Crítica - The Counselor (2013)

 Realizado por Ridley Scott 
Com Michael Fassbender, Penelope Cruz, Cameron Diaz 

O que correu mal com “The Counselor”? Estamos perante um projeto que tinha muito potencial e que, desde cedo, destacou-se por entre a poderosa concorrência como um dos possíveis candidatos aos Óscares, afinal de contas este projeto altamente ambicioso teve a sorte de poder contar com um elenco de nível, com um realizador de renome, com um enredo da autoria de um escritor de classe mundial e com um orçamento bem interessante. É por isso difícil de perceber porque é que o resultado final é assim tão medíocre e aborrecido. Não posso culpar os atores que protagonizam a sua trama, porque todos eles têm uma performance esforçada e acima da média. É também injusto culpabilizar apenas Ridley Scott, porque embora pudesse ter incutido a “The Counselor” uma direção um pouco mais prática e pragmática, não há forma de negar que este thriller é dotado de uma destreza técnica impressionante, por isso só posso atirar as principais responsabilidades para cima de Cormac McCarthy, um senhor da literatura cujas maiores obras literárias já foram, num passado recente, transformadas em produtos cinematográficos impressionantes, como "No Country for Old Men" (2007) ou “The Road” (2009), mas cujo mais recente esforço na área do cinema (e o seu primeiro como guionista) deixa muito a desejar, quer a nível de contexto puro, quer ao nível do entrosamento com o público.


Para ser franco, “The Counselor” é enfadonho, mas é acima de tudo muito confuso. É praticamente impossível compreender os objetivos da intriga ou seguir a par e passo todos os seus principais desenvolvimentos, já que pelo meio da ação há múltiplas cenas e conversas sem nexo que, pelos vistos, só aparecem para confundir ou para chocar o espetador, como é o caso da sequência altamente sexual onde Malkina (Cameron Diaz) faz sexo com o Ferrari Califórnia de Reiner (Javier Bardem). Esta cena até pode ser constrangedoramente hilariante, mas verdade seja dita que não acrescenta nenhuma profundidade narrativa ao filme, que tal como esta tem muitas outras sequências que, parecendo que não, tornam um pouco difícil de seguir e compreender a degeneração moral e criminal do Conselheiro, que de um momento para o outro passa de uma pessoa com controlo aparentemente absoluto sobre tudo e todos, para uma pessoa atarantada e sem um aparente rumo existencial. O problema é que nunca se chega a compreender muito bem como é que o Conselheiro passa de um estado para o outro, já que o filme não faz questão de aprofundar ao pormenor esta importante transição. Eu compreendo, em parte, o objetivo de Cormac McCarthy, que assim pretendia criar um thriller criminal mais subjetivo e menos explicito que o normal, mas verdade seja dita que esta sua intenção esbarrou na pobre construção do enredo, que mesmo tendo essas especificidades, não tem valor suficiente para agarrar a atenção do espetador ao desenrolar da sua trama que, basicamente, segue um pouco de forma aérea os principais eventos que rodeiam a entrada do Conselheiro no complexo mercado do narcotráfico, sendo que esta sua primeira experiência neste mundo alternativo corre, quase de imediato, para o torto por culpa de perigosas influências externas, que colocam o protagonista e o seus parceiros românticos (Penelope Cruz) e comerciais (Brad Pitt e Javier Bardem) em grave perigo.


Se não fosse pela clara incapacidade do seu argumento em prender a atenção do espetador e bombardeá-lo com uma intriga intensa e complexa que, embora subjetiva, tivesse pelo menos um pouco de claridade objetiva pelo meio, então não duvido que “The Counselor” poderia estar entre os potenciais candidatos ao Óscar de Melhor Filme, porque como já referi no início, este projeto tem a seu favor vários aspetos positivos, como a irrepreensível direção técnica de Ridley Scott, que apenas falhou na forma irresponsável como se prendeu em excesso aos objetivos de Cormac McCarthy. As performances de Michael Fassbender e Cameron Diaz também são bastante propícias a louvores, já que Fassbender apresenta sempre uma grande dedicação à parte emocional da intriga, ao passo que Diaz interpreta na perfeição a faceta malévola, sedutora e calculista de Malkina, que é de longe a personagem mais empolgante do filme, já que é a única que consegue provocar junto do espetador uma espécie de adoração macabra. Há ainda que destacar a performance alucinada de Javier Bardem, ou o desempenho seguro de Bard Pitt, que embora tenha pouca influência dentro deste projeto, consegue ainda assim que o seu desempenho fique gravado na nossa memória por causa da sua última e violenta aparição, que se junta a pelo menos outras duas sequências no lote de partes mais violentas, e por ventura, mais cativantes desta produção, que precisava claramente de um impulso narrativo um pouco mais objetivo e empolgante para fazer face às elevadas expetativas que todos tinham dele.

Classificação - 2,5 Estrelas em 5

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10 Comentários

  1. É pena mesmo, porque o filme aparentava ter qualidade. Vale apena ir ver pela componente técnica e pelas interpretações dos atores?

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    1. Acabei de vir do cinema e vim procurar mais sobre o filme, porque queria saber se era só eu que não tinha gostado pela sua confusão.
      Afinal encontrei esta crítica que vai a 100 % de encontro à minha opinião. Arrependi-me da escolha, dinheiro mal empregue. Tinha potencial, mas não foi aproveitado.

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  2. realmente, estranho não a esclarecimento algum do papel do advogado ele não financia, pois esta duro, não irtermedia nada!!
    Leva a culpa do que? qual exatamente era o papel dele na negociação? confuso demais.

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  3. Este filme não tem começo, meio ou fim. Não explica, não dá satisfações, não se importa com lógica, razão ... ele é como a vida. Há diálogos que equivalem a cinco anos de terapia e pelo menos cem livros sobre existencialismo.

    Está tão acima do nível, que seria uma grande ofensa se ele fosse compreendido ou aclamado.

    É justo e esperado que ele não seja bem visto, bem quisto ou bem avaliado ...

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    1. Também gostei. Um pesadelo difícil de sacudir, que exige reflexão.

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    2. Ótimo comentário. Me atrevo a dizer que pouquíssimas vezes o cinema foi tão longe. E concordo contigo que sua baixa avaliação por toda parte é somente falta de costume.Eu o revejo de tempos em tempos e sempre encontro algo novo.

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  4. Bobagem pseudo-intelectual de sua parte! Perdi meu tempo em tentar ver o filme até o fim! Se houve diálogos interessantes, atuações maravilhosas, tudo ficou subutilizado, no fim!

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  5. Parabéns pelo brilhante resumo do filme - Que é ruim mesmo e um pouco mais.

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  6. Ótimo filme, onde não aparece tudo explicadinho como a maioria gosta, um filme intrigante que fala de consequências, arrependimentos e da impossibilidade de voltar atrás nas decisões tomadas. Como todo bom filme, incompreendido no início, será valorizado ao longo do tempo.

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