Realizado por Darren Aronofsky
Com Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris
Por vezes surgem no nosso quotidiano filmes que são difíceis de ver, explicar e analisar. Tais obras cinematográficas são normalmente menosprezadas pelo grande público e acabam por ser rotuladas à partida como fracassos ou maus filmes. Isto sucede porque, na grande maioria dos casos, tais produtos são mal interpretados pelos espectadores, o que desde logo origina criticas injustas atendendo aos seus objetivos surrealistas, experimentais ou artísticos. Na maior parte dos casos, portanto, um filme que à primeira vista destaca-se como um ridículo exemplar cinematográfico acaba por se revelar um filme interessante após uma análise mais cuidada ou, pelo menos, acaba por ser compreendido como tal atendendo o seu complexo contexto experimental.
É perfeitamente percetível que Darren Aronofsky tentou incluir “Mother!” nessa categoria de obras inexplicavelmente surreais de complexa apreciação, como aliás já o fez no passado com obras igualmente extravagantes, como “The Fountain” (2006) ou “Black Swan” (2010). Neste caso particular considero, no entanto, que as suas corpulentas intenções criativas ultrapassaram o limite do razoável e não foram devidamente aplicadas. O resultado final acaba por se aproximar mais de um devaneio experimentalista sem nexo do que propriamente de uma criação exagerada mas com uma complexidade fundamentada. E exponho tal afirmação tendo em conta o exposto no primeiro parágrafo deste texto, porque mesmo após uma análise cuidada não me consigo incluir naquele grupo de pessoas que consideram "Mother!" uma obra prima. Sinceramente, não encontro nada que justifique tal aclamação, já que a sua narrativa é perfeitamente banal e apenas o seu veículo de transmissão se destaca, mas apenas por ser severamente excessivo e até absurdo.
Rotulado pelos seus criadores como um thriller psicológico de cariz experimental, “Mother!” acompanha a alucinada jornada de um jovem mulher, cujo simples e pacífico quotidiano é envolto no epicentro surreal de um inesperado rebuliço emocional e dramático. Esta breve sinopse pode parecer intrigante, mas “Mother!” acaba por promover uma narrativa bem menos provocante que a sua componente estrutural. A sua base narrativa é simples de decifrar, já que apela aos ideais primários da criação, misturando conceitos abstratos de religião com conceitos primordiais da relação humana. Esta mensagem claramente criacionista apenas se revela com maior imponência na parte final da narrativa, mais concretamente quando esta atinge o seu ponto mais louco e surreal, mas não há dúvidas que é este o tema que move a quase demente sequência de eventos que tornam esta obra num produto tão pouco consensual.
O principal problema de "Mother!" não reside portanto no cariz da mensagem que pretende passar, mas sim no veiculo usado para a transmitir. Neste ponto há que responsabilizar Darren Aronofsky. Embora lhe sejam reconhecidos muitos talentos, incluíndo o de moldar e construir uma intensa história, não se pode dizer que em "Mother!" tenha optado pela melhor estratégia. A sua manipulação do exagero, do experimentalismo e da complexidade do tema em questão roça sempre o exagero e, em certas alturas, o ridículo.
Há uma linha ténue que separa a genialidade surrealista do exagero risível e, infelizmente, Aronofsky ultrapassou essa barreira na sua tentativa de criar um poderoso exemplo de cinema artístico experimental. Não conseguiu esse objetivo porque foi demasiado além dos objetivos propostos e caiu no erro de apostar no choque do espectador em detrimento da sua surpresa positiva. A montanha russa de sequências bizarras a que sujeita o espectador ao longo de "Mother!" fomenta uma experiência demasiado incongruente que nunca poderia ser devidamente apreciada por nenhum espectador, até mesmo pelo maior fã daqueles filmes ditos difíceis de ver, explicar ou analisar.
O que é curioso de observar é que "Mother!" até começa por apresentar um tom agradavelmente bizarro que prometia promover bons níveis de qualidade, mas a certa altura Aronofsky perdeu por completo o controlo sobre a sua criação e, num ápice, o filme entrou num enorme devaneio de ideias exageradas sem sentido prático que culminaram num resultado bem áquem do esperado. A ânsia de transportar o espectador para um mundo diferente e de levá-lo numa viagem completamente diferente e alucinante acabaram por trair Aronofsky que, no final, apresentou um produto pouco digno do seu real valor.
