Crítica - The Hunger Games: Catching Fire (2013)

Realizado por Francis Lawrence
Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth

Tal como o surpreendente “The Hunger Games”, “The Hunger Games: Catching Fire” é um projeto cinematográfico bem conseguido que, embora tenha como público-alvo os mais jovens, também consegue entreter os mais velhos, já que é um produto capaz e apto com alguma ação e uma intriga bem competente que entretém sem complexos ou grandes e graves clichés. Esta proeza pode parecer insignificante, mas é sempre um prazer ver um blockbuster sem ter que levar, cena após cena, com clichés gastos e já repetitivos. É importante referir que este filme não está isento destas repetições ou estereótipos, mas pelo menos estes não têm uma presença tão regular ou implicante como em outros projetos do género, mas “The Hunger Games: Catching Fire” não é um blockbuster razoável apenas por causa deste ponto bem positivo, já que a sua história também aposta num puzzle narrativo muito engraçado e bem empolgante que mantém as apostas positivas feitas pelo primeiro filme, cujo visionamento não é completamente indispensável para perceber esta segunda entrega, já que ao longo deste segundo capítulo é nos fornecido algum contexto em relação ao que já aconteceu anteriormente. A juntar a isto tudo temos ainda um par de boas performances por parte de Jennifer Lawrence, que tem com este projeto o seu primeiro trabalho mediático após ter conquistado o Óscar de Melhor Atriz Principal, mas também da jovem Jena Malone, que está perfeita na pele da direta e carismática Johanna Mason. As duas são portanto as principais estrelas do filme, mas também há que destacar as performances do restante elenco central, nomeadamente de Josh Hutcherson e Donald Sutherland, que mostram bem o seu valor e vendem muito bem as suas respetivas personagens, aliás praticamente todo o elenco interpreta sem grandes falhas as suas respetivas personagens que, uns mais e outros menos, lá vão conseguindo influenciar o energético desenrolar deste projeto que, embora seja acentuadamente dramático em certos pontos, não deixa por isso de ser um projeto divertido que puxa pelo entretenimento do público e essa é, muito provavelmente, a sua principal mais-valia.


A história desta segunda entrega começa alguns meses após a inesperada vitória de Katniss Everdeen e Peeta Mellark na 74.ª Edição dos Jogos da Fome, mas apesar de já estarem a salvo, Katniss e Peeta ainda têm que fingir que estão loucamente apaixonados, porque agora são obrigados, pelo Capitólio, a deixarem para trás, mais uma vez, as suas respetivas famílias e amigos para percorrerem os doze distritos numa tour de consagração, que só nos distritos mais ricos é que é recebida com apoteose, já que em todos os outros as visitas de Katniss e Peeta são assombradas pelo sentimento de revolta e rebelião que paira entre a população. Ao se aperceber que Katniss tornou-se num importante símbolo de esperança para todo os revolucionários, o Presidente Snow decide tentar apagar e castigar a sua imagem cheia de esperança, mas quando as suas múltiplas tentativas de a desacreditar e controlar não surtem os efeitos pretendidos, o maléfico presidente decide arquitetar, em conjunto com o novo responsável pelos Jogos da Fome, um plano maquiavélico para a matar, plano esse que passa pela organização de uma edição especial dos jogos, nos quais os tributos vencedores mais imprevisíveis dos últimos anos serão os participantes. Katniss e Peeta percebem de imediato que o grande objetivo do Capitólio é eliminá-los sem piedade e em plena praça pública, por isso decidem que, desta vez, vão jogar os jogos com mais destreza e irão mostrar a todos os que duvidam de si que têm o que é necessário para sobreviver e, quem sabe, reconstruir uma sociedade justa em Panen após vencerem, mais uma vez, os Jogos da Fome.

   

Tal como “The Hunger Games”, “The Hunger Games: Catching Fire” dá continuidade à construção cuidada e criativa da história do franchise, que entrará já na sua fase decisiva com “The Hunger Games: Mockingjay”. Estes dois primeiros filmes, tal como os dois primeiros livros, servem, essencialmente, para apresentar, com toda a calma e cuidado, a personalidade e os objetivos da personagem principal, bem como a complicada realidade sociopolítica que reina no seu país, isto tudo enquanto apresentam, como pano de fundo, uma panóplia de sequências de ação e aventura que resultam, diretamente, da participação de Katniss nos Jogos da Fomes, cuja edição que aparece em “The Hunger Games: Catching Fire” acaba por não ser tão surpreendente ou inesperada como aquela que é retratada em “The Hunger Games”, onde o choque e a imprevisibilidade estão presentes praticamente até final, pelo menos para todos aqueles que nunca leram os livros. Esta segunda entrega até pode ser um pouco mais parada, quer nível de ação, quer a nível de aventura, mas nota-se claramente que o seu argumento é muito mais maduro, até porque explora, um pouco mais a fundo, os planos e as questões políticas, mas traça também uma espécie de retrato psicológico mais competente e abrangente das personalidades dos protagonistas, que aqui entram em conflito com mais questões dúbias e decisões complexas que afetarão, posteriormente, os seus respetivos objetivos e pretensões, sejam elas práticas ou psicológicas. É neste sentido que Katniss aparece-nos aqui como uma jovem com uma nova visão da vida, já que se torna evidente que esta Katniss mais inteligente e poderosa, não é a mesma jovem inocente e emotiva que apareceu no primeiro filme. Esta mudança repentina foi provocada, sobretudo, pelos traumáticos eventos que enfrentou durante os jogos anteriores, eventos esses que, embora nefastos, até a ajudaram a amadurecer de uma forma, por ventura, demasiado brusca, mas verdade seja dita que também lhe deixaram profundas marcas psicológicas que se fazem notar, em particular, durante os primeiros trinta minutos do filme. Tal como Katniss, também Peeta e Gale estão diferentes. Os dois estão mais adultos e interessantes, mas Gale continua, ainda assim, a ter uma presença muito tímida e quase indiferente para a trama, sobretudo em relação à parte romântica da história, que continua a não ter uma presença assim tão forte como seria de prever, no entanto, importa referir que esta segunda entrega dá-lhe um pequeno impulso, já que pelo meio é revigorada a pseudo-relação romântica que já existia desde “The Hunger Games” entre Peeta e Katniss, já que durante os minutos finais desta produção estes dois jovens ficam mais próximos que nunca. É claro que esta aproximação não dura quase nada, mas pelo menos este pequeno vislumbre de ação romântica consegue dar alguma vida à componente romântica da saga que, ainda assim, poderia ser alvo de um pouco mais de atenção, mas claro que não merecia nem merece demasiada atenção, já que aprecio o tempo que todos os filmes têm perdido em explicar e aprofundar o lado mais político e psicológico da história, relegando assim para um merecido segundo plano os pormenores românticos, no entanto, um pouco mais de atenção não prejudicaria em nada o valor de qualquer um dos filmes.

