Pérolas Indie - Only Lovers Left Alive (2013)

Realizado por Jim Jarmusch
Com Tilda Swinton, Tom Hiddleston, John Hurt
Género - Drama

Sinopse – É na desolação romântica das cidades de Detroit e Tangiers, onde Adam (Tom Hiddleston), um músico underground, profundamente deprimido pelo rumo das ações humanas, reúne-se com Eve (Tilda Swinton), a sua resiliente e enigmática amante. A história de amor entre ambos dura há vários séculos, mas o este momento idílico é interrompido pela selvagem e incontrolável irmã mais nova de Eve. Será que conseguirão os dois amantes, sábios mas frágeis marginais, continuar a sobreviver num mundo moderno que está em colapso ao seu redor?

Crítica – A impressionante química que Tom Hiddleston e Tilda Swinton têm ao longo de “Only Lovers Left Alive” é simplesmente soberba e transforma, por si só, este drama vampírico e experimental numa obra completamente deliciosa. O intenso magnetismo das suas prestações é simplesmente viciante, já que ambos enquadram-se na perfeição nas peculiaridades das suas respetivas personagens, que têm também já de si uma alma e um carisma bem peculiar que, conjugados então com o talento e com a excentricidade destes intérpretes de luxo e escolhidos a dedo, dão azo a uma combinação perfeita de qualidade e peculiaridade absolutamente explosiva e empolgante.
Ao longo de quase duas horas, Hiddleston e Swintow pegam nas suas personagens e conseguem dar uma vida significativa a uma intriga romântica e existencial muito singular, que aproveita-se das especificidades do mundo vampírico para conquistar uma dimensão extra de filosofia temporal e psicológica, já que não há nada que se adeqúe mais às ideias de nostalgia e depressão que a noção de imortalidade. As sempre constantes interações depressivas, românticas e peculiares entre Adam e Eve justificam portanto, em pleno, uma aposta por parte do público nesta obra, mas convém, desde já, avisar que “Only Lovers Left Alive” não é nada convencional, afinal de contas estamos perante um filme de Jim Jarmusch que, como já se sabe, não deve nada ao facilitismo e ao comercialismo.
O certo é que o guião de “Only Lovers Left Alive” é dotado de um espírito muito sombrio e estranho, que dá origem a uma intriga excêntrica e não muito mexida que se prende bastante aos dramas dos protagonistas. O grande objetivo da história passa, no fundo, por explorar com algum detalhe subjetivo as peculiaridades da sua longa relação, bem como os pontos centrais das suas personalidades, especialmente a do nostálgico Adam, que é sempre descrito como um vampiro em plena depressão e com um grande sentimento de desgosto em relação às ações destrutivas dos humanos, que são apelidados de zombies por Adam mas também por Eve, que ao longo dos vários séculos, assistiram à progressiva deterioração deste mundo, algo que parece ter afetado mais o compreensivo Adam do que a desapaixonada Eve. Estas noções são-nos dadas pelas múltiplas conversas que os dois vampiros vão tendo ao longo do filme, mas é necessário reforçar que estes diálogos, embora poderosos de um ponto de vista singular, podem ser, porventura, algo tediosos e parados para alguns espetadores.
O importante aqui é destacar o poder das suas palavras que, conjugadas com a linguagem corporal de Hiddleston e Swinton, conseguem transformar esta película em algo diferente. A única coisa que não faz muito sentido neste conjunto de ideias e sentimentos é a presença de Ava, a personagem vampírica de Mia Wasikowska, que simplesmente pouco acrescenta ao filme. A sua presença até se compreende, porque a certa altura ajuda a puxar pelo lado negativo e agressivo de Adam, como também ajuda a exteriorizar a imagem clássica, predadora e violenta dos vampiros, que fora as suas pequenas interações, apenas ganha relevância na sequência final e na forma estranhamente sensual como os vampiros fazem face à sua sede. O problema é que, fora isto, a presença de Ava apenas serve para destabilizar o casal de protagonistas e interromper brevemente os seus diálogos existenciais. A outra personagem vampírica que aparece no filme, o experiente Marlowe interpretado por John Hurt, já acaba por fazer um pouco mais de sentido, porque funciona como uma espécie de mentor de Eva e, no final, até protagoniza um dos momentos mais tristes e melodramáticos de toda a história. É claro que o ponto fulcral de “Only Lovers Left Alive” são os seus dois enigmáticos protagonistas e os seus diálogos cheios de encanto, que são assim os principais responsáveis por prenderem a nossa atenção e interesse a este belo projeto sombrio mas bem extasiante de Jim Jarmusch, que para além de ter sido responsável por um casting perfeito e por uma construção magnifica de um guião ancorado em duas grandes personagens, conseguiu também dar um toque diferente e submersivo aos tradicionais filmes de vampiros.

Classificação - 4 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Subscrevo tudo o que o João diz sobre o filme. Uma crítica na mouche, diria. Contudo e lamentavelmente este filme em nada me tocou. Fiquei com pena por não ter gostado. Apreciei o elenco; Jarmusch não poderia ter escolhido melhores actores para cada um dos papéis; aliás, a Tilda encarna sempre papéis estranhos. Apreciei os adereços e todo o cenário, incluindo as posições em que eles dormiam, sempre sobrepostos um no outro; ou seja, apreciei e estive atenta a cada detalhe diferente daquilo a que estamos habituados no mundo da sétima arte. Mas mesmo assim, não me tocou; a dado momento apercebi-me que até os diálogos sobre personagens históricas, como a do Byron, não passou apenas de passagens pseudo-intelectuais, para dar aquele ar “Woodiliano”, ou europeu, pois que com tantos séculos de vida e de conhecimento, bem que podiam ter revelado algum segredo não revelado sobre tais figuras, não é? Mas isso não aconteceu; as referências que eles fizeram sobre as figuras históricas famosas são conhecidas, logo nada de novo e muito menos de extraordinário. Gosto de aprender algo de novo com os filmes; gosto de receber, da ficção, mensagens positivas ou de esperança, ou mesmo alertas da e para a realidade; aqui nada disso aconteceu, antes pelo contrário. Conclui que, afinal, a vida tem a longevidade suficiente; demasiados anos de vida seria entediante, e ainda, que o conhecimento de nada serve (ou serviu no caso deles), já que as duas personagens principais apenas assistiram, de balcão, à degradação humana e nada fizeram para a mudar para melhor. As personagens mostram claramente o egoísmo, o comodismo, a falta de espírito de sacrifício, ou a vontade de lutar para algo melhor, preferindo ficar quietinhos no seu canto a olhar e a cuidar somente da sua sobrevivência; estas personagens, embora vampirescas, são a imagem da inércia humana perante o errado e o maléfico que corre nas veias do planeta terra.
    Do género, continuo a preferir o “Drácula de Bram Stoker”. Este, sim, uma história de amor vampiresco comovente, com o qual ficamos a gostar dos vampiros. :)
    A (des)propósito, já viu o filme “De rouille et d'os”? Sem dúvida, um “must-see movie”. Se não viu, veja e, depois, dê-me o seu feedback, okay?

    Lúcia

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