Crítica - Brooklyn (2015)

Realizado por John Crowley
Com Saoirse Ronan, Domhnall Gleeson, Michael Zegen

Baseado no homónimo romance de Colm Tóibín, "Brooklyn" é um belo drama de época que nos transporta até aos Anos 50 do Século XX, onde somos apresentados à jovem Eilis Lacey, uma irlandesa que, com a ajuda da sua irmã mais velha, trocou a Irlanda por Brooklyn para tentar conquistar uma nova vida com mais oportunidades. Os seus primeiros tempos nos Estados Unidos da América são complicados, mas com a chegada de um inesperado romance, Eilis começa a deixar para trás a tristeza e as saudades de casa, até ao dia em que o que ela deixou para trás volta a ressurgir sob o pretexto de uma tragédia, obrigando-a então a escolher entre os dois países e as possibilidades de vida que cada um deles lhe oferece.
A jovem Eilis é interpretada com uma enorme paixão e persuasão pela jovem Saiorse Ronan, que nos presenteia em "Brooklyn" com a melhor performance da sua jovem carreira desde a sua prestação de luxo em "Atonement" (2007), outro drama de época tão prazeroso como "Brooklyn". A par da bela performance de Ronan, o elenco de "Brooklyn" conta ainda com prestação bem positivas por parte do jovem ator Emory Cohen e dos mais experiente Julie Walters e Jim Broadbent. Embora positivas, estas performances acabam sempre por ficar em segundo plano perante a dimensão e a força da prestação de Ronan, cuja enorme qualidade enobrece um filme já de si forte. É por tudo isto que é mais que justa a sua nomeação ao Óscar de Melhor Atriz.


Ao nível da narrativa, "Brooklyn" não deixa muito a desejar, cumprindo assim com as suas possibilidades e com o que se esperava desta obra. A sua história aposta forte no romance por intermédio das duas paixões que Eilis vive durante as suas estadias nos Estados Unidos da América e Irlanda. Estas paixões, que são sempre pautadas por um equilíbrio convincente e que ajudam também a puxar por um drama mais nobre e inerente ao filme, puxam pelo espectador sobretudo pela sua simplicidade. A vida romântica de Eilis nunca se torna avassaladora nem aborrecida. As suas escolhas e dilemas neste campo são sempre explorados com um profundo toque de subtileza que nunca apelam ao banalismo do romance ou ao melodramatismo humano. Estas relações são também pautadas por uma genuína dose de incerteza relativamente à sua provindouridade, sendo que esta imprevisibilidade acaba por beneficiar e muito a reta final do filme.
Este plano amoroso ajuda também a traçar um competente retrato humano de Eilis. A sua visão do amor põem em contexto a sua personalidade, mas também desempenha um papel fundamental na hora de contextualizar as suas decisões mais privadas. Os elementos românticos presente em "Brooklyn" não são portanto meramente decorativos, já que cumprem funções necessárias muito importantes.


A par da vertente romântica que domina, direta e indiretamente, boa parte do filme, "Brooklyn" aposta também na evidência de questões humanas e históricas. O seu enredo dá um importante ênfase ao retrato histórico da imigração, destacando o fluxo de imigração em massa da Irlanda para os Estados Unidos da América desde os finais do Século XIX. E tal destaque é feito por intermédio da complicada ambientação de Eilis à vida nos Estados Unidos, mas também por intermédio de outras sequências, um pouco mais secundárias, que demonstram a vida e as dificuldades da comunidade irlandesa nos Estados Unidos. "Brooklyn" também consegue criar um curioso paralelismo entre o quotidiano nos Estados Unidos e o quotidiano na Irlanda que, de certa forma, ajuda também a realçar a necessidade que os jovens irlandeses sentiam em trocar o seu país pelo continente norte-americano. A sua trama proporcional explora também uma interessante dimensão familiar que puxa por questões mais emotivas que apelam ao sentimento, até porque é no seio destas questões familiares que surgem os problemas relativos à família e à saudade, bem como a maior tragédia desta produção que dá mote à sua segunda parte.
Para além de um enredo e de um elenco de enorme dimensão, "Brooklyn" beneficia também de uma vertente técnica muito zeloso. O espírito nostálgico e de época de "Brooklyn" é evidenciado pela competente direção de John Crowley, mas acima de tudo pela delicada fotografia de Yves Bélanger e pela relevância de aspetos técnicos mais secundários mas incrivelmente detalhados, como o guarda roupa ou o design de produção. Isto tudo faz de "Brooklyn" um filme muito bonito e bem feito que, perante tudo o que nos oferece, consegue destacar-se facilmente como um dos melhores dramas e romances de época que Hollywood produziu em 2015.


Classificação - 4 Estrelas em 5

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4 Comentários

  1. É isso mesmo, João. Tudo o que diz, subscrevo. Eu gostei muito do filme por ser, precisamente simples, mas revolto em sentimentos vários. A Saoirse Ronan está muito bem, dando aquela serenidade necessária à tempestade de emoções que ela carrega dentro de si.

    Tudo de bom! :)

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    1. Obrigado pelo comentário Lucy. O filme surpreende pela positiva.

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  2. Brooklyn é daqueles filmes de época que, a não ser bem apresentado, poderia perder facilmente a nossa atenção, no entanto, não é isso que sucede. O realizador consegue que nos identifiquemos muito facilmente com a altura que retrata e leva-nos numa viagem muito bem orquestrada por este pedaço da história quer irlandesa quer americana.

    Apesar de este ser o core da história, a mesma, ao ser apresentada pela jovem irlandesa Eillis ganha outra dimensão e beleza. A jovem atriz personifica bem a dor e a alegria de uma emigrante e faz-nos envolver em toda a narrativa. Uma prestação acima da média e que se destaca entre o elenco de Brooklyn.

    É um filme merecedor de todas as nomeações que tem recebido e espero que possa ser uma agradável surpresa nos óscares. Recomendo vivamente a sua visualização e mais! Acredito piamente que o devam fazer no cinema, porque é uma bela homenagem que fazem a esta bela obra. 8/10 foi a minha classificação.

    Cumprimentos cinéfilos,

    Cheetitos ;)

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