Crítica - Seven Psychopaths (2012)

 
Realizado por Martin McDonagh
Com Colin Farrel, Sam Rockwell, Woody Harrelson, Christopher Walken

Martin McDonagh acordou para o estrelato com o intrigante e muito divertido “In Bruges”, um thriller noir com pitadas de humor negro que conquistou a crítica internacional. Depois desse belíssimo trabalho de estreia nas longas-metragens (McDonagh foi mesmo nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original), o próximo projeto do realizador londrino só poderia suscitar uma enorme curiosidade. Ora, três anos volvidos, aqui está ele. E se é verdade que “Seven Psychopaths” não possui a mesma consistência e o mesmo equilíbrio narrativo de “In Bruges”, também não deixa de ser verdade que é similar em muitos aspetos, com humor negro para dar e vender, reviravoltas de argumento extremamente criativas e um conjunto de personagens que não lembram a ninguém. De certa forma, Martin McDonagh faz lembrar Quentin Tarantino. O seu fascínio pelo submundo do crime é notório, a sua escrita é arrojada e surpreendente, e o seu modo de filmar possui contornos de cinema de autor. Estamos então perante um talento emergente, que não faz filmes para todos os públicos, mas que encanta todos os que se identificam com a sua visão tragicómica do mundo. 

 

Marty (Colin Farrel) é um argumentista de Hollywood que está a passar por um bloqueio criativo. Ele tem uma ideia: escrever uma história onde as vidas de sete psicopatas distintos se cruzam e, através desse cruzamento de identidades problemáticas, elaborar uma metáfora sobre a paz de espírito. O problema é que ele não sabe por onde começar a desenvolver a história porque nem sequer consegue construir as personagens. Billy (Sam Rockwell) – o seu melhor amigo – oferece-se então para o ajudar na escrita do argumento, apresentando-o a diversos psicopatas e colocando-o perante situações tremendamente desagradáveis. Tão desagradáveis que Billy mais atrapalha do que ajuda. E as coisas ficam verdadeiramente caóticas quando Billy rapta o cão de um mafioso local interpretado por Woody Harrelson, que tudo faz para recuperar o seu animal de estimação, sem olhar a meios ou a fins… 

 

O melhor que se pode dizer acerca de “Seven Psychopaths” é que é morbidamente engraçado e é tudo menos previsível. Comprovando que é um mestre do humor negro (lá está, um pouco ao estilo de Quentin Tarantino), Martin McDonagh tira da cartola um rol de personagens deliciosamente loucas e põe-nas a coabitar num mundo suficientemente estranho para parecer surreal, mas ao mesmo tempo extremamente fiel à realidade urbana de Los Angeles. As peripécias e as reviravoltas inesperadas sucedem-se a um ritmo vertiginoso, sobretudo na primeira metade do filme (a melhor), o que proporciona muitos sorrisos ao espectador mais atento e paciente. “Seven Psychopaths” define-se essencialmente como uma comédia de tons negros. O tipo de humor aqui presente não é gratuito e nem todos serão capazes de o apreciar, mas é um humor que assenta perfeitamente no estilo de McDonagh e no espírito da película. Woody Harrelson, Christopher Walken e Sam Rockwell estão particularmente bem, estando neles a alma do filme. Tom Waits também nos brinda com momentos deliciosos, mas a sua participação é demasiado curta para se colocar em ponto de destaque. Quanto a Colin Farrel, o ator irlandês volta a mostrar que se sente mais à vontade no cinema indie do que nos blockbusters, embora não brilhe tanto como os seus coprotagonistas. Todavia, nem tudo são rosas neste “Seven Psychopaths”. Como já foi referido, a narrativa não é tão consistente como a de “In Bruges”, sofrendo de altos e baixos que afetam o ritmo da película, tornando-a até um pouco desequilibrada. A segunda metade do filme é manifestamente inferior à primeira e só o público mais paciente não ficará aborrecido ao fim de algum tempo. O humor negro e os toques de génio estão presentes do início ao fim, mas o ritmo não é constante e o próprio desenvolvimento das personagens sofre com isso. “In Bruges” era brilhante até ao fim. “Seven Psychopaths” é apenas divertido. O que não faz dele um filme descartável, muito pelo contrário. É sobretudo aconselhável a fãs do humor negro e do cinema sem refreios. 

Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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