Crítica - Beginners (2010)


Realizado por Mike Mills
Com Ewan McGregor, Christopher Plummer, Mélanie Laurent, Goran Visnjic

Agora que entramos na rentrée cinematográfica, filmes como este “Beginners” encontram finalmente o seu espaço entre as carradas de blockbusters estreados no pico do Verão. E que bem sabe assistir a algo substancialmente diferente, após longas semanas de muita testosterona e parca riqueza narrativa. Parcialmente autobiográfico, “Beginners” afirma-se como um filme algo melancólico e enigmático, uma daquelas obras bafejadas de significâncias ocultas, onde nem tudo precisa de ser dito ou explicado para que o espectador perceba aquilo que está a observar. Baseando-se no seu próprio historial de vida, o realizador Mike Mills constrói aqui uma história semi-trágica e cheia de significado, onde o que mais se destaca são as personagens e aquilo que as move. Este é um filme de actores por excelência. Através de uma realização humanista e de uma linha narrativa com ambições para além do box-office, Mills coloca o enfoque nos actores que tem em mãos, deixando-os florescer na tela com toda a liberdade do mundo. É certo que, a espaços, a narrativa beneficiaria com um pouco mais de genica por parte do realizador, que com os seus devaneios artísticos e simbólicos se arrisca a perder a atenção do espectador menos paciente. Mas esses devaneios acabam por surtir também um efeito de magnetismo no observador mais exigente, fazendo desta obra uma das mais curiosas e encantadoras fitas do ano.


Aqui se conta a história de Oliver (Ewan McGregor), um jovem que, inesperadamente, se vê a mãos com uma situação potencialmente destabilizadora: a “saída do armário” por parte de Hal (Christopher Plummer) – o seu pai septuagenário –, poucos meses após a morte de Georgia (Mary Page Keller) – sua mãe e esposa de Hal. Mais tarde surge também uma bomba desmoralizadora: Hal contrai um cancro e dispõe de pouco tempo de vida. Enquanto tenta oferecer ao pai um final de vida com todas as comodidades possíveis, Oliver começa então a desenvolver uma relação de proximidade que nunca havia tido com o seu progenitor. E quando Hal morre finalmente, Oliver sente-se mais sozinho do que nunca. Pelo menos até ao dia em que conhece Anna (Mélanie Laurent), uma descomplexada actriz francesa que, de imediato, demonstra interesse nos seus afectos. O problema é que, em virtude de uma infância pobre em carinho e em exemplos a seguir, Oliver não percebe grande coisa do amor, sentindo imensas dificuldades em manter uma relação sólida e estável com alguém. Mas Anna tem também os seus desacertos com o amor e com a solidão, razão pela qual não irá desistir de Oliver assim tão facilmente…


Conforme foi dito acima, as personagens e aquilo que as move é o factor mais importante (e, por conseguinte, aquele que mais se destaca) desta obra. Filmando-as com uma delicadeza e sobriedade admiráveis, Mills presta-se a reflectir sobre a solidão e a tristeza humana, para além da complicação em que os modernos relacionamentos amorosos se transformaram. Na era moderna, as certezas são escassas e ninguém parece saber ao certo como interagir com outra pessoa. Aqui formula-se a questão «Como funciona o amor?» ou «O que é isso de “amor”?». Não se trata, portanto, de um filme propriamente fácil. Não estamos a falar de uma comédia romântica com as respostas sempre na ponta da língua e uma promessa quase infantil de amor eterno. Apesar de doce e até mesmo encantador, “Beginners” adquire tons de uma soturnidade tão pungente quanto realista. E é aí que se encontra a sua força. Ao tratar de assuntos tão sérios de uma forma tão sóbria e humanista, “Beginners” depressa conquista um lugar no nosso coração, obrigando-nos a sorrir mas também a franzir o sobrolho de pura e dura reflexão. De resto, o elenco (com destaque maior para o veterano Christopher Plummer e a adorável Mélanie Laurent) trata de captar a atenção da audiência por inteiro, usando todo o seu carisma e genuinidade para compensar uma narrativa lenta e (a espaços) excessivamente repetitiva.


Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. Excelente filme. Foi refrescante assisti-lo , após essa enxurrada de comédias românticas enlatadas e clichetudas. Magnífica interpretação de Plummer, desde já um dos meus favoritos em coadjuvante nos Golden Globes ou Oscar. Acho que a tradução do título em português deveria se "Como seria o amor?" ficaria mais apropriado com o que se vê no filme

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