Pérolas Indie - Evil (2003)

Realizado por Mikael Håfström 
Com Andreas Wilson, Henrik Lundström, Gustaf Skarsgård 
Género – Thriller/ Drama 

Sinopse - A vida de Erik (Andreas Wilson), um jovem problemático de dezasseis anos, está manchada de violência e conflitos. Quando é expulso da escola, é enviado para um colégio interno como uma última oportunidade para se libertar do seu círculo vicioso e continuar os estudos. Mas o colégio é tudo menos um refúgio, porque aqui o mal está sistematizado sob a forma da opressão imposta aos estudantes mais novos pelos mais velhos. Conseguirá Erik manter a dignidade sem ser arrastado na espiral de violência que está a ameaçar o seu futuro? 

Crítica – A carreira internacional de Mikael Håfström levantou voo por causa deste intenso “Evil”/ “Ondskan”, um brilhante thriller dramático que nos brinda com uma análise diferente e extrema ao bullying e à força dos nossos demónios internos. O fato de ter estado entre os cinco nomeados finais ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro da 76ª Edição dos Óscares prova, sem margem para dúvidas, que este filme sueco tem qualidade e que não é apenas mais uma obra cheia de melodramas sobre os efeitos da humilhação escolar. Uma boa parte do seu valor deriva do seu habilmente estruturado e contextualizados enredo, que não é tão violento como parece mas é bastante revoltante, porque aborda sem rodeios uma forma extrema de bullying e degradação humana, no entanto, se não fosse assim tão direto e árduo, não seria tão cativante. A história de “Evil” leva-nos então numa impressionante viagem até ao complicado mundo privado de Erik, um estudante que se tornou num jovem rebelde, violento e antissocial por causa da difícil relação que tem com o seu abusivo padrasto. A estas dificuldades familiares somam-se as inúmeras contrariedades que tem que enfrentar na sua nova escola, onde a ordem é estabelecida pelos alunos mais velhos que não hesitam em humilhar os novatos e os deslocados para se divertirem e manterem intato o seu estatuto de líderes. É claro que uma pessoa tão fria e violenta como Erik não aceita este estranho sistema social da escola nem acata nenhuma das ordens dos mais velhos, no entanto, esta sua atitude desafiante não lhe traz nenhuma imunidade e não cai nada bem entre os líderes estudantis, que o tornam de imediato no alvo central da sua fúria e rancor que se traduz em partidas degradantes e violentos ataques contra a sua integridade física, ataques esses que são ignorados e tacitamente aprovados pelos diretores da escola e que eventualmente se alastram ao seu grande amigo e a uma jovem empregada por quem nutre um forte carinho. As constantes e humilhantes torturas a que é sujeito deixam-lhe profundas marcas psicológicas, mas acabam também por torná-lo num homem mentalmente maduro e forte que, após uma série de intensos e traumáticos eventos, adquire finalmente a coragem necessária para fazer frente a todos os seus abusadores, onde se incluem os diretores da escola, o líder dos estudantes que o torturam e o seu violento padrasto. Este final ilustra o último momento da evolução mental de Erik, um jovem que no início do filme era submisso à sua família e tinha uma atitude desafiante e descontraída perante a vida, mas que acaba por amadurecer e por se transformar num homem decente com grandes ambições profissionais. Este final não enaltece o bullying nem o classifica como uma atitude positiva que, neste caso concreto, ajudou este jovem a crescer e a amadurecer, muito pelo contrário, encoraja-nos a agir como o protagonista e a não ceder aos ataques de que somos alvo ou ignorar as humilhações que afetam os nossos amigos, porque a indiferença e a inatividade só aumentam o vazio e a maldade que vive em nós e que acabam por abafar a nossa verdadeira natureza que, no caso do interveniente central, é finalmente revelada quando decide por fim à cultura de medo que se estabeleceu na sua escola e na sua própria casa. A realização de Mikael Håfström é tão direta e envolvente como o enredo deste filme, que beneficia ainda dos interessantes trabalhos dos jovens Andreas Wilson e Gustaf Skarsgård, que interpretam respetivamente o herói e o vilão desta elucidativa obra. Eu considero que "Evil” é mais um grande exemplo da enorme qualidade da sétima arte sueca, que nos últimos anos nos brindou com filmes modernos e de alto calibre como a “Trilogia Millenium” ou “Let The Right One In”, que não ficam nada "à frente" desta grande obra de Mikael Håfström, que para mim é o seu melhor filme até à data. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

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