Crítica - Room (2015)

Realizado por Lenny Abrahamson
Com Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen

A par de "Spotlight" (2015), "Room" foi uma das sensações do Festival de Toronto de 2015 e, tal como sucedeu com o drama de Tom McCarthy, muitos foram aqueles que o apontaram já em Setembro como um dos potenciais nomeados ao Óscar de Melhor Filme. A previsão concretizou-se e "Room" conquistou, merecidamente, um respeitado lugar entre os candidatos ao principal prémio do cinema mundial. É óbvio que apostar na vitória final "Room" é descabido, mas o que é certo é que este fantástico drama de Lenny Abrahamson já provou o seu valor, não precisando de um Óscar para justificar a sua qualidade. A jovem Brie Larson poderá, ainda assim, pautar o palmarés de "Room" com um Óscar, já que esta promissora atriz brinda-nos aqui com uma performance de luxo que justificará em pleno a atribuição dessa honra. A performance de elevado calibre de Larson não é a única prestação de luxo de "Room", já que o ainda mais jovem Jacob Tremblay também nos brinda com uma performance de louvor que rouba ainda mais atenções que a de Larson. 
Este jovem prodígio, presentemente com nove anos, interpreta Jack, um rapaz que vive sozinho com a sua jovem mãe que sempre o manteve feliz e seguro. Os dois levam uma vida normal em quase todos os aspetos, menos um, já que ambos sempre viveram confinados dentro de um quarto, apenas com uma pequena clarabóia mas sem qualquer janela para o mundo exterior, onde a jovem mãe vive desde que foi sequestrada por um homem sem escrúpulos. A história de "Room" retrata precisamente o momento de passagem em que os dois passam de uma existência limitada num quarto sem conforto e liberdade para um perigoso admirável mundo novo, onde novos perigos e experiências espreitam.


O início de "Room" parece indicar que estamos na presença de um thriller humano que se focará, apenas e só, na dura luta pela liberdade e sobrevivência de uma jovem mãe e do seu inocente filho contra o seu abusador. É importante deixar desde já claro que esta indicação não corresponde inteiramente à verdade, mas verdade seja dita que também não está totalmente errada. A primeira parte do filme retrata, efetivamente, o sufocante dia a dia de mãe e filho no cubículo onde são mantidos em cativeiro e onde a mãe é diariamente vítima de abusos sexuais por parte do seu impaciente sequestrador. O final desta primeira parte, que nos aparece um pouco mais presa ao suspense e a um ambiente mais pesado, traz consigo uma fuga inesperada. Esta, embora explorada um pouco à pressa, promove ainda assim a introdução de uma outra parte, onde são analisadas ao pormenor as consequências humanas, emocionais, mentais e familiares do cativeiro. Assim, "Room" explora efetivamente em ambas as partes uma luta pela liberdade e pela sobrevivência, mas esta luta divide-se em dois momentos distintos, um mais dramático, outro mais emocional, onde tais lutas são travadas ao extremo e abordadas de todas as formas.
Na primeira parte, "Room" promove portanto uma jornada humanamente mais sufocante que apela a um tipo de história de sobrevivência mais física. Mas a partir do momento em que os protagonistas são resgatados do seu traumático cativeiro físico e mental, "Room" começa a desenvolver uma trama de sobrevivência que começa a apelar ao lado mais emotivo. As duas acabam por criar, em conjunto, um filme complexo e completo que promove as consequências diretas e indiretas de um sequestro traumático que, como descobrimos, causou uma forte moça, tanto na vida de uma pessoa que nasceu no meio do terror, como na vida de uma pessoa que foi arrastada para o terror.



