Crítica - The Wolf of Wall Street (2013)

Realizado por Martin Scorsese
Com Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie
“The Wolf of Wall Street” é um filme curioso. À partida, tinha tudo para ser um dramalhão de primeira classe, já que os temas abordados são sérios e bastante graves. Porém, o génio por detrás de Martin Scorsese decidiu olhar para os pecados de Jordan Belfort com outros olhos, afastando-se do habitual drama pesado que despeja inúmeras lições de moral em cima do espectador e entrando num território mais invulgar, um território pautado por um espírito leve e por uma abordagem cómica a situações que não deveriam ter piada nenhuma mas que deixam a audiência a rir-se às gargalhadas. Desta forma, “The Wolf of Wall Street” torna-se um filme surpreendente. Será certamente um dos filmes mais cómicos e irreverentes do ano, e ao mesmo tempo um dos mais marcantes e emocionalmente poderosos. De facto, as conquistas de Belfort no mundo da finança tornam-se de tal forma gigantescas que, a partir de certo ponto, a sua própria história de vida começa a parecer um conto de fadas embebido em completa absurdidade. O ridículo passa a marcar presença assídua no seu dia-a-dia e o dinheiro fácil chove com tanta abundância que a ganância e a imoralidade passam a andar de mãos dadas, assombradas por uma luxúria tão inacreditável que quase parece falsa. Se não soubéssemos que se trata de uma história verídica, dificilmente acreditaríamos que uma personagem como Jordan Belfort pudesse alguma vez ter existido. Mas o facto é que existiu mesmo e os eventos retratados são muitas vezes de tal forma ridículos que a abordagem cómica de Scorsese acaba por fazer todo o sentido. Assistir a “The Wolf of Wall Street” é como assistir a um bando de miúdos inconscientes que não sabe o que fazer com o dinheiro que lhe cai dos céus. E se por um lado isso é tremendamente divertido, por outro lado leva-nos a pensar seriamente sobre o estado a que o mundo chegou e alerta-nos uma vez mais para os perigos do capitalismo desenfreado, pois não podemos esquecer-nos de que as nossas vidas são infelizmente controladas por estes monstros do capital que não olham a meios para atingir os seus fins.

Mas esqueçamos por momentos essa dura realidade e voltemos a concentrar-nos no autêntico festival de loucura que é “The Wolf of Wall Street”. Leonardo DiCaprio interpreta na perfeição Jordan Belfort, um jovem modesto e “certinho” que sonha com a riqueza e que começa a ser possuído pela febre do dinheiro mal começam a chover os primeiros cheques rápidos. Mal orientado por um monstro da finança interpretado por um hilariante Matthew McConaughey, Jordan depressa se deixa levar pelo mundo da luxúria e das drogas, acabando por perder o controlo da situação quando o FBI começa a investigar as operações da sua empresa. Não restam dúvidas de que Martin Scorsese é mesmo um dos realizadores mais geniais da sua geração e do cinema contemporâneo. Comprovando uma vez mais a sua enorme versatilidade depois de já nos ter espantado com o mágico “Hugo”, Scorsese assinala aqui um dos filmes mais cómicos e divertidos do ano, mostrando a todos que, apesar da idade avançada, ainda tem energia mais do que suficiente para explorar territórios insondados e sair triunfante dessa viagem inesperada. “The Wolf of Wall Street” é hilariante e o mais importante é que nunca deixa de ser genuíno, nunca perde solidez ao longo dos seus 180 minutos de duração, nem mesmo nos momentos mais sórdidos em que a loucura toma conta das operações. Este é um filme que mostra o lado mais obscuro de Wall Street, o lado mais depravado do mundo da finança. E, como é seu apanágio, Scorsese não tem medo de mostrar as coisas como elas são, mesmo que isso abale seriamente a credibilidade dos corretores de Wall Street. O melhor que se pode dizer é que as 3 horas de filme passam a voar, já que Scorsese arranja sempre formas de nos surpreender com sequências cada vez mais loucas e com reviravoltas de argumento que nos deixam colados ao assento. E em relação a Leonardo DiCaprio, só há uma coisa a dizer: se voltar a não ser nomeado para o Óscar de Melhor Ator, então fica confirmado de uma vez por todas que há mesmo uma conspiração contra ele no seio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Mostrando um registo pouco habitual em territórios de comédia, DiCaprio está irrepreensível na pele de Belfort, arrepiando o espectador nos momentos de maior tensão dramática e lavando-o em lágrimas nos instantes de pura loucura cómica. Estamos definitivamente perante um dos grandes filmes do ano, que pode muito bem vir a brilhar na temporada de prémios que ainda agora teve início.

Classificação – 4,5 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Excelente filme! é pena que o Mathew McConaughey tenha uma participação tão reduzida no filme..a personagem dele é hilariante e o filme ainda ficaria melhor com mais uns minutos com ele.. de todos os nomeados, é o mais consistente para ganhar o oscar para melhor filme..

    Boa crítica..e boa página!

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