O Estranho Caso da Não Distribuição de Nebraska – O Que Se Passou?

Se já olhou com atenção para o calendário de estreias nacionais deve ter por certo reparado que já estrearam ou ainda vão estrear nas próximas semanas praticamente todas as longas-metragens de ficção que são candidatos as Óscares nas diversas categorias, desde as mais importantes, como Melhor Filme ou Melhor Realizador, até às mais técnicas ou secundárias, como Melhor Banda Sonora ou Melhor Montagem. É claro que neste quadro muito particular de estreias não marcam presença os filmes documentais, que como já se sabe, raramente estreiam no nosso país fora do circuito dos festivais, mas, ainda assim, este ano teremos oportunidade de ver “The Act of Killing” e ”20 feet from Stardom” nas salas de cinema nacionais, mas apenas após os Óscares. Entre as longas-metragens de ficção, os filmes “The Missing Picture” e “Omar”, ambos candidatos ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, também estrearão após a cerimónia de entrega dos Prémios da Academia, ao passo que a comédia “Jackass Presents: Bad Grampa” será lançada, apenas, no mercado vídeo e on-demand. A bela animação “The Wind Rises”, de Hayao Miyazaki, candidata ao Óscar de Melhor Filme de Animação, também estreará no nosso pais, mas também após os Óscares serem entregues, no entanto, o facto de “Jackass Presents: Bad Grampa” não estrear nas salas não surpreende ninguém, tal como poucos ficarão surpreendidos por saber que filmes tão pouco mediáticos, como “The Act of Killing” ou “The Broken Circle Breakdown”, também façam a sua estreia por cá após ou pouco antes dos Óscares, sendo que não convém esquecer que o drama “The Broken Circle Breakdown” já teve a sua antestreia nacional durante o Festroia 2013. 
Estas ausências não são portanto surpreendentes, até porque todos estes filmes estão nomeados em categorias muito secundárias que pouco costumam dizer aos portugueses e até mesmo aos estrangeiros, mas quando olha para o calendário de estreias para os próximos meses não repara numa ausência de peso? É verdade, o drama “Nebraska”, da autoria de Alexander Payne, que está nomeado em SEIS categorias de elevada importância (Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Ator, Melhor Atriz Secundária, Melhor Argumento Original e Melhor Fotografia), não consta da previsão de estreias porque os seus direitos de exibição não foram adquiridos por nenhuma das múltiplas distribuidoras nacionais que, já sei, podem vir desculpar-se com os argumentos fáceis que, por alturas do Festival de Cannes, onde esta produção teve a sua primeira exibição pública e os seus direitos foram postos à venda, ninguém acreditava que “Nebraska” pudesse chegar aos Óscares ou sequer conquistar tantas nomeações. Se for utilizada por alguém, então fique sabendo que esta é uma péssima desculpa, porque desde o início de 2013 que a imprensa americana andou a apontar “Nebraska” como um mais que provável candidato à época de prémios, tendo este estatuto sido largamente comprovado durante o Festival de Cannes, onde este projeto recebeu, na sua noite de estreia, uma ovação em pé durante dez minutos que, como devem calcular, não está propriamente reservada para os filmes banais. Por muito que as distribuidores não quisessem ver que “Nebraska” tinha potencial dourado, como se comprova que tem até porque é um dos filmes mais nomeados desta edição, deviam pelo menos ter tido em consideração que se trata de um projeto de Alexander Payne, um realizador que, nos últimos anos, andou sempre na alta roda da indústria e que já criou obras verdadeiramente memoráveis, como “Os Descendentes” ou “Sideways”, por isso era de prever que este seu novo trabalho fosse, pelo menos, decente e merecedor de uma exibição, ainda para mais tendo em conta que, por vezes, estreiam por cá filmes maus e desconhecidos de realizadores irrelevantes.
O público português merecia poder ter a oportunidade de ver “Nebraska” nos cinemas até ao próximo dia 2 de Março, porque afinal de contas estamos a falar de um dos principais candidatos ao Óscar de Melhor Filme. É verdade que, até lá, esta produção pode ganhar uma data de estreia por parte de qualquer uma das distribuidoras nacionais que, agora, terão de pagar muito mais para comprarem o filme e se, eventualmente, isso acontecer melhor ainda, já que um grave e grosseiro erro foi evitado e reparado a tempo, agora se “Nebraska” nem sequer estrear, ou então estrear já em Abril estaremos perante uma falha imperdoável da qual já não há memória, porque é preciso recuar muitos anos para encontrar um filme nomeado ao Óscar de Melhor Filme que não chegou a estrear em Portugal, ou que então estreou mas passado um mês da entrega dos Óscares. Tal facto não se pode compreender ou sequer aceitar num país onde, por semana, estreiam, em média, cinco filmes que nem sempre obedecem a um padrão mínimo de mediatismo ou relevância. O público português merecia mais atenção, tal como o próprio filme que, face a outros filmes de estatuto semelhante, que nem sequer foram nomeados, está claramente a ser prejudicado.

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1 Comentários

  1. Bom artigo. Perfeitamente de acordo. É pena como por vezes deixam filmes de fora em Portugal que, com certeza, teriam o seu nicho de mercado. The World's End parece ser outro exemplo.

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