É óbvio que há que dar valor à Paramount Pictures e a Aronofsky por terem ousado criar algo tão diferente como "Mother!". É um filme que nunca se enquadraria no conteúdo mainstream de Hollywood, mas que se poderia destacar precisamente pela sua diferença e criatividade. É certo que "Mother!" está em destaque em todo o mundo por essas razões, mas infelizmente os comentários que sobressaem não são os mais positivos devido ao seu claro tom exagerado. No fundo, Aronofsky conseguiu impactar e surpreender como pretendia, mas não o conseguiu fazer de uma forma inteligente. Isto porque cedeu, ironicamente, a um dos principais pecados capitais da indústria cinematográfica atual, ou seja, tentou criar um filme que choca e que acaba por ser mais falado por causa do seu despropósito exorbitante do que pelo seu conteúdo experimental.
Classificação - 1,5 Estrelas em 5
30 Comentários
Não concordo... o cinema também é isto, criar emoções fortes deixando-te à deriva... este definitivamente não é um filme para se digerir, é para se ir digerindo, pela complexidade do mesmo e pela interpretação que fazes pelo desfeche..
ResponderEliminarSe é entediante à partida, claro que sim, mas o final não deixa de ser perturbador e perplexo... é incrível, porque nem vendo o filme, permite uma crítica justa...
Também percebi a intenção de discutir a criação como tema central. Porém, não vi como uma mensagem criacionista. Na minha visão, a loucura e as cenas surreais, sem sentido, servem como uma crítica à ideia das religiões atuais. Mostrando o Poeta (deus) como alguém arrogante e egoísta.
ResponderEliminarConcordo plenamente!
EliminarTambém percebi a intenção de discutir a criação como tema central. Porém, não vi como uma mensagem criacionista. Na minha visão, a loucura e as cenas surreais, sem sentido, servem como uma crítica à ideia das religiões atuais. Mostrando o Poeta (deus) como alguém arrogante e egoísta.
ResponderEliminarQue texto repetitivo.
ResponderEliminarLi a mesma coisa do começo ao fim... filme exagerado, não foi usado de forma inteligente, e por aí se repete.
Filme razoável, anacrônico, com interpretação dúbia e realização sem as devidas proporções de lógica. Uma interpretação alternativa de conceitos bíblicos, levados a anarquia e com resultado sofrível. Uma heresia em relação aos escritos antigos, trazendo muita contradição, inadaptação, inadequação, desambientação e inconformidade, bem ao estilo em que se ressuscitam situações já vividas e com versão própria, como no reality “Faceoff”. Repleto de metáforas e simbolismos e com a dislexia do roteiro em seu ápice, não valeu pela magia, aliás, nenhuma empolgação e sim pela frustração adquirida, a confusão mental de seus idealizadores e a quantidade de retóricas bíblicas adaptadas bem ao estilo moderno hollywoodiano. Só faltou o real significado da proposta, tal qual “Jesus Christ Superstar”, mal elaborado, projetado, filmado e com gosto de “Nunca mais”, mas pelo menos tinha bons atores, alguns em decadência plena e esquecidos, outros em evidência, mas faz com que não se perca o ingresso por inteiro, pois valeu pela bela sala de cinema e pela pipoca. E com certeza, mais um filme meia boca, candidato ao Oscar de 2018, assim como todos que são péssimos e que obtém o prêmio por genialidade, que no caso de “Mother”, com certeza será agraciado pela falta de criatividade, direção, fotografia e bem longe de ser uma obra prima.
ResponderEliminarTambém não concordo. O filme realiza uma experiência extraordinária no cinema cheia de possibilidades.
ResponderEliminarTambém discordo por completo. Claramente se vê que não compreendeu a metáfora da violência psicológica com que a figura central suporta o egocentrismo, afinal pouco criativo, do poeta. Claramente, repito, se vê que não compreende o nome do filme e a angústia de quem ama mais do que a si, para afinal ser consumido como inspiração. 1,5* dou eu ao seu comentário. Lamento que não tenha compreendido a mensagem do filme. Quase que ouso imaginar que quem escreveu é homem e não mãe.
ResponderEliminarCrítica péssima. Vá aprender a apreciar o cinema direito.
ResponderEliminarEstá crítica que diz que o it é um filme razoável.Não estava á espera que desse Boa classificação.
ResponderEliminarAnálise prolixa.
ResponderEliminarAnálise prolixa.
