Crítica - Big Eyes (2014)

Realizado por Tim Burton
Com Amy Adams, Christoph Waltz, Terence Stamp

Durante toda a sua carreira, Tim Burton foi sempre fiel ao estilo que o transformou num autor. Universos fantásticos, mais ou menos negros, contrastados, dementes, expressionistas. Para esta sua última obra, dá a ideia de que Burton pode ter encontrado uma espécie de alma-gémea das suas tendências artísticas nas pinturas da pintora Margaret Keane, famosa nos anos 50 pelos seus quadros de crianças e jovens, com olhos exageradamente grandes. 
Afinal, “que Arte é esta?”- pergunta um dos críticos que aprecia os retratos de Margaret numa das cenas do filme. “Expressionismo”- responde alguém, dando voz à sua autora e também ao realizador do filme. Pois é disso mesmo que trata esta interessantíssima viagem de Tim Burton pelo mundo da Pintura: Arte, uma só, mas em variadas formas.


O naipe de actores escolhido é, como já sabíamos, absolutamente notável: Amy Adams no papel de Margaret Keane, a artista introvertida que comunica com o Mundo através dos seus quadros. Christoph Waltz como Walter Keane, o seu marido irresistível e sedutor, mas também vigarista e pouco escrupuloso. A química entre os dois é evidente, enquanto acompanhamos Walter a funcionar como “agente” de Margaret e esta a aceitar que seja o marido a brilhar em seu lugar, a bem do bem-estar familiar e do futuro de uma filha do primeiro casamento, que sempre a acompanha ao longo de todo o filme. Os talentos do personagem Walter não passam pela pintura. Mas só ele é capaz de “vender” a Arte da mulher. E é por este mundo de ilusão que nos deixamos seduzir pelos encantos dele! Porque assim chegamos aos “quadros dos olhos grandes”. E é esse o nosso maior interesse enquanto espectadores!
Ao contrário de vários outros Burtons, este filme vive de uma paleta cromática alegre e quente (basta ver a sequência onde o casal se conhece, pintando nas margens de um rio, ou os planos da cidade e das viagens, para depararmos com tons azuis-claros, laranjas e amarelos algo inéditos na obra do cineasta). Há alegria na narrativa, charme na apresentação dos quadros, encanto assumido de um Artista (realizador) pela obra de outra (pintora).
A acção atrai-nos, queremos que os quadros tenham sucesso, vamos descobrindo que sim, que o têm, pouco nos importa quem foi o seu autor. A partir de um dado ponto no filme, a Vida sobrepõe-se à Arte e passamos a querer que seja feita justiça. Mas, conseguido o objectivo, podemos voltar a apreciar a Arte, e já de consciência tranquila. É esse o trajecto que fazemos ao visionar este Big Eyes, uma obra notável que, se olharmos para além do óbvio, tem bem mais aspectos comuns a outros projectos de Tim Burton do que parecia à primeira vista, ou quando lemos as intenções desta produção. Ou não seja Burton um autor, em vez de um simples artesão de indústria!

Classificação - 4 Estrelas em 5

Autor: António Pascoalinho

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