É por isso muito interessante ver como mãe e filho lidam, quer com o cativeiro, quer com a normalidade. A dinâmica que ambos promovem às suas respetivas experiências em ambas as partes do filme é muito interessante e é habilmente moldada, sendo de evidenciar que ambos têm visões diferentes de ambas as experiências. A mãe, por exemplo, olha para o quarto onde vive como uma prisão, ao passo que o filho olha para o mesmo quarto como uma casa onde passou toda a vida. Estas visões sofrem um revés quando ambos saem do quarto. A partir deste momento a mãe passa a olhar para o exterior como uma liberdade desejada mas estranhamente cheia de dissabores, ao passo que o filho, por não compreender o exterior, olha no início com estranheza e receio para a liberdade e para a novidade que o rodeia, mas ainda assim aproveita a liberdade com muita mais abertura que a sua mãe. Este jogo de ideias e visões distintas promove um espetáculo dramático e mental muito complexo e completo que, por arrasto, fornece um astuto e interessante ponto de vista psicológico e também alegórico a esta produção.
Estas visões pessoais carregadas de teor psicológico são ainda enriquecidas por uma dinâmica coletiva que realça o laço emocional e afetivo entre mãe e filho, laço esse que promove muitas das sequências mais fortes e emotivas do filme. Este laço acaba por conferir um certo melodramatismo humano a este projeto que, ainda assim, aproveita este forte laço familiar para evidenciar ainda mais as posições pessoais de cada um dos intervenientes principais perante os acontecimentos. Tudo isto leva-nos à conclusão que "Room" é um projeto dramaticamente delicioso e diversificado. Os dois pontos de vista dos dois intervenientes principais, que são sempre salvo de um tratamento cuidado e detalhado, promovem uma pujante narrativa muito dada à emoção e ao intelecto que, por todo o contexto e informação que nos transmite, puxa naturalmente por toda a nossa atenção e sensibilidade. A reforçar uma narrativa de luxo está também uma direção de relevo de Lenny Abrahamson e, claro está, um elenco central maravilhoso, onde Brie Larson e Jacob Tremblay estão fenomenais. 

Classificação - 4,5 Estrelas em 5

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3 Comentários

  1. Olá, João. :)

    Lembro-me de ter comentado este filme, há já mais de uma semana, tal como comentei outros que foram validados, mas este não. Estranho, mas também me pergunto se terei, ou não, clicado no "publicar". Gostaria de saber se não foi validado e se não foi, porquê?

    Continuação de bom trabalho. ***

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  2. Boa Tarde Lucy. Sinceramente não lhe sei dizer o que aconteceu. Até fui ao Spam ver se o comentário tinha ido para lá, mas não estava. Não me lembro de ter visto um comentário para este post, mas se por engano apaguei peço imensa desculpa Lucy. Os seus comentários são sempre bem vindos, como já sabe, e adoro sempre ler o seu feedback

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  3. Olá, João.

    “No big deal”! Deve ter sido eu que não cliquei na tecla de “publicar”. “Sorry!” :)
    Já não me lembro bem o que comentei, mas foi qualquer coisa como: vi o filme sem grande conhecimento prévio da estória e das críticas. Pensei que seria um filme sobre a síndrome de Estocolmo, mas de todo o é. Achei fantástica a interpretação do miúdo, bem como a sua visão do mundo para além da única janela que tinha naquele quarto, uma água-furtada. Através dos olhos dele, ainda não corrompidos pelo mundo exterior, ele consegue dar-nos uma visão clara do dualismo (o mau e o bom) do Ser Humano. Enquanto ele entra de mansinho num mundo que lhe é totalmente desconhecido, a mãe entra eufórica e feliz, para logo, logo se desiludir com a realidade que ela já havia esquecido, enquanto o filho vai saboreando cada vez mais essa mesma realidade. Ou seja, o preço da liberdade é elevado, tal como o é o da prisão, mas entre um e outro, vale sempre mais a liberdade. O chilrear do pássaro que voa livremente é sempre mais alegre do que o chilrear de um pássaro engaiolado.

    Continuação de bom trabalho e obrigada pelo carinho e pelo apreço. :) ***

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