Crítica - The Three Musketeers (2011)


Realizado por Paul W.S. Anderson
Com Logan Lerman, Matthew Macfadyen, Milla Jovovich, Orlando Bloom, Christoph Waltz

Verdade seja dita, bastou-me ver o nome de Paul W.S. Anderson no posto da realização para começar desde logo a desconfiar da qualidade deste filme, ainda ele se encontrava em fase de produção. Não tenho por hábito crucificar obras sem primeiro lhes conferir uma merecida oportunidade e a prova disso mesmo é que nem assim desisti da ideia de ver esta nova versão do clássico de Alexandre Dumas no cinema. Entrei na sala com vontade de ser surpreendido e, mais do que tudo, com a esperança de que Anderson se redimisse dos pecados antigos. Pois convenhamos, a fábula dos famosos três mosqueteiros possui muito mais sumo narrativo do que qualquer Resident Evil ou Mortal Kombat (dois dos empreendimentos cinematográficos por que Anderson mais ficou conhecido), oferecendo ao realizador britânico a oportunidade única de fazer alguma coisa de jeito. Mas o problema é que Anderson será sempre Anderson, razão pela qual não deixei que as minhas esperanças se elevassem demasiado. Terminada a sessão, a verdade é que este “The Three Musketeers” não é tão parvo quanto cheguei a temer que fosse. Pelo menos não há ninjas a saltar de prédios com armas de fogo futuristas e mesmo os planos de slow motion não estão presentes de cinco em cinco minutos, deixando a aventura respirar com alguma naturalidade. No fim de contas, é justo dizer que estamos perante um filme que se vê com algum agrado, podendo afirmar-se como um guilty pleasure quase instantâneo. Todavia, o grande problema é que estamos também perante uma obra que se perde a meio caminho, cometendo um descarado suicídio a partir do momento em que opta por inserir algo de excêntrico (para não dizer absurdo) na narrativa clássica de Dumas.


Agindo como uma espécie de agentes secretos da França de Louis XIII (Freddie Fox), os lendários mosqueteiros Athos (Matthew Macfadyen), Aramis (Luke Evans) e Porthos (Ray Stevenson) viajam até Veneza com a bela e matreira Milady de Winter (Milla Jovovich) para resgatar pergaminhos secretos de Leonardo Da Vinci, que contêm as instruções para construir a arma de batalha mais poderosa do mundo: um potente e futurista dirigível aéreo. A missão corre-lhes da melhor forma, mas nem tudo acaba como seria suposto e desejável. Inesperadamente, Milady atraiçoa os companheiros de aventura, deixando-os à mercê do pérfido e inquietante Duque de Buckingham (Orlando Bloom), a quem entrega os documentos roubados. Três anos mais tarde, os três mosqueteiros foram dispensados da guarda real e vivem os dias a afagar as mágoas no álcool e nas mulheres. A vida outrora gloriosa não mais lhes sorri, relegando-os para uma existência apática e sem a chama de outros tempos. Pelo menos até à chegada do jovem e imprudente D’Artagnan (Logan Lerman), um puto cheio de talento para a esgrima e com uma queda enorme para arranjar sarilhos. Logo no primeiro dia de contacto, Athos, Aramis e Porthos vêem-se obrigados a lutar a lado de D’Artagnan contra as tropas de Rochefort (Mads Mikkelsen) leais a Richelieu (Christoph Waltz), o clérigo que praticamente rege o reino francês. Inimigos tornados aliados, os três mosqueteiros e o vivaço aspirante a soldado do Rei depressa descobrem uma conspiração para usurpar o trono de Louis XIII, conspiração encabeçada por Richelieu, pela Milady de Winter e pelo próprio Duque de Buckingham. E como tal, os quatro esgrimistas não hesitam em embarcar numa aventura que os levará a enfrentar os mais perigosos e mortais dos adversários.