ResponderEliminarnossa amigo, não. Você certamente foi uma das pessoas que não conseguiu entender o filme. Eu tenho pra mim, que por sinal estudei a bíblia. que um mundo apocalíptico é pesado e chocante. a história da humanidade é chocante. O que vivemos é exorbitante, nesse filme ele conseguiu reproduzir exatamente o sentimento que vivenciamos enquanto vemos o mundo ser afundado. Me diga, vc queria que a cena que faz alusão ao apocalipse fosse feita com rosas pra não chocar? Que a cena que faz alusão ao dilúvio fosse feita com algodão pra deixar a gente mais calmo? Amigo, se conecte no mundo, leia a bíblia, leia as passagens de gênesis ao apocalipse e aí vc escreve outra crítica. ok?
ResponderEliminarDe forma alguma. Apesar de discordar de alguns pontos do autor da crítica, a linha central de seu raciocínio é a mesma da maioria dos críticos (não só no Brasil, mas, em especial, nos Estados Unidos e na Inglaterra). O filme por si apenas carrega o grande nome do diretor. Exagerado, com cenas tensas e trilha sonora pesada, mas que não levam a lugar algum. Um "resumão" da bíblia bem fraquinho, tratando de forma concreta o que a bíblia usa por metáfora e metaforizando o que a bíblia tem por real, não passa de uma viagem do diretor, pretensioso, que pensou que ia colar.
EliminarNamorando, protagonista, Jennifer Lawrence, e diretor, durante as gravações, questiono se ela arriscou seu nome pelo diretor ou se ela ganhou-a pelo namoro.
Apesar da furada bíblica, ainda vale mais que o filme absurdo - que não tem lógica própria ou fio condutor para a sequência bizarra de eventos, não fosse pelo empréstimo que fez da bíblia.
Foi chocante sim, imcomprensível, mas osado. Tem o seu mérito Aranofski.
ResponderEliminarFilme ridículo sem nexo exagerado cheguei a pensar se era um filme de guerra... Surreal... Era preferível ter visto um filme de animação ou ficção cientifica. Depois aquele final previsível igual a tantos outros.. Uau bela merda. Mas o que mais chateia é a publicidade que fazem ao filme e que ate parece um thriller interessante algo psicológico de suspanse e com pés e cabeça... Wrong
ResponderEliminarO filme é bom pra quem entende.
ResponderEliminarDurante todo o filme é tratada a questao de Deus, Adao e Eva, Abel e Caim e, após essa sequência, trata-se do que o ser humano fez e faz com a terra, das guerras, das religiões (cada uma dando uma interpretação diferente à biblia - que no caso é o poema-)
Se ele for visto com atenção e com uma ideia ja pré estabelecida sobre o que ele trata, será bem compreendido
Se, nestes tempos turbulentos, se sentem desnorteados, assistam a este filme.
ResponderEliminarNo final irão se sentir menos sozinhos.
Antonio da Lapa
Aprecio a reflexão, mas discordo dela e até desconfio que o autor missed the point, não se apercebendo da riqueza da alegoria e da maravilha da sua descodificação.
ResponderEliminarConcordo com a crítica. Filme horrível. Se quisesse parábola sobre a Biblia tinha assistido a filme de criança. Lixo mesmo.
ResponderEliminarFilme com repercurssão emocional extrema, mesmo naqueles que não tenham formação teológica ou filosófica, basta saber reconhecer o sofrimento do outro, as perdas. Os dois actores principais foram impressionantes, sobretudo a Jennifer Lawrence, a meu ver. Para mim vendo além das várias alusões biblícas desde a Criação até ao Apocalipse, penso que o realizador lança-nos uma questão desafiante e muito difícil de pensar para quem é crente, "Poderá Deus necessitar de Criar um novo Homem, sem passarmos por uma total aniquilação da Humanidade? Terá de retornar um novo Cristo?"...
ResponderEliminardetestei o filme, perda de tempo mesmo
ResponderEliminarExistem filmes e filmes. Achei "Mother", um filme muito forte. Cansativo no inicio, mas gradativamente intenso. Não o compreendi bem, pois o mesmo tem muitas nuances, acho que teria que vê-lo novamente. Mas é um filme impactante que faz com que nós pensemos muito sobre a vida.
ResponderEliminarA questão da vaidade, da solidão, da intromissão, são questões a serem refletidas, Qual é o limite?
Excelente filme. Algumas passagens aborrecidas mas o final é mesmo apocaliptico.
