém. Por vezes, o uso do CGI é excessivo e deparamo-nos com cenas algo ridículas que poderiam facilmente ser evitadas (como a do macaco a andar a cavalo…). E o próprio argumento encontra-se infestado de clichés que nos fazem pensar que já assistimos a estes eventos vezes e vezes sem conta. No fim de contas, sente-se que Rupert Wyatt tenta transmitir uma mensagem relevante, criticando o modo de actuar do ser humano prepotente e reflectindo sobre o lado mais negro da engenharia genética. Os macacos digitais são surpreendentes e toda a acção é filmada com senso de sobriedade e crescendo narrativo. Mas ao fim de 105 minutos de película sentimos que nada de novo foi realmente alcançado, relegando esta obra para o poço dos blockbusters competentes, mas relativamente vulgares.


Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. Muito boa a crítica, não vejo a hora de assistir.

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  2. Um cliché (inevitável) seria um efeito colateral para acentuar o lado animal do macaco César, mas isso NÃO acontece, deixando o filme com "síndrome de He-Man". Você assiste ao filme na esperança de que vai dar generosos corrisos ao término da projeção, e a única coisa que os lábios moldam é a representação de que "p***, fui enganado". Uma decepção em todos os sentidos. E uma ideia muito interessante que se perdeu, tendando, por mais uma vez, lançar um filme apenas para o violento público jovem.

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  3. Eu assisti e gostei muito.
    O pessoal que fez a crítica tem toda a razão, quanto à atençãor edobrada aos detalhes, qaundo a gente já sabe o desfecho. Eu, por exemplo, fiquei encantada com a evolução da espécie representada sutilmente. O macaco Ceasar ergue-se lentamente, passando a à posição ereta quando alcança alto grau de inteligência (há controvércias, quanto ao alto grau de inteligência associado à forma ereta.rsrsrsrs). Enfim, eu amei o filme. Muito bom mesmo e estou ansiosa pela continuação.
    Ah! Parabéns pela crítica. Quando crescer, quero ser assim.rs

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  4. Muito boa crítica! Um amigo disse-me que para ele foi um grande filme e então decidi vir ver a crítica... agora fiquei com curiosidade em ver o filme!

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