Contrariando aquilo que se pudesse pensar, os primeiros 30 ou 40 minutos da película são de excelência. Recorrendo a truques de animação digital cheios de pinta, a sequências de acção cheias de garra e a uma introdução das personagens tão original quanto frenética, Paul W.S. Anderson consegue captar a atenção do espectador por inteiro, fazendo-o vibrar com os primeiros duelos e rir às gargalhadas com os primeiros contratempos. A coisa estava a começar bem e nós cá estávamos a ficar bastante admirados com a destreza de Anderson e de todo o elenco. Mas foi então que me lembrei de um dos piores defeitos do realizador britânico: geralmente ele até filma com muito estilo, mas acaba sempre por não ter pulso na narrativa, deixando-a afogar-se à medida que a película se desenrola. Ainda cheguei a pensar que “The Three Musketeers”, pela forma como estava a decorrer, pudesse revelar-se um ponto de viragem no modus operandi do realizador. Mas não. Infelizmente, não. Tal como em algumas das suas obras anteriores, a história acaba por se perder completamente em tanta explosão megalomaníaca, deixando as personagens entregues à bicharada e o espectador num estado de alma cada vez mais desencantado. Curiosamente, é a partir do momento em que o dirigível do Duque de Buckingham entra em acção que “The Three Musketeers” começa a desfazer-se em bocados. Como se o próprio bom senso da narrativa tirasse os pés do chão e voasse para bem longe na companhia do dirigível, a partir desse momento é sempre a cair no que à qualidade da película diz respeito, começando os actores a entrar em piloto automático e as suas personagens a perder o carisma previamente conquistado. Só para dar alguns exemplos, Logan Lerman que tão bem tinha iniciado a sua aventura transforma-se num D’Artagnan demasiado infantil e aborrecido, Christoph Waltz nunca chega a deslumbrar verdadeiramente, James Corden e o seu Planchet (que só parece existir para cumprir a função de comic relief) perdem a piada toda de forma escandalosa, e Gabriella Wilde (que interpreta Constance, a namoradinha de D’Artagnan) não revela um pingo de talento para a representação, afirmando-se como um claríssimo erro de casting.


A certa altura, parece que deixámos de ver “The Three Musketeers” e entrámos na sala de “Pirates of the Caribbean”. Os confrontos entre dirigíveis mais fazem lembrar as batalhas entre navios dos piratas mais famosos de Hollywood, encaixando-se de forma muito pobre e claramente forçada neste mundo clássico e pouco dado a modernices dos nobres mosqueteiros. Tal aposta neste tipo de aventura com toques de futurismo saiu completamente furada, portanto, pois é precisamente isso que acaba por destruir qualquer hipótese de sucesso de uma obra que até demonstra algum valor. Para além de tudo isto, a narrativa não apresenta uma estrutura de princípio, meio e fim bem definida, terminando a aventura quando julgamos que ela ainda vai a meio. Como não podia deixar de ser, lá nos deparamos com um final em aberto para uma inevitável sequela, mesmo que tal final não esteja propriamente de acordo com os princípios da credibilidade… Enfim, por entre tanto tiro ao lado salvam-se cenários absolutamente deslumbrantes, um guarda-roupa repleto de cor e de detalhes deliciosos, e uma banda-sonora que puxa pelo lado heróico das personagens de uma forma bastante aprazível. Como consequência disto, não me admiraria nada que este “The Three Musketeers” conquistasse nomeações para os Óscares de Direcção Artística e Guarda-Roupa. Só é, de facto, uma pena que outros aspectos da película não estejam igualmente à altura da ocasião. Ainda não foi desta que Paul W.S. Anderson me convenceu. Mas vá lá, pelo menos desta vez já esteve mais próximo de o fazer.

Classificação – 2,5 Estrelas Em 5

Enviar um comentário

7 Comentários

  1. devem estar a brincar. the tree of life 3 estrelas e esta porcaria é tam bom quanto a maior obra do ano. para mim isto deixou de ser um espaço de cinema.

    ResponderEliminar
  2. Concordo em grande escala com os aspectos analisados nesta crítica.
    Reforço o mau desempenho do elenco, principalmente do trio de vilões, revelando pouco carisma nos respectivos papeis, quando precisamente o contrário se impunha e se esperava, quando se viu, por exemplo, Christoph Waltz..ou a personagem de Louis XIII forçosamente ingénua...
    Uma narrativa algo desconexa, que apressa alguns momentos relevantes para a reconstrução da narrativa original, para dar lugar às sucessivas explosões e cenas de acção e luta. já Na maioria destas cenas de luta e duelos, notou-se acima de tudo vários erros técnicos, que facilmente nos levam a classificá-las de irrealistas..

    Saliento, sem dúvida, o guarda-roupa e os deslumbrantes cenários da corte francesa do séc XVII e da torre de Londres captados; poucos elementos positivos, no entanto, numa obra que se assume como uma versão Hollywoodesca básica do clássico de Alexandre dumas que serve para entreter.....

    Boa Reflexão!

    ResponderEliminar
  3. Caro Anónimo,

    Se dei 3 estrelas a "The Tree of Life" e 2,5 estrelas a este "The Three Musketeers" é porque este último NÃO é tão bom como o filme de Terrence Malick. De qualquer forma são obras completamente diferentes, pelo que não podem ser directamente comparadas. Para além do mais, quando se atribui a classificação a um filme não se pode estar a pensar em todas as classificações que se deu anteriormente. Se o fizéssemos, rapidamente ficariamos encravados, como facilmente compreenderá. Ao analisar um filme, tento analisar todas as suas componentes. E apesar de "The Tree of Life" ser melhor que "The Three Musketeers", este filme de Paul WS Anderson apresenta também alguns factores positivos que justificam os 2,5 valores. Para terminar, convém referir que a classificação é o que menos importa numa crítica cinematográfica. O que realmente importa é o texto e as explicações que nele se encontram. Se ler o texto com atenção decerto não ficará assim tão revoltado.

