Realizado por Pedro Costa
Com Tito Furtado, Antonio Santos,
Vitalina Varela
Labiríntico, sinuoso e sombrio
como só a mente humana pode ser, "Cavalo
Dinheiro", obra já premiada de Pedro Costa, é um filme sobre os mais
desamparados, os imigrantes africanos com problemas mentais que vivem no nosso
país.
Recuperando a personagem de
Ventura [“Juventude em Marcha” (2006), “No Quarto da Vanda” (2000) e “Ossos”
(1997)], Pedro Costa leva o espectador ao longo de quase duas horas, a penetrar
no inferno interior daqueles que sofreram as maiores provações ao tentarem uma
vida melhor em Portugal, aqueles que com o sacrifício da sua alma e do seu
corpo, acabaram por penhorar o equilíbrio do seu espírito.
Sem nada, esquecidos por todos,
longe da sua terra, estas personagens fazem-nos pensar que a descolonização
(tão conveniente quanto hipocritamente criticada agora) ainda não acabou, pois,
o rasto de destruição que deixou está presente quer na cabeça dos africanos que
tanto sofreram subjugados durante os anos de domínio português antes, como
subjugados pelos patrões oportunistas depois, quer na cabeça dos militares
portugueses que nela foram obrigados a participar arruinando, também eles a sua
sanidade mental. Tema tabu ele está presente de forma silenciada na maioria das
famílias portuguesas e na vida de todos os africanos que esperaram encontrar no
nosso país a vida que lhes foi interdita na sua terra natal.
O tratamento de questões cujas chagas ainda estão tão abertas na sociedade portuguesa, cria no espectador um desconforto do início ao fim do filme. Os corredores daquele hospital psiquiátrico são tão frios como a nossa consciência social é, de uma forma geral, em relação a este problema. As personagens são corpos a quem foi retirado o fogo da energia vital, rostos sóbrios, vozes sussurradas de quem já não grita por saber que ninguém o ouve. “Mão de obra barata” diz a música cantada quase como uma ladainha, um bichinho que tentamos calar na nossa mente mas que está lá e Pedro Costa não só o ouve como nos obriga a ouvi-lo também.
O tratamento de questões cujas chagas ainda estão tão abertas na sociedade portuguesa, cria no espectador um desconforto do início ao fim do filme. Os corredores daquele hospital psiquiátrico são tão frios como a nossa consciência social é, de uma forma geral, em relação a este problema. As personagens são corpos a quem foi retirado o fogo da energia vital, rostos sóbrios, vozes sussurradas de quem já não grita por saber que ninguém o ouve. “Mão de obra barata” diz a música cantada quase como uma ladainha, um bichinho que tentamos calar na nossa mente mas que está lá e Pedro Costa não só o ouve como nos obriga a ouvi-lo também.
Não é um filme fácil nem de
visionamento reconfortante. Entre uma plástica dantesca e uma aproximação ao
documentário, "Cavalo Dinheiro" é uma
chapada na hipocrisia social com a beleza e elegância que só na arte podemos
encontrar. Obra singular no panorama do cinema português, o mérito do filme foi
reconhecido no festival de Locarno, onde estreou e recebeu três prémios,
incluindo o de Melhor Realizador, venceu ainda a competição internacional do
oitavo Festival de Cinema de Vanguarda, na Grécia, e na 29.ª edição do Festival
Internacional de Cinema de Mar del Plata, na Argentina, o filme conquistou uma
menção especial para a fotografia. Para
além destes prémios, a revista Sight and Sound, do British Film Institute, classificou "Cavalo Dinheiro" como o terceiro
melhor filme de 2014.
Classificação - 4,5
Estrelas em 5
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