Crítica - American Hustle (2013)

 
Realizado por David O. Russell
Com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence 
David O. Russell está a viver um momento mágico da sua carreira, certamente o momento mais alto de um percurso com alguns altos e baixos. Qual Rei Midas de tempos antigos, tudo aquilo em que Russell toca parece transformar-se em ouro, nomeadamente ouro dos Óscares. Depois do tocante “The Fighter” e do divertido “Silver Linings Playbook”, “American Hustle” vem confirmar a boa forma do realizador outrora olhado de lado no seio de Hollywood, colocando-o desde já no lote de ilustres cineastas com múltiplas nomeações para os prémios da Academia. É certo que saiu sempre derrotado das cerimónias anteriores, mas ainda assim… 3 filmes, 3 nomeações para os Óscares? É obra. É, sim senhor, e a cereja no topo do bolo é que “American Hustle” consegue ser ainda melhor do que os seus predecessores. “The Fighter” era bom, mas por vezes tinha aura de telefilme. “Silver Linings Playbook” era irreverente, surpreendente e divertido, mas a narrativa não era suficientemente poderosa. “American Hustle”, por outro lado, parece ter tudo a seu favor. É um filme mais maduro, mais consistente, mais completo e mais convincente. É certo que não é para todos os públicos, pois pode ser confundido com uma comédia de vigaristas ao estilo de “Ocean’s Eleven” (algo que não é, de todo) e o seu foco no drama pessoal das personagens pode desapontar alguns espectadores em busca de outro tipo de emoções. Aqui não há golpes grandiosos com uma luxuriante Las Vegas como pano de fundo, nem tão-pouco há uma glorificação dos chamados “con-artists” e seu estilo de vida algo dúbio. Aqui há uma história bem real, com personagens tão genuínas que quase saltam para fora do ecrã e com uma linha narrativa que nos prende do primeiro ao último segundo. É tão simples quanto isso e assim se faz um grande filme.
Tudo começa com a introdução das duas personagens principais, os grandes vigaristas de serviço, Irving (Christian Bale) e Sydney (Amy Adams). O cauteloso Irving e a fogosa Sydney conhecem-se (ou são atraídos um para o outro) numa festa e rapidamente se apaixonam como loucos numa noite de verão. Daí até se tornarem sócios no submundo da aldrabice é um pequeno passo e, dado que se completam um ao outro, facilmente atingem grande sucesso. O problema surge quando Richie (Bradley Cooper) entra na equação. Começando por fazer de conta que estava interessado nos serviços de Irving e Sydney, Richie é um ambicioso e sonhador agente do FBI que apanha o casalinho em flagrante delito e os obriga a trabalhar para ele como alternativa a alguns anos de cadeia. O objetivo é simples: aproveitar a inteligência e os conhecimentos do casal para colocar atrás das grades políticos corruptos e mafiosos dos casinos. Mas será que tudo irá correr como planeado? Esta é a premissa de “American Hustle”, um filme inteligente e elegante que nos suga autenticamente para o interior da narrativa, colocando-nos lado a lado com estas personagens fabulosas, como se fôssemos mais um compincha prestes a desempenhar um papel importante no golpe do século. David O. Russell filma com grande intimidade e extrai praticamente tudo o que há a extrair dos seus atores. Aliando comédia irónica a drama de grande tensão, Russell cria aqui uma obra verdadeiramente irresistível, fazendo uso de uma banda-sonora impecável para tornar tudo ainda mais intoxicante. Se não se estiver com a devida atenção, “American Hustle” pode tornar-se algo confuso, mas isso é um reflexo da sua complexidade e não um defeito de execução. Mas apesar da excelente realização de Russell, são inevitavelmente os atores que brilham mais alto, pois estamos essencialmente a falar de um filme de atores. Christian Bale é espantoso na pele de Irving, Bradley Cooper confirma o seu talento na pele do impulsivo Richie e Jennifer Lawrence volta a deixar-nos de queixo descaído com a sua interpretação da dona de casa mais iludida e desesperada de todos os tempos. Porém, quem realmente acende o fogo-de-artifício e rebenta com tudo e todos é Amy Adams, que aqui apresenta o melhor trabalho da sua bem-sucedida carreira. Ela continua a ser naturalmente frágil, mas aqui é também feroz e altiva, como uma leoa prestes a despedaçar a sua pobre vítima (o olhar que ela lança a Bradley Cooper na cena em que está a reunir pela primeira vez com a sua personagem é fenomenal, é o olhar de uma predadora a analisar a melhor forma de sugar o sangue da sua presa e é um olhar que Russell bem soube captar e incluir na película). Infelizmente para Adams, este é o ano de Cate Blanchett e da sua deprimida ex-socialite no filme de Woody Allen, caso contrário o Óscar seria garantidamente seu. Contudo, Adams mostra aqui uma faceta que ainda não lhe havíamos detetado e isso é o que importa realmente, o que de facto ficará para a História. Resumindo e concluindo, “American Hustle” não é perfeito, mas é certamente um dos grandes filmes do ano e o maior rival de “12 Years a Slave” nesta longa temporada de prémios.

Classificação – 4 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Acho que o filme American Hustle é um dos melhores do ano passado, por isso tivemos várias indicações ao Oscar, é interessante e mantém você muito atencioso.

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