   

O que continua a prejudicar este franchise é a componente técnica das suas entregas. Em “The Hunger Games” já se notou certas debilidades técnicas ao nível de cenários e detalhes visuais, que infelizmente mantiveram a sua infeliz presença neste “The Hunger Games: Catching Fire”. A complexa arena gigante dos Jogos da Fome deste segundo filme até é um pouco mais interessante e coesa que a do primeiro, mas ainda assim nota-se bem que, nas suas variadas sequências de ação, não há aquele primor visual que deveria existir num projeto desta dimensão. É portanto fácil de concluir que, tal como Gary Ross, o seu antecessor, Francis Lawrence não puxou ao máximo por esta vertente técnica, que embora seja relevante não passa de um pormenor menos interessante no conjunto deste projeto, que tem muitos outros pontos positivos que, de uma forma ou de outra, propiciam ao espetador um bom par de horas de entretenimento leve e convincente, mas não espere ver “The Hunger Games: Catching Fire” entre os potenciais candidatos ao principais prémios do ano, já que apesar de ser razoável, está bem longe de ser esse tipo de filme. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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9 Comentários

  1. Gostei do filme. Bem produzido e com um bom enredo. Escrevei minha crítica a respeito. Convido vocês a lerem, quando puderem.
    Parabéns pela crítica e pelo Portal Cinema.

    conexao--informativa.blogspot.com.br

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  2. Foi a pior critica do filme que já li, o filme está fantástico e espero que o terceiro esteja tão ou melhor que este.

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  3. Eu adorei o filme, a história e as personagens (tanto as novas como as antigas). 5*

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  4. É engraçado, basta a opinião entre ''gostei'' e ''não gostei'' para se saber se a pessoa leu os livros. Muito me espantará conhecer alguém que leu os livros e diga que o filme está muito bom, ou até mesmo bom... A verdade é que os filmes poderiam ter muito mais conteúdo, e ser muito melhor representados, mas dirijo-me especialmente para o segundo filme, no segundo parâmetro. O problema é que as pessoas não sabiam as partes básicas da história, passando assim a adorar o filme simplesmente por ter umas caras bonitas e alguns efeitos. É a triste realidade. Quando vi o primeiro filme pensei que estava realmente mal feito, mas desde que vi o segundo apercebi-me que esse, vendo agora, não estava assim tão mau. The Hunger Games - Em Chamas está completamente mal representado, e sempre que digo isto relembro a cena em que Katniss acorda o Haymitch com água. Não pode haver alguém que ache essa cena bem representada... Espero que haja um dia em que as pessoas comessem a preferir os livros aos filmes, não há comparação possível entre eles. .

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    1. Eu acho essa cena muito bem representada. Aliás, a Jennifer Lawrence é uma actriz premiada com um Oscar. Além disso, "os fãs dizem que o livro é melhor" não constitui um critério cinematográfico válido. Se discordar, vai ter que se dar ao trabalho de me provar que há critérios universais para todas as artes e que posso, pela mesma lógica, dizer "este filme é melhor do que este quadro". À falta de tal argumento, filmes competem contra outros filmes. Neste caso, contra obras como "Divergent", "The Maze Runner" e "The Giver", e se achar que esses filmes são piores do que o "The Hunger Games: Catching Fire" vai ter que se defender bem, já que estaria a assumir uma posição contrária à da crítica especializada. Não quero, de todo, desmotivá-lo a partilhar a sua opinião, mas note que opiniões não constituem juízos minimamente objectivos, ficam-se pelo "gostei ou não gostei". Extraordinary claims require extraordinary evidence.

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  5. Sr Anônimo... filme é pra quem gosta de ver filme e livro pra quem gosta de ler livro. Se o filme tentasse descrever a riqueza da história como no livro, teria 100 horas de duração. Por favor então leia seus livros e nunca, nunca assista aos filmes dos livros que leu porque eles sempre te decepcionarão... O filme é bom sim e estou ansioso pelo próximo!!!

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  6. Outra coisa, leia mais livros porque "comessem"... doeu muito!!!

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  7. Eu Adorei o filme e como acho que nada nesta vida é perfeito, na minha opinião o filme está muito bom em comparação ao 1º e falhas todos os filmes tem por isso se sabem critícar que façam melhor um dia... se isso for possivel é claro

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