Pérolas Indie - Liza, The Fox Fairy (2014)

Realizado por Károly Ujj Mészáros
Com Mónika Balsai, Szabolcs Bede Fazekas, David Sakurai 
Género - Comédia/ Fantasia

Sinopse - Liza é uma tímida enfermeira que, após a morte da sua patroa, vê-se envolvida no epicentro de uma história de fantasia, crime e romance que a leva a pensar que está amaldiçoada a ficar solteira para sempre.

Crítica - Produzido na Hungria, um país que marca presença na terceira linha do cinema europeu, "Liza, The Fox Fairy" é um belo e divertido exemplo de imaginação e popularidade cinematográfica que se afasta sem qualquer complexo das pesadas, filosóficas e subjetivas obras do criador ex-libris desse país, o icónico realizado Béla Tar que, para quem não sabe, pode ser descrito como uma espécie de Manoel de Oliveira magiar. Embora Tar seja praticamente o sinónimo imediato para a 7ª Arte da Hungria, "Liza, The Fox Fairy" mostra perfeitamente que a Hungria não se restringe ao seu estilo particular e que há muito mais potencial neste país, aliás já se começa a perceber que é o lar de uma nova vaga de talentos cinematográficos com ideias muito especiais onde se incluem, por exemplo, os já conhecidos Benedek Fliegauf, Kornél Mundruczó ou Szabolcs Hajdu, mas também Károly Ujj Mészáros, um cineasta com mais de dez anos de experiência que nos trouxe a Portugal e ao FantasPorto 2015 esta comédia de fantasia que, desde já, classifico como uma obra de grande qualidade que, como curiosidade, posso dizer que começou o seu percurso cinematográfico no Festival de Cannes em 2010, onde o seu conceito foi apresentado a possíveis investidores.
O resultado dessa jornada iniciada há já cinco anos culminou com a sua apresentação no FantasPorto 2015, isto após ter estreado nas salas de cinema húngaras, onde foi visto por mais de dezassete mil pessoas ao longo do seu primeiro fim-de-semana em exibição, um número muito positivo para os parâmetros comerciais de um filme magiar. E tal sucesso prende-se com o estilo desta produção independente mas com um orçamento bem superior à normalidade dos filmes magiares, já que para dar vida a esta produção foram despendidos quase dois milhões de euros que, em última análise, foram perfeitamente empregues por uma equipa de personalidades talentosas e muito responsáveis que, perante o que tinham à sua disposição, conseguiram arriscar e criaram assim um projeto muito divertido e bem diferente, cuja curiosa intriga é apoiada por uma componente técnica primorosa e espetacular que lhe confere uma outra dimensão.
Estes elementos técnicos, que vão desde uma extravagante banda sonora a uma inesperada variedade de efeitos especiais muito bem produzidos e habilmente incluídos, conseguem conferir, em conjunto, uma vivacidade especial a esta obra, onde, por exemplo, pequenos detalhes produzidos por efeitos CGI bastante tímidos acabam por fazer toda a diferença. E tais efeitos até podem ser banais para os padrões superiores de Hollywood, mas a sua presença aqui destaca-se desde logo como uma agradável surpresa que foi bem aproveitada e produzida pelos seus responsáveis que, assim, deram a "Liza, The Fox Fairy" um toque muito especial que se mescla perfeitamente com a extravagância natural da sua trama. Para além de impressionantes detalhes visuais, o espectador tem também a oportunidade de ficar deliciado com uma banda sonora completamente maluca, onde sonoridades asiáticas e nórdicas se mesclam num ambiente de pura descontração, diversão e fantasia.
E tal ambiente advém sobretudo de uma trama já de si extravagante e imaginativa, onde seguimos a jornada de Liza, a tímida protagonista que só quer encontrar o amor da sua vida e viver feliz para sempre a seu lado, mas tal desejo é dificultado pelo fantasma de um cantor pop japonês que a quer só para si e, apesar de Liza atrair certos pretendentes com as suas loucas expetativas e mudanças inesperadas, todos eles acabam por chocar com a figura que representa a sua maldição romântica. Esta luta que Liza trava por encontra o seu verdadeiro amor não é muito romântica, mas sim muito divertido e estimulante, aliás torna-se difícil para qualquer espectador não ficar envolvido ou curioso com o desenvolvimento e desfecho desta jornada tão peculiar que, para além de muita comédia e de um certo romance, brinca também com vários elementos de fantasia que enriquecem toda a estrutura narrativa. A juntar a  tudo isto está uma prendada lista de personagens bem construídas e caricatas, onde Liza se destaca devido à sua doçura e bondade inerente, mas os Reis do filme acabam mesmo por ser, em primeiro lugar, o fantasma Tomy Tani e, em segundo, o estranho polícia Zoltán, ambos interpretados respetivamente por David Sakurai e Szabolcs Bede Fazekas que, Juna temente com Mónika Balsai, a doce Liza, formam um trio carismático de excelentes protagonistas de uma trama também ela magnífica.
Numa breve descrição, "Liza, The Fox Fairy" destaca-se como uma boa produção popular onde a comédia, o romance e a fantasia unem-se num casamento perfeito com várias peculiaridade muito positivas que fazem desta obra um filme de grande qualidade e com um forte apelo para vários quadrantes do grande público. Aliás, "Liza, The Fox Fairy" tem um amplo potencial para brilhar fora da Hungria e, quem sabe, chegar aos Estados Unidos onde será certamente bem recebido. É um filme comercialmente divertido e muito bem feito que, por entre piadas politicamente corretas e hilariantes, passando também por pormenores deliciosos do ponto de vista narrativo ou técnico, consegue manter o espectador agarrado a tudo o que tem para oferecer e, no final, deixa no ar uma sensação de boa disposição bem contagiante. A Hungria pode até não ser o palco de bons filmes populares ou de ampla dimensão comercial, mas não há dúvidas que este "Liza, The Fox Fairy" é um perfeito representante dessa categoria e, assim, Mészáros acaba por demonstrar a cineastas de mercados secundários que, com pouco à sua disposição mas com muita imaginação e sobretudo bom gosto, é possível criar uma produção que se mostra capaz de rivalizar, a nível de popularidade e qualidade, com os filmes mais comerciais dos principais mercados estrangeiros.

Classificação - 4 Estrelas em 5

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