Realizado por John Wells
Com Meryl Streep, Julia Roberts, Ewan McGregor, Chris Cooper
Com Meryl Streep, Julia Roberts, Ewan McGregor, Chris Cooper
Emocionalmente poderoso
será porventura a melhor forma de descrever “August: Osage County”. Adaptado de
uma peça de teatro vencedora do prémio Pulitzer (da autoria de Tracy Letts),
este é claramente um filme de atores, pois são eles que comandam tudo, são eles
que mantêm o espectador colado ao ecrã através de performances genuínas em que
dão tudo o que têm, tal como acontece numa peça de teatro desprovida de grandes
artifícios técnicos. Aqui não há efeitos especiais de cair para o lado nem
cenários glamorosos. Aqui há apenas um cenário modesto e um conjunto de atores
que se despe por completo em frente às câmaras (não literalmente, como é óbvio;
isso seria território mais Lars Von Trieriano…) e que nos oferece algumas das
cenas dramáticas mais entusiasmantes e enérgicas dos últimos anos. Tudo o que o
realizador tem de fazer é saber como captar os melhores momentos da melhor
maneira possível. E isso John Wells consegue fazer, provando que sabe dirigir
os atores de forma quase perfeita, dando-lhes a oportunidade de brilhar bem
alto. A narrativa acompanha os altos e baixos de uma família disfuncional de
uma pequena cidade norte-americana. Quando o patriarca da família se suicida
após anos de sofrimento ao lado de uma esposa conflituosa e psicologicamente
perturbada, a família inteira regressa a casa para marcar presença nas
cerimónias fúnebres e é aí que todos os segredos começam a saltar das sombras,
rapidamente criando o caos no seio de um grupo de pessoas desequilibradas que
muita sujidade foi acumulando ao longo dos tempos.
Aqui não há grandes
floreados. “August: Osage County” retrata a realidade tal qual ela é,
mostrando-nos uma família que se envenena constantemente em vez de se amar,
descarregando as suas inseguranças e frustrações naqueles que lhe são mais
próximos. Há algo de mágico no simples ato de ver um grupo de pessoas a jantar
e de repente começar a espingardar insultos e acusações a torto e a direito. Não
é bonito de se ver e chega mesmo a ser triste, mas é a dura realidade e é bom
encontrar filmes que ainda tenham a coragem de encenar a realidade tal qual ela
é. É nos momentos mais íntimos que o ser humano despe a sua máscara e mostra as
suas garras. E quando os atores de serviço nos fazem acreditar que estamos a
assistir às desavenças de uma família real como se estivéssemos presentes na
sala de jantar, tudo se torna ainda mais mágico. Todo o elenco se mostra à
altura do desafio, desde o veterano Chris Cooper à jovem Abigail Breslin. No entanto,
Meryl Streep e Julia Roberts são de facto quem mais se destaca no meio de tanta
loucura e reviravolta emocional. Sempre que as duas desatam a atirar pratos, o
filme brilha ainda mais alto e tudo é filmado com elegância por John Wells, o
que torna a experiência ainda mais enriquecedora. Claro que numa obra destas
características o argumento assume também grande importância e o argumento de
Tracy Letts mostra-se à altura dos acontecimentos, incutindo profundidade e
elegância a uma história repleta de tragédia familiar. Em suma, “August: Osage
County” é uma pérola do cinema indie norte-americano, afirmando-se como um doce
bem saboroso para os fãs de um intenso, incisivo e arrojado filme de atores.
Classificação – 4 Estrelas em 5
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