Em termos qualitativos,
podemos dizer que a 34ª edição do Festival Internacional de Cinema do Porto
esteve ao nível da edição anterior. Houve decerto filmes para todos os gostos,
graças a um programa diversificado composto por obras oriundas de 34 países diferentes.
Contrariando a ideia comum (e errada) de que o Fantasporto é um festival de
cinema de terror, a edição deste ano voltou a mostrar que o Fantas tem muito
para oferecer aos cinéfilos de todos os gostos, pesos, alturas, credos e
feitios, oferecendo aos amantes da 7ª Arte a oportunidade única de visionar
obras dos géneros mais variados num ambiente de salutar convivência que não se
encontra em mais lado nenhum. Os filmes do género fantástico marcaram
obviamente presença, fazendo as delícias dos cinéfilos hardcore apaixonados
pelo gore, mas as obras da semana dos realizadores encantaram também os
cinéfilos mais exigentes e as múltiplas antestreias europeias/mundiais de
grandes produções norte-americanas não deixaram de espicaçar a curiosidade dos
espectadores mais pipoqueiros. Será então justo dizer que houve um pouco de
tudo neste Fantas rejuvenescido e repleto de caras novas, desde filmes
artísticos que puseram à prova a paciência da audiência a obras completamente
loucas que por pouco não mataram de riso alguns dos espectadores. É certo que
este ano não se vislumbrou nenhum filme 5 estrelas, mas o certame foi bom e
variado, provando que o Fantas continua bem vivo. “Vampire Academy” foi mau
demais, “Houston” foi uma seca descomunal e o grande vencedor “Miss Zombie”
deixou muito a desejar. Mas por outro lado, “Big Bad Wolves” comprovou que
Tarantino sabe bem o que diz (Tarantino elegeu-o um dos melhores filmes de
2013), “Las Brujas de Zugarramurdi” foi extremamente divertido, “La Casa del
Fin de los Tiempos” mostrou que até na Venezuela se fazem bons filmes do género
fantástico e o louco “Why Don’t You Play in Hell” colocou o Rivoli inteiro a
rir às gargalhadas. Mas o Fantasporto é cada vez mais um espaço cultural que
valoriza todas as formas de arte. E como tal, o Rivoli voltou a acolher
inúmeras exposições de pintura, conferências e apresentações de livros. Já
para não falar das centenas de turistas que trouxe ao Porto, assim como
profissionais da indústria que se mostraram disponíveis para tagarelar sobre os
seus filmes com os espectadores, num ambiente informal de amena cavaqueira. Depois
de alguns desentendimentos no seio da equipa organizadora do festival, este era
um ano de teste para o Fantasporto. Mas a nova equipa levou a árdua tarefa de
manter o nível de excelência do Fantas a bom porto e tanto Mário Dorminsky como
Beatriz Pacheco Pereira (Presidente e Diretora do festival, respetivamente)
foram surpreendidos com uma homenagem que premiou todo o seu esforço e que
encerrou a cerimónia de atribuição de prémios com um toque de emoção. Nessa
cerimónia de encerramento fez-se notar também a presença de Rui Moreira, novo
Presidente da Câmara Municipal do Porto, que fez questão de garantir que o
Fantasporto contará sempre com o seu apoio no decurso do seu mandato e que a
Câmara do Porto tem o dever de perpetuar a existência do maior festival de
cinema do país, o que de resto mereceu uma das maiores ovações da noite. Depois
de algumas reticências, é bom saber que o Fantasporto tem de novo as condições
para se manter no topo do circuito de festivais de cinema internacionais. E
assim sendo, é com muito prazer que não dizemos “Adeus, Fantas”. Com um rasgado
sorriso no rosto, dizemos antes “Até para o ano, Fantas”.
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