ResponderEliminarNota 6 tá de bom tamanho
ResponderEliminarNão concordo com a nota dada. O filme traz questionamentos importantes não apenas sobre a bíblia e toda a história até o apocalipse, mais aponta também o quanto os seres humanos conseguem ser maus e destruir tudo ao seu redor. A intensidade do roteiro e das cenas tem significados importantíssimos sobre o que fazemos com a terra, no caso a mãe, como também com os nossos irmãos, mesmo professando uma fé, uma verdade e um amor "exemplar". Que filme fantástico! Ainda estou em êxtase com esse roteiro e com a atuação da Jennifer Lawrence.
ResponderEliminarAfirmação absurda: "fomenta uma experiência demasiado incongruente que nunca poderia ser devidamente apreciada por nenhum espectador, até mesmo pelo maior fã daqueles filmes ditos difíceis de ver, explicar ou analisar". Como é que alguém que não percebeu o filme e que, obviamente, não é o "maior fã" pode afirmar isso? Então aqueles que consideraram o filme uma obra-prima não o apreciaram devidamente? São loucos? Extra-terrestres? Por alguma razão os filmes que marcaram a história do cinema, os filmes de que se continua a falar passadas décadas, não são êxitos de bilheteira e de consumo de massas - normalmente a inteligência das massas é inversamente proporcional à qualidade dos produtos que elas avaliam...
ResponderEliminarVocê "devidamente" não captou a mensagem meu caro.
ResponderEliminarPara mim o filme nada tem a ver com criaçao.
ResponderEliminarNão entendo a crítica e acho que de facto nada perceberam do mesmo, falando muito e nada dizendo.
É simples se atentos os momentos chave.
Trata de uma relaçao, no caso um casamento em que o realizador faz passar a mensagem da vaidade, egocentrismo e desprezo pelo amor .
O poeta é o personagem sobre quem recai esse amor.
A mulher incondicionalmente oferece uma nova vida ao esposo proporcionando lhe um lar caloroso, apesar deste manter ainda recordaçoes de uma anterior relaçao.
Ele guarda o cristal religiosamente, sendo o cristal a consciência dele e do qual se sente perdoado.
Das cinzas dessa relaçao ela constroi uma nova, representada pela casa e nela se entrega sem pedir nada em troca.
Mesmo assim o poeta reve no cristal a anterior relaçao que nao ousa esquecer por lhe ser preciosa.
O amor incondicional da mulher serve lhe apenas para fazer revelar o que ele na realidade é.
Uma pessoao egocentrica que quer ser alvo de atenções e gloria.
Ele permite que estranhos se intrometam, que desrespeitem o seu lar e a jovem esposa.
Essas pessoa são promíscuas, falsos amigos e contaminam com seus vicios.
Eles sao as reminiscências do passado vil do poeta que ainda o aliciam e teimam em ficar.
Qd o consegue ele afasta se do amor que lhe e oferecido e deixa se bajular pelo sucesso.
Afasta se da mulher a qual ve o seu sonho a dois se desmoronar.
Aguenta os excessos e cede ao poeta porque apenas o ama e abre a porta aos que o bajulam e na vida deles se intrometem.
Tudo por amor e apenas lhe pede que ele a veja.
No entanto o poeta nao consegue deixar de ser egoista e desapega se da relação com um total desinteresse pelo que realmente importa.
Ela clama pelo seu amor...mas ele precisa e gosta dos outros, atropelando o sonho de familia que ambos almejaram em tempos.
De tal forma que sacrifica a mulher e o filho aquilo/aqueles que realmente importam...os outros, os que alimentam o seu ego.
Ferida, ela reage incrédula e revoltada com tal destruição.
A família afinal nunca existiu...ele é apenas um egocêntrico.
Ela destroi a casa abalada que construiu, o amor ao sonho a dois revela—se impossível e sente se inconformada.
No final ela descobre que nao o conhecia e que tudo nao passara de um sonho.
No entanto ela o ama.
Ele lhe pede um ultimo favor antes de se separarem...o seu perdão.
Ela concede-lho de coração aberto.
Ele o guarda e com ele salva a sua consciência.
Ele precisa disso para iniciar a sua nova vida.
Que se irá repetir decerto,desta vez numa outra relação, com uma nova mulher, que provavelmente ira ser também um vitima do egocentrismo.
Tudo não passaria de um sonho da mulher, um pesadelo...mas na última cena do filme, a mulher que acorda era outra...
É uma crítica as relações em que apenas um se esforça e de facto ama incondicionalmente...acabando por ser consumido
Filme lixo, horroroso, sem pé nem cabeça, e os comentários desses entendidos de merda são piores que o filme....
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