Crítica - United Passions (2014)

Realizado por Frédéric Auburtin
Com Anthony Higgins, Gérard Depardieu, Jemima West, Tim Roth

Seria impossível arranjar melhor altura para lançar “United Passions”, afinal de contas estamos em pleno ano de Campeonato do Mundo de Futebol, o mais popular evento desportivo do planeta e o principal produto da FIFA, a poderosa organização que governa e regula o futebol a nível global e que, teoricamente, não tem qualquer fim lucrativo, apenas a missão de espalhar a paixão do futebol por todos os cantos do planeta, mas é claro que, por muito nobre que esta sua principal missão seja, poucos devem ser os que não acreditam que a FIFA é uma organização bem capitalista que é, muito provavelmente, uma das organizações mais polémicas, misteriosas e alegadamente corruptas do mundo. É claro que este projeto, que funciona como uma espécie de cinebiografia/ campanha de marketing desta organização, aposta mais na glorificação desta máquina capitalista e dos seus presidentes, esquecendo-se por vezes de juntar a verdade dura e crua na equação e, quando por milagre explora alguns pontos mais polémicos e negativos, não os investiga devidamente e retira-lhes qualquer ponta de gravidade ou polémica, banalizando assim qualquer lado mais negro da FIFA, chegando mesmo a justificar e glorificar tais atitudes, como acontece por exemplo com a polémica reeleição de Sepp Blater como Presidente da FIFA em 2002, com as eleições que o Uruguai e a Itália alegadamente compraram para organizarem, respetivamente, os Campeonatos do Mundo de 1930 e 1934, com os aparentes desfalques financeiros junto dos cofres da organização que, segundo o filme, foram perpetrados por membros importantes nunca identificados durante a presidência de João Havelange, e com os péssimos jogos políticos e as promessas infundadas levadas a cabo por alguns dos presidentes da FIFA para manterem-se no poder ou para arranjarem, a qualquer custo, patrocinadores que possam equilibrar as contas, enfim uma panóplia de pontos negros e polémicos que são tratados com tanta leviandade por esta cinebiografia que quase não parecem relevantes ou chocantes, mas outra coisa seria de esperar de um filme parcialmente financiado pela própria FIFA?

   

É importante mencionar que o filme propriamente dito é antecedido por um pequeno aviso que alerta o espetador para a dramatização deste projeto que, apesar de ser baseado em factos reais, aposta em muitas componentes de ficção. É portanto fácil de presumir, desde o seu início, que “United Passions” está bem longe de ser um retrato pormenorizado, realista e completo dos principais pontos da história da FIFA, mas mesmo que esse aviso prévio não existisse, tal perspectiva torna-se bem evidente ao longo de um filme que, para além de desorganizado e pouco informativo, atropela vários factos históricos de uma forma incompreensível com o objetivo claro de colocar num pedestal certos homens e eventos que estão longe de merecerem uma atenção assim tão positiva. Se o objetivo dos produtores de “United Passions” era explorar de forma imparcial a história positiva e negativa da FIFA, então tal objetivo falhou redondamente, porque para além de extremamente parcial e nada objetivo para com a verdade, este projeto cinebiográfico é um hino à falta de contexto e informações concretas, bem como uma completa salgalhada que em nada clarifica ou retrata de forma pormenorizada, histórica ou objetiva a história centenária de uma das organizações mais questionadas pelo público e imprensa. É claro que os produtores, entre os quais a própria FIFA, nunca quiseram retratar a verdade pura e o resultado está agora à vista de todos sob a forma de uma longa metragem falaciosa e claramente tendenciosa que, no fundo, pouco mais é que uma manobra de marketing de uma organização bem poderosa.
O que importa no entanto salientar é que, pese embora seja um filme repleto de falsos positivismos, “United Passions” acaba por mostrar, apesar do seu evidente parcialismo, que a FIFA tem vindo a perder qualidades desde a sua fundação e que, por esta altura, parece ter muitos mais podres do que aquilo que aparenta, no entanto, tais suspeitas nunca são objetivadas e o filme acaba por se perder na mensagem espiritual da FIFA, que assenta no projeto louvável de levar o futebol a todas as pessoas de todas as idades, raças e crenças. O problema é que FIFA parece ter atirado, já há algum tempo, esta mensagem para segundo plano, mas a julgar por este filme tal nunca aconteceu. Num plano à parte do guião, tenho também que destacar pela negativa todas as prestações do seu elenco, nomeadamente dos três principais atores: Gérard Depardieu (Jules Rimet), Tim Roth (Sepp Blater) e Sam Neill (Joâo Havelange), que carregam os três Presidentes da FIFA que interpretam com uma dose extrema de estereótipos e uma carga dramática quase idiotica que não enobrecem de todo esta película e as figuras retratadas, no entanto, no meio da péssima confusão que é "United Passions", as suas performances até passam como um aspecto puramente secundário. Em jeito de brincadeira ainda pensei ficar até ao final dos créditos para ver se encontrava uma cena extra que explicasse a polémica entrega do Campeonato do Mundo de Futebol de 2022 ao Qatar, mas parece que o filme parou convenientemente a sua história com o anúncio do Campeonato do Mundo de Futebol em 2010 na África do Sul, esquecendo-se sem surpresa de referir também a polémica que envolveu a eleição da Alemanha para organizar o Campeonato do Mundo em 2006.  

  Classificação - 1 Estrela em 5

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