Crítica - Inside Llewyn Davis (2013)

Realizado por Ethan Coen e Joel Coen 
Com Carey Mulligan, Oscar Isaac, Justin Timberlake, Garrett Hedlund 

Os Irmãos Coen estão numa maré de enorme valor. Os seus últimos projetos de ficção foram acalmados pela crítica e, apesar de não terem tido um amplo sucesso comercial, conseguiram ainda assim impor-se entre as melhores longas-metragens dos seus respetivos anos. Quem não se lembra do thriller de ação “No Country For Old Men”, que em 2007 envolveu-se numa luta titânica com o fantástico drama “There Will Be Blood”, tendo acabado por levar a melhor sobre este filme de Paul Thomas Anderson na corrida ao Óscar de Melhor Filme. Os anos seguintes trouxeram projetos mais moderados destes aparatosos irmãos, como o incompreendido drama “A Serious Man” ou o aguerrido western “True Grit”, mas nenhum destes é tão singular ou tão insigne como este “Inside Llewyn Davis”, um dos projetos que, a par de “A Serious Man”, mais parece destoar junto da elogiada e longa filmografia dos Irmãos Coen mas que, ainda assim, consegue ilustrar na perfeição as suas principais características criativas e técnicas, já que a sua indiscutível mestria vem constantemente ao de cima neste projeto intimo e deliciosamente indie, que leva estes irmãos para um terreno afastado dos mistérios e da violência, ou seja, este seu novo projeto parece recuperar o espírito dramático e humano que marcou “A Serious Man”, mas desta vez foram ainda mais além da base melodramática desse seu curioso sucesso crítico, e decidiram incutir uma dose extra de intimidade e existencialidade a este belo e nada cansativo drama musical, onde acompanhamos uma semana na vida de Llewyn Davis, um jovem cantor no mundo musical de Greenwich Village, onde este jovem lutará para sobreviver ao clima rigoroso e aos obstáculos aparentemente intransponíveis que ameaçam a progressão da sua carreira e até da sua própria vida.


É injusto falar de uma mudança de rumo ou atitude por parte dos Irmãos Coen, já que a sua carreira sempre foi pautada pela diversidade, mas parece claro que os Coen estão cada vez mais a apostar em projetos dramáticos e relativamente diferentes das poderosas intrigas criminais ou das intrigantes comédias negras que marcaram os primeiros vinte anos da sua carreira conjunta. Com “A Serious Man”, os Coen já deram um grande ar da sua graça no campo mais dramático e existencial, mas agora fica claro com “Inside Llewyn Davis” que estão determinados a explorar, de uma forma mais assídua e determinante, várias questões mais próximas da individualidade e da emoção. Embora este projeto não seja muito filosófico ou cerebral é, claramente, uma das películas mais paradas e estranhamente profundas destes realizadores, que aproveitam a jornada desoladora e incerta de Llewyn Davis para ilustrar vários paradigmas sociais e intimistas, bem como a perseverança do comportamento humano e as possíveis influencias, positivas e negativas, da interação e do calor humano. É por isso que, por momentos, podemos ter dificuldades em acreditar e aceitar que este filme foi criado pelos mesmos realizadores dos sempre mexidos e envolventes “Fargo” ou “No Country For Old Men”, mas por entre uma história mais intimista que o habitual, os Irmãos Coen mostram bem que “Inside Llewyn Davis” é um projeto da sua autoria, mais não seja porque, como sempre, filmaram com uma perfeição característica a jornada dramática de Llewyn Davis, que aqui é interpretado, com uma garra comovente, pelo jovem e promissor ator Oscar Isaac, que está à altura do seu papel, tal como as restantes estrelas que vão aparecendo na história, como Carey Mulligan, John Goodman e Justin Timberlake. Está visto que este é mais um projeto de luxo desta dupla, um projeto diferente mas praticamente tão cativante e interessante como os principais filmes da sua ilustre carreira. 

Classificação – 4 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. 4*
    Finalmente vi "A Propósito de Llewyn Davis" e gostei bastante do que vi e ouvi neste belo filme, recomendo que vejam.
    "Inside Llewyn Davis" tem um plot interessante e bem construído, mas peca por ser um filme demasiado grande.
    Convido-vos a ler a análise completa em http://osfilmesdefredericodaniel.blogspot.pt/2015/07/a-proposito-de-llewyn-davis.html
    Cumprimentos, Frederico Daniel...

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