Crítica - Looper (2012)

Realizado por Rian Johnson 
Com Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt 

 A crítica norte-americana gostou de “Looper” e encheu-o por isso de rasgados elogios que genericamente até se podem aceitar mas que, a meu ver, chegam a ser um pouco exagerados em alguns casos porque, apesar de ser um bom filme de ação/ ficção científica, não estamos a falar de uma obra-prima do género que mereça ser destacado como um dos filmes sensação deste ano, muito embora tenha mais pontos positivos que negativos. Entre as suas evidentes mais-valias destacam-se o seu intenso e curioso enredo, o seu moderno e refinado visual e o admirável trabalho de Joseph Gordon-Levitt, um dos jovens atores mais promissores da atualidade que nos brinda com uma intensa atuação como Joe, um jovem e despreocupado looper, ou seja, um assassino profissional que trabalha para a máfia mas que só mata pessoas que os senhores do crime do futuro enviam para o passado para serem eliminados sem deixar nenhum vestígio. Este trabalho rende-lhe muito dinheiro e a vida corre-lhe por isso muito bem, mas tudo isto se altera quando a máfia decide "fechar o ciclo" e envia-lhe um novo alvo - a sua versão do futuro (Bruce Willis), que parece ter uma agenda secreta que vai complicar ainda mais a vida a Joe, que subitamente se torna num alvo a abater.


Eu consigo encontrar vários pontos de interesse neste “Looper” e consigo por isso perceber porque é que tem sido tão elogiado pela imprensa global, mas encontro também algumas falhas e fatores que não fazem muito sentido e que não têm sido muito referenciadas pela crítica especializada, algo que me faz alguma confusão porque estes pontos negativos afetam claramente o nível global desta obra que, no meu entender, poderia ser ainda mais interessante do que é. Para um filme de ação, “Looper” até tem um argumento bem estruturado que explica uma boa parte dos pormenores da trama ao espectador e que se preocupa em contextualizar o passado das personagens e os principais eventos do filme, algo raro para um filme deste género, mas, apesar de ter uma construção ativa e informativa, não se pode dizer que tenha uma qualidade fora do normal porque, entre os seus evidentes méritos, escondem-se alguns elementos que não fazem sentido e algumas partes que mereciam uma abordagem um pouco diferente, nomeadamente aquela onde o jovem Joe (Joseph Gordon-Levitt) entra em contato com o seu lado sentimental, familiar e altruísta graças à sua extensa interação com Sara (Emily Blunt) e Cid (Pierce Gagnon). Eu entendo que esta interação entre estes três intervenientes é importante para justificar a conclusão do filme e para nos mostrar o lado humano do perigoso mas compressivo assassino, mas a sua construtura retira alguma adrenalina ao filme e acaba por conferir um excessivo grau de sentimentalismo a uma obra que não precisava de apelar de uma forma tão agressiva às emoções do espetador. O vínculo melodramático iniciado e estabelecido por esta parte acaba por influenciar a conclusão que, apesar de ser surpreendente e de ser amplamente justificada, não é tão extravagante como seria de esperar de um filme que envolve viagens no tempo e mutações genéticas que são, por sinal, uma das coisas mais ridículas e desnecessárias deste filme. As viagens no tempo são uma mais-valia porque são exploradas de uma forma compressível e inteligente, mas as mutações são atabalhoadamente introduzidas e abordas, acabando mesmo por retirar alguma integridade ao filme. É verdade que as mutações conferem um maior tom de ameaça ao grande vilão do futuro, mas “Looper” não precisava disto para se destacar ou para ser mais intenso. Eu também acho que este filme seria muito mais apelativo se tivesse apostado mais na interação direta entre a versão do passado e do futuro da personagem principal, afinal de contas o confronto entra estas duas versões é uma das coisas que mais aumenta a nossa curiosidade e interesse pelo filme, mas infelizmente Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt só contracenam em duas ou três cenas.


Estes defeitos são amenizados e disfarçados por vários elementos de qualidade como a já referida preocupação do argumento pela contextualização e esclarecimento da intriga, mas também a aposta em alucinantes lutas/ tiroteios e num trama equilibrada e apelativa mas sem grandes exageros ou estereótipos. É também importante referir que o enredo de “Looper” tem uma forte camada psicológica e sociológica que se encontra entranhada no ambiente sombrio e criminal dos cenários, nas interações entre os intervenientes e nas suas ações durante o filme. A juntar a estes componentes de qualidade temos também a presença de algumas cenas de humor que ajudam a suavizar o ambiente e a surpreendente qualidade das vertentes técnica e estética de “Looper”. Eu continuo a achar que é um bocado estranho ver Joseph Gordon-Levitt com as feições de Bruce Willis, mas percebo que estas modificações estéticas são bastante úteis porque acabam por conferir um pouco mais de credibilidade ao filme. Os cenários e as lutas também têm na sua base bons efeitos visuais. O elenco de “Looper” também não é nada de se deitar fora. A sua grande estrela é o jovem e promissor Joseph-Gordon Levitt, que nos brinda com mais uma grande performance num filme comercial mas bastante difícil. A outra estrela do filme, Bruce Willis, não tem uma performance tão boa porque não tem muito tempo de antena, mas o seu desempenho até é largamente superior aos que teve em alguns filmes recentes. O elenco secundário é dominado pela maléfica performance de Jeff Daniels como Abe, o grande vilão visível desta produção, e pelos razoáveis trabalhos de Paul Dano e Noah Segan. As grandes desilusões do elenco prendem-se com as insossas performances de Emily Blunt e Piper Perabo, que tinham potencial para nos oferecer algo melhor. Em suma, “Looper" é sem dúvida um dos melhores filmes de ação deste final de ano, mas esperava um pouco mais de uma obra que tem sido tão aclamada pela crítica internacional e que, no final do dia, não passa de uma boa produção sem nenhum grau de espetacularidade. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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9 Comentários