    Cumprimentos,
    Rui Madureira

    ResponderEliminar
  4. caro rui. peço desculpa por nao me identificar pela minha ignorancia de nao conseguir seleccionar nenhum perfil uma vez que sou um leigo em novas tecnologias. ze_manation@hotmail.com edgar pinto.
    quanto as classificaçoes discordo completamente uma vez que na classificaçao se qualifica um filme na sua globalidade geral, e nas explicaçoes se indivudualiza pontos bons ou menos bons que de alguma forma se refere a situaçoes concretas que podem levar á valorizaçao ou desvalor de certas e determinadas permissas. é claro que se nao fizermos uma comparaçao com outras classificaçoes nao podemos ter um poonto delimitativo do que realmente interressa e nao presta. é certo que sao filmes completamente diferentes um é para espetaculo o outro para reflexao. ou existem varios criticos neste espaço ou algo de mal vai por este espaço. é preciso desfragmentar varios generos cinematograficos agora nao coloquemn tudo no mesmo saco. respeito a sua opiniao mas acho que o portal cimema deveria chamar-se portal blockbuster. ja fiz muitas comparaçoes de varia criticas do portal cinema do mesmo genero e reparei que nao existe coerencia em fimes que os grandes criticos consideram um filme uma obra de arte e aqui é simplesmente riducularizado. com os melhores cumprimentos. me retiro cordialmente.

    ResponderEliminar
  5. Caro Edgar,

    Note que se o Portal Cinema se chamasse Portal Blockbuster, não encontraria aqui críticas ao The Tree of Life ou ao mais recente The Troll Hunter. Não puxamos pelo blockbuster nem pelo cinema independente (como aliás ficou bem explícito na crónica "Film Wars" que escrevi este fim de semana). A única coisa a que damos atenção é à actualidade. Nós analisamos os filmes que estreiam nas nossas salas, ponto final. Se as distribuidoras nacionais apostam muito mais no cinema comercial, a culpa não é nossa.
    Pouco nos importa o que os grandes críticos dizem acerca de um ou outro filme. Como decerto compreenderá, aquilo que escrevemos reflecte a nossa opinião pessoal, podendo ela não ir de encontro ao que a maioria pensa sem qualquer tipo de problema. Já aqui enaltecemos tanto blockbusters como filmes independentes. Eu pessoalmente não concordo com essa visão de que só o cinema independente deve ser apreciado, mas não é por isso que deixo de respeitar esse mesmo tipo de cinema.
    Quanto à questão do que é mais importante numa crítica, se o texto se a classificação geral, aí discordamos completamente e não há nada a fazer.

    Cumprimentos,
    Rui

    ResponderEliminar
  6. caro rui. entendo a sua posiçao enquanto colaborador do portal cinema como tambem entendo que haja poucas pessoas preocupadas com a ctual situaçao do cinema independente. como sabe grande parte da maioria do cinema independente nao tem uma estrategia de ,markting e é isso que me deixa triste de saber que é esquecido esse cinema. acha que de tree of life é cinema independente? e o cinema portugues? esquecido completamente. entendo a vossa preocupaçao na venda de um produto e reconheco muito merito a este espaço pela divulgaçao de cinema mais classico. como sou uma pessoa preocupada com o actual situaçao cinematografica interessa-me que todas a s pessoas que tem interesse pela 7 arte tenham uma formaçao atraves destes espaços de forma pedagogica. mas isto é a minha maneira de ver as coisas . sei que sou de uma minoria e que nao é de cinefilos como eu que o vosso espaço ganha o pão. nunca ouvi aqui falar de um truffaut, drayer, fassbinder, melville, breson, abel gance, fritz lang, entre muitos esseciais para que se possa entender cinema. na verdade eu começei ao contrario por blockbusters por isso a minha preocupaçao pelo resto dos leitores. continuem com o trabalho bom ou mal voçes o fazem e nos dias de hoje é de enaltecer.

    cumprimentos
    edgar

    ResponderEliminar
  7. Só pretendo ver o "The Three Musketeers" hoje, e por isso mesmo resolvi ver a crítica antes de o fazer! Talvez todo este problema de classificação (que me parece ser o ponto discordante aqui) se deva a pequena escala que o portal de cinema usa (0 a 5 estrelas). Ainda não vi o filme e por isso não me vou pronunciar a respeito da qualidade ou não do mesmo, simplesmente achei que talvez seja este o motivo do grande alarido! Como a escala vai só até 5, automaticamente reduz o campo de classificação de qualquer filme, onde 0.5 ponto é realmente considerável!

    ResponderEliminar

//]]>