Crítica - In Time (2011)


Realizado por Andrew Niccol
Com Justin Timberlake, Amanda Seyfried, Cillian Murphy, Vincent Kartheiser

O trailer de “In Time” mostrou-nos que podíamos estar aqui perante uma obra bastante interessante. Esse preview de escassos minutos dava-nos a conhecer um mundo alternativo, onde os seres humanos não envelheciam para lá dos 25 anos de idade e onde o dinheiro fora substituído por uma espécie de relógio genético que determinava o futuro de seres que apenas aparentavam serem imortais. Muita coisa podia ser explorada num universo desta natureza. Questões filosóficas, existenciais e mesmo pedagógicas tinham aqui a oportunidade de se expandir até ao findar do horizonte, transformando este “In Time” numa espécie de parente afastado de “The Matrix”. Tal potencial depressa suscitou uma curiosidade natural, embora algo fizesse crer que a quarta obra enquanto realizador de Andrew Niccol poderia não estar à altura das expectativas. Infelizmente, algo que acabou por se comprovar, já que “In Time” desabrocha na tela como um produto de entretenimento razoavelmente competente, mas gritantemente inconsequente, inverosímil e até mesmo previsível.



Will Salas (Justin Timberlake) é um jovem de 28 anos (na idade real) que vive na zona de tempo (uma espécie de distrito) mais pobre e limitada do universo que nos é apresentado. Habituado a correr pela vida graças a um relógio genético que nunca lhe oferece mais do que algumas horas de sobrevivência, Will é trabalhador, esforçado, humilde e realista. O seu modo de vida não o deixa propriamente satisfeito, já que a janela de tempo limitada que possui não lhe permite viver a vida ao máximo e com a tranquilidade desejada. Mas tal como todos os habitantes daquela zona de tempo, Will acaba por se habituar ao destino que lhe foi reservado, correndo pelas ruas com uma naturalidade desconcertante. Porém, tudo se altera quando ele conhece Henry Hamilton (Matt Bomer) numa noite de copos, um homem com mais de 100 anos de idade e com uma parcela de tempo no relógio genético que lhe permitiria viver mais um bom século. Pouco habituado a travar conhecimentos com pessoas tão abastadas, Will fica chocado e decide ajudar o homem a escapar de um gangue sem escrúpulos. E a partir daí a sua vida muda por completo, pois farto de viver uma existência sem grande significado, Henry decide oferecer-lhe quase a totalidade do seu tempo de vida como recompensa. Como seria de esperar, Henry morre e Will passa a andar pelas ruas do bairro com mais de 100 anos de vida impressos no seu braço esquerdo. Tal coisa chama a atenção das autoridades, que de imediato assumem que Will terá roubado o tempo de vida a Henry. E assim se dá início a uma luta contra o tempo, enquanto Will parte para a zona de tempo mais abastada em busca de uma vida melhor e um vigilante de tempo chamado Raymond Leon (Cillian Murphy) faz de tudo para que ele não dê cabo do sistema “financeiro” com o seu presente caído dos céus.



De certa forma, “In Time” faz lembrar “The Adjustment Bureau”, com Matt Damon e Emily Blunt nos principais papéis. Não que as narrativas de ambos sejam demasiado semelhantes, pois não o são. De facto, pouco têm a ver uma com a outra. Mas tanto num filme como noutro ficamos com a sensação de que o potencial da ideia arquitectada não atinge o seu expoente máximo, relegando estas obras para um nível de mediania perfeitamente evitável. Especialmente no que a este “In Time” diz respeito, o conceito por detrás da história é muito interessante e a mensagem que esta tenta transmitir é mais do que pertinente. O problema é que, muito por culpa de um conjunto de personagens unidimensionais e uma realização algo preguiçosa, tudo acaba por desaguar numa panóplia de lugares-comuns nada convincentes e perfeitamente inconsequentes. Uma das coisas que mais danifica a credibilidade de uma película é a sensação de que esta não aproveita todo o potencial que, à partida, teria. A ideia dos argumentistas é boa e suficientemente original para despertar o interesse dos espectadores. Mas uma passagem do papel para película em movimento nunca é fácil de atingir com o sucesso que se pretende. E quando, algures nessa passagem, tantas pontas soltas ficam por explicar e tantas falhas técnicas saltam à vista, normalmente isso é indício de que algo correu terrivelmente mal durante o período de filmagens ou de montagem final.



Ao longo da narrativa, múltiplos pormenores erróneos saltam à vista, o que apenas descredibiliza o projecto em questão porque põe a nu as deficiências e as fragilidades do fio narrativo. De facto, “In Time” apresenta uma consistência narrativa muito pobre, dando a ideia de que o conceito de base não foi suficientemente trabalhado para atingir a solidez que se exigia. A explicação de como os relógios genéticos apareceram nos braços das pessoas é descartada por completo com a ajuda da personagem de Timberlake, que logo no início se encarrega de dizer que não sabe como tudo isto começou porque nunca ninguém lhe forneceu tal informação. Isto cheira a facilitismo gritante, mas ainda se pode admitir, até porque em obras desta natureza nem tudo tem de ser explicado ao mais ínfimo pormenor. Contudo, muitas são as falhas e as faltas de informação deste género que ocorrem ao longo do filme, retirando-lhe inúmeros pontos de credibilidade narrativa. O argumento (ou terá sido Niccol?) também não trabalhou as personagens como devia, já que todas são unidimensionais e mais previsíveis que um calhau a tombar de uma montanha. Para além disso, são também muito pouco credíveis, com especial destaque para o duo protagonista. Will Salas, por exemplo, despacha guarda-costas como se tivesse treinado para ser um marine do exército. E para alguém que foi criado num universo sobejamente snob e elitista, Sylvia Weis (a personagem de Amanda Seyfried) aceita a sua mudança de condição social com uma facilidade demasiado admirável. Em suma, “In Time” dificilmente será mais do que um produto de entretenimento fácil de digerir. E Justin Timberlake, apesar de ainda não se ter afirmado como um actor extraordinário, já nos presenteou com melhores performances num passado bem recente.

Classificação – 2,5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. As nossas opiniões coincidem.
    http://cronicasdavida.blogspot.com/2011/12/time.html

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  2. "sensação de que o potencial da ideia arquitectada não atinge o seu expoente máximo, relegando estas obras para um nível de mediania" concordo totalmemte.

    Rui continue o bom trabalho.

    cumprimentos

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  3. "Will parte para a zona de tempo mais abastada em busca de uma vida melhor "

    Acho nos não vimos o mesmo filme...

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