Realizado por Alice Rohrwacher
Com Maria Alexandra
Lungu, Alba Rohrwacher, Monica Bellucci
Grande
Prémio do Júri da última edição do Festival de Cannes e nomeado para a Palma d’Ouro
do mesmo evento, Le meraviglie de Alice
Rohrwacher abriu, em antestreia nacional, a 8ª edição da Festa do Cinema
Italiano que decorre em Lisboa de 25 de Março a 2 de Abril, seguindo, depois,
para diversos outros pontos do país.
O mundo, visto pelo olhar de uma jovem púbere, Gelsomina (a estreante Maria Alexandra Lungu) é um lugar com uma lógica muito própria, quase incompreensível aos nossos olhos, mas de uma grande coerência interna. Filha de uma família numerosa de apicultores estabelecidos num lugar longínquo do Norte de Itália, Gelsomina sente a necessidade de fazer com que tudo funcione da forma como sempre funcionou, chamando a si as responsabilidades que o seu sonhador e lunático pai e a sua alienada e apaixonada mãe não conseguem assumir.
O mundo, visto pelo olhar de uma jovem púbere, Gelsomina (a estreante Maria Alexandra Lungu) é um lugar com uma lógica muito própria, quase incompreensível aos nossos olhos, mas de uma grande coerência interna. Filha de uma família numerosa de apicultores estabelecidos num lugar longínquo do Norte de Itália, Gelsomina sente a necessidade de fazer com que tudo funcione da forma como sempre funcionou, chamando a si as responsabilidades que o seu sonhador e lunático pai e a sua alienada e apaixonada mãe não conseguem assumir.
Não
sentimos, no entanto, em Gelsomina, nenhuma revolta pelo excesso de obrigações.
Pelo contrário, ela assume-as como parte integrante da família que ama e que a
ama, a única que conhece, a sua. As coisas são como podem ser. Rodeada de irmãs
mais novas (são quatro filhas ao todo), brincalhonas e cheias de expedientes
para se esquivarem ao trabalho, perfeitamente consciente de todas as funções
que deve executar no processo algo arriscado de extracção do mel das abelhas
para venda, Gelso vê-se, de repente, face a face com um novo desafio. O tempo
passou e, se ela já não se identifica totalmente com o universo das irmãs e com
a visão que os pais ainda têm dela (corporizada num camelo como animal de
estimação), também não consegue acompanhar as outras adolescentes suas vizinhas
já que o seu mundo é totalmente único.
Um
programa de televisão e a chegada de um problemático miúdo alemão farão com
que, numa ilha mágica como mágico é o modo como vê o mundo, descubra esta nova
fase do crescimento e consiga mesmo conciliar as soluções encontradas com o seu
papel dentro da sua louca família, tão louca, ao fim e ao cabo, como acabam por
ser, de uma maneira ou de outra, todas as famílias. A
sensualidade despertada é tão pueril e inocente que ganha contornos mágicos.
Não há qualquer sexualização nem divagações sobre o amor erótico. Pelo contrário,
todos esses elementos que, num momento ou noutro, despertam desconfianças no
espectador adulto nunca passaram disso, de um confronto entre a nossa visão
pouco límpida e a vivência idílica daquelas miúdas.
Com
algumas dificuldades de manutenção do ritmo e talvez algum excesso lírico, esta
obra é uma homenagem, contida no próprio título, à entrada na adolescência num cenário
completamente alheio às questões que normalmente nos ocorrem quando pensamos
nesta fase da vida (drogas, rebeldia, sexo, conflitos intergeracionais), é a
criação de um mundo único, a estruturação de uma mundividência pessoal com a
qual não conseguimos deixar de nos identificar se algum dia fomos adolescentes.
Não por acaso o nome próprio da realizadora é também ele Alice.
Classificação - 4 Estrelas
em 5
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