Crítica - The Fifth Estate (2013)

Realizado por Bill Condon 
Com Benedict Cumberbatch, Daniel Brühl, Anthony Mackie

Se ainda não ouviu falar do site WikiLeaks, então não deve ter andado atento as notícias dos últimos cinco anos. Embora também tenha Wiki no nome, o WikiLeaks não é um site derivado da Wikipedia, mas verdade seja dita que ambos têm certas parecenças, sendo a principal o facto de partilharem uma política não lucrativa, no entanto, o WikiLeaks destaca-se da Wikipedia por ser um site mais privado que se dedica apenas à divulgação de materiais altamente polémicos e confidencias que possam expor as atividades ilegais ou altamente problemáticas de vários governos e empresas que, como já se sabe, após cometerem graves erros ou crimes tentam sempre apagar o seu rasto, para assim não terem problemas de maior com a justiça ou com a população. O WkiLeaks é por isso, na sua génese, um site que só pretende informar e elucidar o público sobre as grandes mentiras dos grandes vilões da cena política e empresarial, sendo por isso que entre os seus fundadores estão várias pessoas que só pretendem que os mundos políticos e empresárias tenham um pouco mais de transparência, pessoas como Julian Assange e Daniel Domscheit-Berg, cuja instável relação de amizade/ ódio é explorada ao pormenor neste “The Fifth Estate”, que aborda todos os passos desta relação, ao mesmo tempo que retrata o aparecimento e rápido crescimento mediático do WikiLeaks, que ainda hoje está bem ativo, apesar de Daniel e Julian, dois dos seus mais polémicos fundadores, já não fazerem parte da sua estrutura organizadora, um porque decidiu deixar de participar no site e o outro porque está envolto em complexos problemas com a justiça.

   

O enredo de “The Fifth Estate” é baseado em dois livros: "Inside WikiLeaks: My Time with Julian Assange and the World's Most Dangerous Website", de Daniel Domscheit-Berg e "WikiLeaks: Inside Julian Assange's War on Secrecy", de David Leigh e Luke Harding. É claro que a maior parte do sumo polémico e privado deste filme foi retirado do livro que foi escrito por Daniel Domscheit-Berg, que expõem de forma clara e concisa os bastidores do site, bem como os planos do seu porta-voz, Julian Assange, que, segundo o que é nos dito no livro e no filme, discordava por completo do seu amigo Domscheit-Berg em alguns pontos fundamentais sobre a política de funcionamento do WikiLeaks, algo que acabou por levar à rutura entre estes dois proeminentes elementos, que de um momento para o outro deixaram de ser bons amigos e passaram a ser fortes inimigos. A progressiva degeneração desta relação profissional e pessoal é explorada com certo tacto por este filme, que faz muita questão de vincar o lado pessoal da querela e das diferentes opiniões de ambos os protagonistas (Julian e Daniel), enquanto estes vão trabalhando em prol do crescimento do website que, pelos vistos, ajudaram a criar com ideias e fundamentos bem diferentes, que nos final tornaram incomportável a sua relação e colaboração. É por isso algo interessante acompanhar o extremar de posições de ambos os lados e decidir qual dos dois é que se enquadra na nossa visão pessoal, mas é claro que também é importante pôr em contexto todas as ações dos protagonistas que, como este projeto cinematográfico demonstra, sempre deram o máximo para materializar o principal objetivo do site, que acabou por ser atingido com alguns elevados sacrifícios pelo meio. Eu gostei da forma como “The Fifth State” expõem o desenvolvimento da amizade e posterior rivalidade de Assange e Domscheit-Berg, mas também gostei particularmente da forma objetiva como explica coerentemente aos espetadores como é que o site foi criado e como é que conseguiu disponibilizar tantas polémicas ao público, mas é claro que o principal enfoque dramático do filme reside apenas na sua parte humana, que realmente se destaca como um interessante jogo de personalidades e poderes que dá azo a um desenvolvimento recheado de amplas questões morais e emocionais bem empolgantes, que vão desde a discussão da privacidade de todos os indivíduos até à eterna querela dos limites da internet.

   

É verdade que “The Fifth Estate” é um projeto muito astuto e curioso, mas torna-se também muito intenso e carismático por causa das performances de luxo dos jovens Benedict Cumberbatch e Daniel Brühl , que interpretam Julian e Daniel sem qualquer preocupação por falsas ideias pré-concebidas, já que as suas duas interpretações parecem respirar uma naturalidade impressionante, que só valoriza o agressivo envolvimento das suas respetivas personagens ao longo do filme, que conta também com uma direção muito particular de Bill Condon, que após ter andado a vaguear sem qualquer rumo em filmes menos dignos, como “Twilight: Breaking Dawn”, regressa agora em força aos grandes projetos hollywoodianos com este competentíssimo thriller dramático, que para além de expor a história base do WikiLeaks, expõem também a grande rivalidade que nasceu nos seus bastidores entre Julian e Daniel. 

 Classificação - 3,5 Estrelas em 5

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>