Crítica - As Partes e o Todo (2013)

Realizado por Levi Martins
Com Humberto Machado

Se o cinema é uma interessante, ainda que perigosa, fonte para a reconstituição histórica de um momento, no caso do documentário, e deste em particular, isso é ainda mais verdadeiro.
Levi Martins, ao longo de três anos, registou as suas conversas com actor Humberto Machado da companhia Fatias de Cá, de 83 anos de idade, num filme documental que vale, para além da poética fotografia, pelo facto de não procurar provar coisa nenhuma. Antes, expõe perante o espectador num acto de partilha o universo interior de um homem com uma já longa vida. As suas opiniões, expressas em conversas nas quais quase somos chamados a participar, são apresentadas enquanto tal, uma reflexão pessoal de um homem singular baseadas na sua própria vivência e que, apesar de não ter qualquer pretensão persuasiva, foram merecidamente registadas pelo realizador.


As partes e o todo é por isso mesmo uma abordagem despretensiosa da vida humana nos seus diferentes cambiantes, o trabalho, a sexualidade, a família, a morte, o poder, para referir apenas alguns, através do olhar de Humberto Machado. São os pensamentos e a vida de um cidadão quase anónimo elevados ao nível de registo histórico de um tempo necessariamente subjectivo fixados pela câmara de Levi Martins. Inocente e acutilante, o filme revela uma tendência corajosa e politicamente incorreta dos novos realizadores portugueses.
Pena é que, algumas vezes, a paixão inegável do realizador pela sabedoria de vida de Humberto Machado e pela arte de fazer filmes deixe no espectador a sensação de que entrou a meio do jantar e tenha alguma dificuldade em acompanhar a linha de raciocínio das conversas à mesa.

Classificação - 4 Estrelas em 5

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