A Propósito de Llewyn Davis - O Regresso dos Coen

Já passaram quase sete anos desde que os Irmãos Coen presentearam o mundo com o fantástico western moderno "No Country For Old Men"/ Este País Não é Para Velhos" (2007) que, com alguma surpresa à mistura, conquistou o Óscar de Melhor Filme perante a forte concorrência de obras igualmente interessantes, como por exemplo o drama "There Will Be Blood"/ "Haverá Sangue". É bem verdade que, até este ponto alto das suas vidas profissionais, Ethan e Joel Coen já tinham construído uma carreira de grande sucesso, graças em parte a três sublimes êxitos: "Fargo" (1996), "The Big Lebowski" (1998) e "Barton Fink" (1991), mas foi com "No Country For Old Men" que estes dois imaginativos irmãos conseguiram receber as duas maiores honras do cinema mundial, os Óscares de Melhor Filme e Melhor Realizador, aos quais juntaram também o Óscar de Melhor Argumento Adaptado. Esta tripla vitória, cujos Coen também poderiam ter alcançado com toda a justiça com "Fargo", acabou por projetá-los em definitivo para o eterno lote de favoritos à conquista dos principais prémios de cinema, sendo certo que o Óscar de Melhor Argumento Original que conquistaram com "Fargo" também já lhes tinha atribuído um estatuto semelhante, mas é claro que esta importante vitória em três categorias teve uma maior influência mediáticae acabou também por lhes dar mais visibilidade e por reforçar ainda mais a sua já de si forte posição no seio da competitiva indústria cinematográfica, algo que acabou igualmente por lhes dar um crédito quase infinito em Hollywood, mas esta grande vantagem  não alterou em quase nada os seus planos ou as suas exigências criativas, já que nos anos que se seguiram a esta conquista continuaram a apostar em filmes bem fieis ao seu espírito satírico original, como se pode comprovar pelos bem peculiares e populares "A Serious Man"/ "Um Homem Sério" (2009) e "Burn After Reading"/ "Queimar Depois de Ler" (2008), que mostram bem a fibra genuína destes dois cineastas que, em 2010, lá acabaram por regressar aos westerns com "True Grit"/ "Indomável", um projeto muito bem sucedido que, ainda assim, não conseguiu materializar nenhuma das suas dez nomeações aos Óscares em vitórias. Esta pequena humilhação pregada pela Academia não conseguiu desanimar ou desacreditar os Coen, mas parece que serviu para abrandar o seu ritmo alucinante, já que após isso eles pararam de apresentar um filme por ano, e decidiram avançar com uma pequena pausa para assim terem mais espaço de manobra para prepararem de uma forma mais exigente  o seu novo projeto, que agora chega às nossas salas de cinema sob o título de "A Propósito de Llewyn Davis"/ "Inside Llewyn Davis". 
Tal como "Fargo", "Barton Fink", "The Big Lebowski", "No Country For Old Men", "A Serious Man", "Burn After Reading" e "True Grit", "A Propósito de Llewyn Davis" conquistou a crítica e já é, a par de "12 Years a Slave", "Her" e "Gravity", um dos grandes candidatos ao Óscar de Melhor Filme, mas convém desde já reforçar a ideia que este filme é muito diferente de todos os outros projetos que compõem a filmografia dos Irmãos Coen, já que é um projeto mais musical e até dramático, que não se enquadra nem no espírito de violência de "No Country For Old Men" ou "True Grit", nem no aspeto mais satírico de "Fargo" ou "Burn After Reading". No fundo, "A Propósito de Llewyn Davis" está mais próximo de "Barton Fink", mas há neste novo projeto dos Coen uma áurea nova e refrescante que certamente tem contribuído para o seu sucesso mundial, para o qual também tem contribuído em larga escala a sua poderosa influência indie e musical, que se faz sentir em todos os grandes momentos desta película, que narra uma semana na vida de um jovem cantor no mundo musical de Greenwich Village, Nova Iorque, em 1961. O nome desse cantor é Llewyn Davis, e encontra-se numa forte encruzilhada. Quando um Inverno severo atinge a cidade, o jovem, com a sua guitarra na mão, luta para ganhar a vida como músico e enfrenta obstáculos aparentemente intransponíveis, começando com aqueles que ele mesmo cria. Ele sobrevive apenas graças ao apoio dado por amigos ou estranhos, aceitando qualquer pequeno trabalho. 
Há por isso muito que esperar deste filme, que para além de ser um dos grandes filmes do ano, promete ainda tornar-se num dos projetos mais curiosos da longa e já muito elogiada filmografia dos Irmãos Coen, que continuam a ter o agradável dom de nos surpreender com as suas apostas.

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