Pouco depois do lançamento da sua segunda obra, o escritor e colaborador do Portal Cinema Rui Madureira fala-nos do seu trabalho, revelando o modo como cria cenários tão fantásticos que parecem desenrolar-se debaixo dos nossos olhos com a vivacidade de um filme dos mestres da ficção fantástica.
Rui, este é já o teu segundo livro, como te surge a ideia
para a sua escrita?
Geralmente surge de uma sequência visual, de uma imagem que me tenha
chamado a atenção ou de um tema pelo qual nutra grande carinho e tenha o desejo
de abordar. Por exemplo, a pintura “O Último Julgamento”, de Hans Memling,
serviu-me de inspiração para construir a narrativa do Abaddon, enquanto o Depuração
nasceu do desejo que sempre tive de escrever uma história de fantasmas. Por
vezes as ideias surgem do nada. Forma-se uma determinada imagem na minha cabeça
e a história vai-se desenvolvendo a partir daí.
E de que modo se vai desenvolvendo essa ideia?
Qualquer ideia que tenha para uma nova história passa sempre por um período
de gestação. Faço os apontamentos que tenho a fazer e deixo a ideia repousar
por uns tempos. Se passado esse tempo achar que a ideia tem pernas para andar e
que novos desenvolvimentos foram surgindo, então dedico-me por inteiro a essa
história e inicio a fase de planeamento, que envolve a pesquisa e a construção
do esqueleto narrativo.
Quanto tempo demorou a
escrever este?
Sensivelmente um ano e meio, se tivermos em conta as três fases de
construção de um livro: o planeamento, a escrita propriamente dita e a revisão
do texto.
Que tipo de pesquisa
fazes para as tuas obras?
Há livros que requerem mais pesquisa do que outros, mas geralmente procuro
livros e artigos que abordem o tema sobre o qual me estou a debruçar. Sinto que
é importante avançar para a fase de escrita apenas e só quando já domino
minimamente o tema do novo livro.
Perpassam as tuas obras, referências a inúmeros imaginários. Quais são a tuas
influências?
O cinema é, sem sombra de dúvida, a minha maior influência. Tento escrever
livros que sejam muito visuais e que se assemelhem o mais possível a um filme.
Sem essa ligação estreita ao cinema, ser-me-ia mais difícil escrever as minhas
histórias.
A que fatia de público
te diriges?
Tento escrever histórias que possam apelar a todos os tipos de público,
pois acredito que uma boa história deve possuir múltiplas facetas. Porém, como
me dedico essencialmente ao género do fantástico, talvez possa dizer que os
meus livros se dirigem maioritariamente ao público jovem-adulto.
Tiveste alguma
dificuldade em publicá-lo?
Para um autor que não tenha um nome estabelecido na indústria, é cada vez
mais difícil encontrar uma editora que arrisque publicar o seu livro, dado que
a probabilidade de vender muito é reduzida e as editoras olham cada vez mais
para o mercado editorial como um negócio. Felizmente, o Grupo Porto Editora
criou a chancela Coolbooks para contrariar isto mesmo, dando uma oportunidade
aos novos autores de terem os livros publicados de uma forma minimamente
decente. Se não fosse a Coolbooks, muito provavelmente o Depuração continuaria enfiado na gaveta.
Ao contrário do anterior, este livro surge em e-book. Qual é a tua opinião
sobre este mercado?
Os e-books não têm o romantismo do livro em papel, mas tenho de admitir que
são o futuro da indústria. Há países onde o e-book já vende mais do que o livro
em papel, de modo que temos de nos render às evidências e dar uma oportunidade
a este novo formato de leitura. A maior vantagem do e-book é que fica
imediatamente disponível para leitura em qualquer parte do mundo. Neste
formato, a questão da falta de visibilidade deixa de se colocar.
Há alguma
possibilidade de tradução em outras línguas em vista?
Por enquanto, não. Mas continuo esperançado de que isso venha a suceder no
futuro.
Tens alguma ideia
sobre um próximo projecto?
Sim, estou de momento a preparar um terceiro romance. É um regresso ao
subgénero do épico de fantasia (depois de Abaddon)
e terá como base a mitologia grega. É uma história que terá como protagonistas
vários heróis da mitologia grega, assim como os próprios deuses do Olimpo.
Ainda estou a ultimar o esqueleto narrativo, mas devo partir em breve para a
fase de escrita propriamente dita.
Como foi a recepção do
teu anterior livro? Isso serviu de alguma forma de incentivo ou de
desmotivação?
A nível crítico a recepção foi boa, pois até hoje o Abaddon não teve nenhuma apreciação verdadeiramente negativa, muito
pelo contrário. O problema é que o livro não teve grande visibilidade, tendo
ficado pouco tempo nas maiores livrarias do país. Senti-me um pouco desmotivado
no início, pois acalentava algumas ilusões. Porém, essa experiência obrigou-me
a crescer um pouco e agora tenho novas esperanças para o que o futuro há de
trazer.
3 Comentários
E onde posso adquirir os livros, caro Rui?
ResponderEliminarO livro pode ser comprado directamente aqui:
ResponderEliminarhttp://www.coolbooks.pt/livraria/ficha/depuracao?id=15672040
Caro Ricardo,
ResponderEliminarComo a Ana Campos teve a bondade de informar, o Depuração pode ser descarregado a partir do site da Coolbooks ou através do site da Wook (www.wook.pt). O Abaddon encontra-se à venda na loja da Europa-América no Porto (na rua 31 de janeiro) e poderá também ser encomendado através da Wook, da Bertrand ou da própria editora (Edium Editores).
Cumprimentos,
Rui Madureira