Com Luke Evans, Sarah Gadon, Dominic Cooper
Já longe vão os tempos em que a junção das palavras Drácula e Filme significavam qualidade, entusiasmo e expectativa. Já longe vão os tempos do eterno clássico "Nosferato" (1922) ou do fantástico "Bram Stoker's Dracula", duas pérolas do cinema de eras completamente distintas, mas que fazem justiça ao valor da lenda vampírica imortalizada por Bram Stoker no seu genial romance best seller. A figura de Drácula e do Vampiro está, por estes dias, bastante desgastada e muito longe do que outrora foi. É certo que, ocasionalmente, os vampiros lá aparecem num ou noutro filme indie de relativa qualidade ou numa série mais apoteótica, mas nada de muito assombroso ou imaculado, algo que nos leva a chegar à devastadora conclusão que esta outrora nobre criatura da noite e do terror tem, por estes dias, a sua imagem um pouco distorcida e desgastada junto do grande público, tal como a figura máxima desta lenda já centenária, o Conde Drácula, que agora regressa às salas de cinema para mais uma exposição cinematográfica comercial sem o brilho ou o entusiasmo de outros tempos. Já se esperava que "Dracula Untold" fosse um produto comercial sem o esplendor ou a garra da sua base mitológica e, embora esteja uns patamares acima do desastre que pessoalmente cheguei a antever, torna-se bastante difícil nutrir qualquer empatia, emoção ou paixão por um filme ameno a todos os níveis.
Tal como se depreende pela génese do seu título, "Dracula Untold" explora os primórdios do Conde Drácula, ou seja, aprofunda as suas origens e tenta criar uma espécie de cinebiografia base do que se passou antes e imediatamente após a sua transformação em vampiro. Esta abordagem, embora seja relativamente diferente do que se tem feito nos últimos tempos, não deixa de ter os seus grandes dissabores. O seu principal defeito prende-se com a exagerada novelização e melodramatização do Conde Drácula que, graças às suas sempre presentes dúvidas existências e ao enfoque das suas fragilidades emocionais, acaba por ser excessivamente humanizado e banalizado, perdendo assim aquele seu impeto e apelo sombrio tão clássico e característico. É por isso sempre notório que o terror, o suspense e o medo não moram neste produto, que se aproxima assim mais de um drama de ação do que propriamente de um drama de terror. Ao despir o Conde Drácula da sua génese macabra, violenta e terrorífica, "Dracula Untold" acaba apenas por dar enfâse à sua parte humana que, embora tenha o seu devido valor, não consegue ancorar sozinha um filme que ambicionava prestar uma homenagem justa e categórica à figura do Conde Drácula que, classicamente, apresenta também o seu lado frio, calculista e medonho. É impossivél negar que existe alguma qualidade na forma como esta produção explora as origens do Conde Drácula e explica a sua natureza humana, mas em vez de aproveitar esta base narrativa para ancorar e incentivar uma abordagem mais puxada ao terror e à génese desta lenda, como aliás seria lógico, "Dracula Untold" acaba por se perder em subtramas românticas, bélicas e emotivas sem grande interesse que diluem o lado negro e trágico de uma figura que, aqui, prende-se demais a uma imagem desgarrada e fragilizada sem aquela classe e valor que a distingue das outras lendas.
Esta banalização dramática do Conde Drácula destruiu o filme. A sua humanização e dramatização seria sempre bem vinda e refrescante, porque tal abordagem criaria sempre um contexto diferente e útil para a personagem proliferar longe dos clichés ligados à sua lenda, mas é claro que para ter o sucesso merecido, tal abordagem teria que ser idealizada e conduzida com muito cuidado e excelência. Tal como se percebe, os criadores de "Dracula Untold" não tiveram esse cuidado e o resultado final salta agora a vista, porque embora a sua presença humana esteja lá, tudo o resto que categoriza o Conde Drácula não está e a sua ausência faz-se sentir, aliás a própria presença humana da personagem foi levada a um excesso que destruiu grande parte da sua imagem clássica e impediu que este filme alcançasse outros voos ou uma maior aceitação. É importante, contudo, salientar que embora o seu guião esteja longe de ser um exemplo justo de qualidade e imaginação, "Dracula Untold" consegue ainda assim ser um daqueles filmes de vampiros amenos. É certo que a sua figura central não tem o poder que deveria ter e, como é óbvio, a intriga do filme sofre com isso, mas apesar destas falhas crassas, é inegável que estamos perante um produto com uma boa vertente técnica que ajuda a reforçar as batalhas e lutas que vão aparecendo no grande ecrã, conseguindo também dar um apelativo ar gótico e negro a todo o projeto, algo que claramente valoriza o seu quadro geral. Já que se fala em valorização também tenho que mencionar a performance de Luke Evans que, apesar da frágil construção narrativa da sua personagem, entrega-nos um Conde Drácula competente, tendo em conta as potencialidades e oportunidades existentes. É óbvio que tais qualidades são insuficientes para salvarem "Dracula Untold", mas numa visão geral torna-se difícil detestar esta obra. É claro que também é impossível gostar dela, mas o resultado final podia ter sido bem pior e, apesar de ser mediano e de fazer um retrato pouco clássico da sua figura central, verdade seja dita que está longe de ser um grande desastre.
Classificação 2 Estrelas em 5
2 Comentários
¡Estupenda! En general me parece que la historia de Drácula es maravillosa es uno de los clásicos de la literatura, sin embargo hay muchas versiones que para bien o para mal han logrado atraer la atención del público, cada una con sus puntos a favor y en contra, al final del día es cuestión de ser tolerante y quedarte con la versión que más te guste.
ResponderEliminarA história de Dracula é fenomenal, mas nestes filme não me convenceu.
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