Realizado por David O.
Russell
Com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence
Com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence
David O. Russell está a
viver um momento mágico da sua carreira, certamente o momento mais alto de um
percurso com alguns altos e baixos. Qual Rei Midas de tempos antigos, tudo
aquilo em que Russell toca parece transformar-se em ouro, nomeadamente ouro dos
Óscares. Depois do tocante “The Fighter” e do divertido “Silver Linings
Playbook”, “American Hustle” vem confirmar a boa forma do realizador outrora
olhado de lado no seio de Hollywood, colocando-o desde já no lote de ilustres
cineastas com múltiplas nomeações para os prémios da Academia. É certo que saiu
sempre derrotado das cerimónias anteriores, mas ainda assim… 3 filmes, 3
nomeações para os Óscares? É obra. É, sim senhor, e a cereja no topo do bolo é
que “American Hustle” consegue ser ainda melhor do que os seus predecessores. “The
Fighter” era bom, mas por vezes tinha aura de telefilme. “Silver Linings
Playbook” era irreverente, surpreendente e divertido, mas a narrativa não era
suficientemente poderosa. “American Hustle”, por outro lado, parece ter tudo a
seu favor. É um filme mais maduro, mais consistente, mais completo e mais
convincente. É certo que não é para todos os públicos, pois pode ser confundido
com uma comédia de vigaristas ao estilo de “Ocean’s Eleven” (algo que não é, de
todo) e o seu foco no drama pessoal das personagens pode desapontar alguns
espectadores em busca de outro tipo de emoções. Aqui não há golpes grandiosos
com uma luxuriante Las Vegas como pano de fundo, nem tão-pouco há uma
glorificação dos chamados “con-artists” e seu estilo de vida algo dúbio. Aqui há
uma história bem real, com personagens tão genuínas que quase saltam para fora
do ecrã e com uma linha narrativa que nos prende do primeiro ao último segundo.
É tão simples quanto isso e assim se faz um grande filme.
Tudo começa com a
introdução das duas personagens principais, os grandes vigaristas de serviço,
Irving (Christian Bale) e Sydney (Amy Adams). O cauteloso Irving e a fogosa Sydney
conhecem-se (ou são atraídos um para o outro) numa festa e rapidamente se
apaixonam como loucos numa noite de verão. Daí até se tornarem sócios no
submundo da aldrabice é um pequeno passo e, dado que se completam um ao outro,
facilmente atingem grande sucesso. O problema surge quando Richie (Bradley
Cooper) entra na equação. Começando por fazer de conta que estava interessado
nos serviços de Irving e Sydney, Richie é um ambicioso e sonhador agente do FBI
que apanha o casalinho em flagrante delito e os obriga a trabalhar para ele
como alternativa a alguns anos de cadeia. O objetivo é simples: aproveitar a
inteligência e os conhecimentos do casal para colocar atrás das grades
políticos corruptos e mafiosos dos casinos. Mas será que tudo irá correr como
planeado? Esta é a premissa de “American Hustle”, um filme inteligente e
elegante que nos suga autenticamente para o interior da narrativa,
colocando-nos lado a lado com estas personagens fabulosas, como se fôssemos
mais um compincha prestes a desempenhar um papel importante no golpe do século.
David O. Russell filma com grande intimidade e extrai praticamente tudo o que
há a extrair dos seus atores. Aliando comédia irónica a drama de grande tensão,
Russell cria aqui uma obra verdadeiramente irresistível, fazendo uso de uma
banda-sonora impecável para tornar tudo ainda mais intoxicante. Se não se
estiver com a devida atenção, “American Hustle” pode tornar-se algo confuso,
mas isso é um reflexo da sua complexidade e não um defeito de execução. Mas apesar
da excelente realização de Russell, são inevitavelmente os atores que brilham
mais alto, pois estamos essencialmente a falar de um filme de atores. Christian
Bale é espantoso na pele de Irving, Bradley Cooper confirma o seu talento na
pele do impulsivo Richie e Jennifer Lawrence volta a deixar-nos de queixo
descaído com a sua interpretação da dona de casa mais iludida e desesperada de
todos os tempos. Porém, quem realmente acende o fogo-de-artifício e rebenta com
tudo e todos é Amy Adams, que aqui apresenta o melhor trabalho da sua bem-sucedida
carreira. Ela continua a ser naturalmente frágil, mas aqui é também feroz e
altiva, como uma leoa prestes a despedaçar a sua pobre vítima (o olhar que ela
lança a Bradley Cooper na cena em que está a reunir pela primeira vez com a sua
personagem é fenomenal, é o olhar de uma predadora a analisar a melhor forma de
sugar o sangue da sua presa e é um olhar que Russell bem soube captar e incluir
na película). Infelizmente para Adams, este é o ano de Cate Blanchett e da sua
deprimida ex-socialite no filme de Woody Allen, caso contrário o Óscar seria
garantidamente seu. Contudo, Adams mostra aqui uma faceta que ainda não lhe havíamos
detetado e isso é o que importa realmente, o que de facto ficará para a
História. Resumindo e concluindo, “American Hustle” não é perfeito, mas é
certamente um dos grandes filmes do ano e o maior rival de “12 Years a Slave”
nesta longa temporada de prémios.
Classificação – 4 Estrelas em 5
1 Comentários
Acho que o filme American Hustle é um dos melhores do ano passado, por isso tivemos várias indicações ao Oscar, é interessante e mantém você muito atencioso.
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