Crítica - Midnight in Paris (2011)

Realizado por Woody Allen
Com Owen Wilson, Rachel McAdams, Michael Sheen, Marion Cotillard

Qualquer estreia de um filme de Woody Allen é um evento cinematográfico que não se pode perder. Detentor de uma forma muito peculiar de contar histórias e, por conseguinte, inventor do seu próprio estilo de cinema, Woody Allen provoca esta sensação de obrigatoriedade na grande maioria dos cinéfilos. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Uma expressão que parece ter sido criada com o inconformista nova-iorquino em mente. Pois se à primeira vista se estranham os filmes de Allen, logo começamos a devorá-los sofregamente, como se a nossa vida dependesse disso. “Midnight in Paris” não é uma excepção à regra. Há quem diga que este filme marca o regresso do genial cineasta aos seus tempos de maior glória. Nós achamos que é uma obra repleta de magia e romantismo, aqui e ali com algumas tiradas cómicas bem típicas de Allen, mas ainda assim órfã daquela sombra trágica e espírito crítico que sempre estão presentes na sua cinematografia. Saímos da sala com a nítida sensação de que acabámos de assistir a algo mágico e fantástico; algo culturalmente relevante e repleto de uma beleza clássica. Mas saímos também com a sensação de que passámos por algo demasiado leve e inocente. Como se nos tivesse sido servida uma história de embalar quando todos estávamos à espera de um conto de terror. E se tal coisa cativa a atenção dos que mais apreciam o lado romântico do mago nova-iorquino, por outro lado decepciona aqueles que deliram com a sua visão do mundo infinitamente trágica e neurótica.



Gil Pender (Owen Wilson) é um argumentista norte-americano que parte para Paris com a sua noiva Inez (Rachel McAdams), com vista a alguns dias de relaxamento e diversão. Num jantar com os irritantes pais de Inez, o casal dá de caras com Paul (Michael Sheen) – um pedante com a mania que sabe de tudo – e Carol (Nina Arianda) – a esposa deste último. A partir dessa noite Inez faz questão de seguir Paul para todo o lado, algo que aborrece Gil sobremaneira, já que este não pode com a atitude permanentemente sobranceira do outro. Para não aborrecer a esposa, Gil decide então deixá-la sair com o casal de snobs enquanto opta por vaguear por uma Paris nocturna e quase onírica. Logo na primeira noite, em virtude de não conhecer a cidade e de estar com uns copos a mais, Gil perde-se. E é quando opta por se sentar numa viela para aclarar ideias que um táxi a morrer de velho pára mesmo em frente a si. Os ocupantes do táxi obrigam Gil a juntar-se-lhes na festa e é assim que o argumentista com aspirações a romancista se deixa viajar até ao passado, através de saltos temporais pela capital francesa que o levam a conhecer figuras tão ilustres da cultura mundial como Hemingway, Scott Fitzgerald, Picasso, Salvador Dalí, entre muitos outros. Sem saber bem como explicar o que lhe está a acontecer, Gil aproveita o contacto com a crème de la crème para conhecer novas paixões e descobrir sonhos ocultos.



Como facilmente se percebe pela sinopse apresentada, “Midnight in Paris” é um filme que jorra cultura por todos os poros. São inúmeras as figuras das artes internacionais (desde a escrita à pintura) que fazem aqui uma aparição. Woody Allen levou à letra a ideia de que Paris é a capital das artes e da cultura em geral, presenteando-nos com uma viagem intelectual que tanto nos ensina como nos obriga a rir às gargalhadas (a obsessão de Dalí por rinocerontes e o fascínio de Hemingway pelo boxe são de chorar a rir). A nível puramente estético e até musical, “Midnight in Paris” transforma-se portanto numa obra de altíssimo calibre, tão encantadora como memorável. Allen continua a dirigir actores com uma mestria ao alcance de muito poucos, deixando as personagens fluir pela narrativa com uma naturalidade estonteante, narrativa essa que (uma vez mais) põe a nu os dotes de escrita do grande cineasta nova-iorquino. Depois de uma fase mais negra e dramática com obras como “Match Point” e “Cassandra’s Dream” (curiosamente, ambas rodadas em Londres), Woody Allen parece ter visto em Paris o portal para regressar a contos mais leves e românticos, onde tudo deixa de ser trágico para se deixar assombrar por um céu de arco-íris. Infelizmente, isto faz com que “Midnight in Paris” não tenha tanta substância (crítica e narrativa) como outras obras recentes do realizador, ainda que não faltem as reflexões sobre a vida e as tiradas críticas tão ao seu jeito. Uma obra para apaixonados, não tanto para inconformistas.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Trabalho simpático de Allen, com destaque para a homenagem a algumas figuras fantásticas das cultura mundial, como Hemingway e Dali por exemplo.

    Abraço

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  2. Acho a pontuação francamente baixa...

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