  1. Concordo plenamente com a crítica, fui a ante.estreia do filme na quarta feira no alvaláxia e apesar de ser sim um bom filme, fiquei um pouco desiludido porque tinha visto críticas a dizer que era o matrix deste tempo e que era isto e aquilo, e para mim não passa de um bom filme nada mais. Não vai ser um filme que agente vá recordar daqui a 1 ou 2 anos.
    Dou nota 3,5 também.
    Tiago Pereira

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  2. Gosto e concordo quase sempre com as criticas da equipa de críticos do portalcinema mas desta vez não o posso fazer, pois apesar de entrar em concordância com alguns aspectos da analise a cima feita ao filme, sobre o ponto em que se diz que não passa de um bom filme de acção discordo por inteiro pois e apesar de não abundar de efeitos especiais este vive bem sem isso, tendo como ponto forte um estilo de filme de ficção cientifica sem efeitos exagerados mas com o tema em si bem explorado... sobre o efeito da levitação tinha que ser inserido se calhar de um modo mais aprofundado e mais bem explorado mas tinha que ser inserido para que se percebesse como o fazer de chuva controla-se as grandes cidades no futuro sozinho sem isso iria ficar um buraco ainda mais no filme que assim diga-mos que foi mal alcatroado mas que pelo menos foi tapado.
    Por fim dizer que quem esta a espera de um matrix esqueça mas quem quiser ver um filme com uma boa historia e com uma trama relativamente original dentro do género é de ir ao cinema de cabeça limpa tanto de notas como de criticas internacionais e divertir-se e deixar-se surpreender pois o filme a meu ver esta a cima de outros filmes que ja foram aqui classificados com 3.5 estrelas.

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  3. Concordo que o tema das mutações genéticas era escusado, pois aparece quase do nada e acaba por transformar o filme numa espécie de "X-Men". Aliás, é graças à introdução desse tema que o filme perde ritmo e consistência, tornando-se mais vulgar. A segunda metade não é tão forte como a primeira, e só por isso é que "Looper" não é o novo "Inception". Contudo, para mim não deixou de ser um grande filme, cheio de arrojo e excelentes particularidades técnicas. Dar-lhe-ia 4 Estrelas, no mínimo.

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  4. Piper Perabo é uma pessima actriz...não percebi a tua Surpresa man

    by:Oreo

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  5. Eu gostei muito deste filme, não tanto como do Inception, especialmente por causa do final, mas gostei. Acho que o final foi forçado, embora entenda que faz todo o sentido porque "fecha o ciclo" da própria história. É um bom final mas não foi feito da melhor maneira. Acho que - !!atenção spoilers!! - o facto de ser o Joe novo a sacrificar-se no final por um futuro melhor para a humanidade não faz sentido pois vamos percebendo ao longo da trama que ele não é de todo sentimental, é muito racional, frio e bastante auto-centrado ( a reforçar esta ideia temos o facto de que entrega o melhor amigo à mafia do Abe sem precisar de ser muito pressionado e também o facto de não pensar duas vezes antes de atirar quando pecebe que o seu alvo é ele próprio). Daí que me fez um bocado de confusão ser este o heroi altruista da historia. Quanto às mutações acho que fazem todo o sentido para explicar de onde vem o poder do Rainmaker. Adorei a direcção e realização, acho que é um filme 4/5.
    Maria Fonseca

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  6. Gostei do Looper. Não o acho uma obra imprescindível - estará longe de grandes referências no domínio da ficção científica "recente" - mas é um filme a ver no cinema. Ainda que eventualmente exagerada (e daí?), a caracterização dos poderes do Rainmaker é peculiar e original. É mesmo o que de mais genuíno há no filme, quer do ponto de vista do argumento, quer pela performance de Pierce Gagnon. Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt dão "star power" q.b. à realização de Rian Johnson.
    Concordo em absoluto com a classificação do João Pinto.

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  7. Esta crítica mereceu destaque na rubrica «A "Polémica" do Mês» do Keyzer Soze’s Place, disponível aqui: http://sozekeyser.blogspot.pt/2012/11/a-polemica-do-mes-16.html

    Cumps cinéfilos.

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  8. Por que existia Loopers? Para matar pessoas sem deixar vestígios, pois no futuro era impossível matar alguém por que não tinha como dar fim no cadáver. certo? Na cena do futuro, onde Bruce Willis está com sua mulher e os agentes matam a esposa dele quando chegaram para captura-lo, qual sentido disso? Achei meio sem sentido existir loopers pois no futuro matava-se pessoas normalmente também. #fikadika

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