Espaço Portugal – Um Amor de Perdição (2008)


Realizado por Mário Barroso
Com Tomás Alves, Catarina Wallenstein, Ana Padrão

Na tradição da recriação no grande ecrã de obras fundamentais da literatura portuguesa, tradição essa que remonta aos primórdios do cinema feito em Portugal, Um Amor de Perdição é uma versão livre do romance Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, adaptado por Carlos Saboga aos nossos dias.
Esta obra, que nos faz lembrar com frequência Romeu + Juliet (1998), enraiza-se nas adaptações anteriores (lembro a de António Lopes Ribeiro e a de Manoel de Oliveira, por exemplo) inserindo-a no contexto de uma Lisboa burguesa do século XXI. De acordo com o realizador a procura não foi a de recriar um amor quase mítico mas antes a de explorar o carácter obstinado, inconformista e rebelde de Simão Botelho (Tomás Alves). No entanto, parece-me que, por um lado, a obra exige o conhecimento do texto de Camilo, o que é fácil dentro de Portugal uma vez que se trata de uma obra de leitura obrigatória nos currículos escolares, mas que se torna mais inacessível no mercado internacional. Este romance é, de resto, a referência permanente dentro do filme através da leitura que os jovens, Simão, Mariana e Rita dele fazem. Por outro lado, encaro como uma debilidade a centralização do ponto de vista na narradora, Rita Botelho, (Patrícia Franco, em voz off Beatriz Batarda), irmã mais nova de Simão, que vai conduzindo o espectador e interpretando os factos à medida que se desenrolam, apesar de ser dada liberdade para outras leituras, como o nunca assumido incesto de Perpétua (Ana Padrão).


Brilham a banda sonora fantástica de Bernardo Sasseti, as interpretações fortes de Tomás Alves e Catarina Wallenstein, principalmente a desta última, e o ritmo consistente imposto pela câmara de Mário Barroso. Ainda assim o argumento surge-me pouco coerente com os dias de hoje, com momentos e personagens impostas à força como a do empregado negro Zé Xavier (Willion Brandão) ou a obrigação do matrimónio de Teresa para o qual parece não haver qualquer alternativa. Apesar destas considerações, Um Amor de Perdição é um filme consistente e um sinal de vitalidade da cinematografia nacional. A obra foi a proposta portuguesa desse ano ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

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