Eu, Hitchcockiano, Me Confesso de José Varregoso


Se há qualidade que aprecio num ser humano é a sua capacidade por se apaixonar e se dedicar persistentemente a esse afecto. José Varregoso é um homem apaixonado, apaixonado por cinema, apaixonado pelo cinema de Hitchcock em particular. Parece-me também, como ao autor, que nenhuma paixão gera frutos se não for partilhada. Haverá maior publicidade a um filme que ouvir falar dele a um admirador entusiasta?
Durante mais de três anos, José Varregoso, antropólogo de formação e cinéfilo de coração, partilhou com o leitor, no seu blogue, com uma regularidade religiosa e contagiante, considerações sobre os filmes do realizador. Sem pretensões de circunspecto e aborrecido crítico de cinema, José Varregoso optou antes por uma prosa muito agradável e um estilo confessional onde a par com informações relevantes sobre a filmografia de Hitchcock, a sua vida pessoal e o seu mundo, o autor abre o seu próprio universo interior e a sua visão da vida. São de facto confissões de um hitchcockiano assumido que lemos com o prazer de quem partilha o mesmo amor pela 7ª arte.
É de louvar a edição em livro deste minucioso trabalho, que sem repetições, apresentou ao leitor a cada post um novo tema e novas interrogações, não fosse o seu autor um amante do suspense. A obra é de uma extrema pertinência para os apreciadores do realizador e um oásis num tão pobre mercado de obras de divulgação de cinema como o português. Esta edição apresenta ainda documentos importantes como a filmografia detalhada e comentada de Alfred Joseph, como carinhosamente lhe chama, e ainda de todos os seus trabalhos para o cinema noutras funções bem como para a televisão. Para além disso facilita ao leitor a lista detalhada de todos os famosos cameos do realizador. Não posso deixar de concordar com o José Varregoso quando afirma “O Cinema é realmente uma manifestação de arte. Mas também um ponto de comunicação.” Partilha desinteressada de um amor que alimenta, Eu, Hitchcockiano, Me Confesso, publicado pela Chiado Editora em 2009 (328 pp.), tem apenas a apontar a ausência de um índice que facilitasse a consulta. Sim, porque esta é uma obra a ler, e reler.

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3 Comentários

  1. Gostei muito do livro, o autor tem um conhecimento profundo do universo de Hitchcock e transmite o seu saber e a sua paixão pela obra do cineasta numa escrita muito agradável.
    Luís

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  2. José Varregoso é provavelmente o admirador de Hitchcock português que mais sabe sobre ele. O livro vem no seguimento de um excelente blogue que funcionou como espaço de partilha de conhecimentos e reflexões. Este mesmo espírito descontraído encontra-se no livro em que os diversos aspectos da obra e vida pessoal de Hitchcock são comparados a aspectos e temáticas do dia-a-dia. «Eu Hitchcockiano Me Confesso» é de uma leitura muito acessível e interessante e de muita sensibilidade. Serve tanto para quem já conhece a obra de Hitchcock, como para quem só a começou a descobrir agora. Já faz parte da minha biblioteca pessoal e honestamente, espero que faça parte da biblioteca de muito mais gente.

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  3. Eu, Hitchcockiano, Me Confesso é mais do que apenas um livro sobre o realizador Alfred Joseph.
    O título indicia o óbvio: é um cinéfilo que o escreve (só isso permite chegar-se ao nível de Hitchcockiano, Alleniano ou Almodovariano) e trata-se igualmente de um amante da obra do realizador que oferece o seu nome ao título do livro.
    Para um leitor mais atento, Eu, Hitchcockiano, Me Confesso é também uma obra de filosofia. Por muito que não seja essa a sua intenção, o autor obriga-nos, amiúde, a pensar nos dilemas do quotidiano, na importância dos pormenores, e, em último caso, no misterioso sentido da vida.
    A grande vantagem de José Varregoso é fazê-lo de forma despretensiosa e sem qualquer tipo de paternalismo, permitindo, através da sua escrita enleante (o que é bem diferente de ser fácil ou leve), que nenhum detalhe apresentado sobre a obra de Alfred Hitchcock seja despiciendo.

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