No âmbito da antevisão ao MOTELx 2018, o Portal Cinema lançou um desafio aos realizadores das 12 curtas portuguesas a concurso ao Prémio de Melhor Curta de Terror Portuguesa do MOTELx 2018! O desafio consistia em responderem a uma pequena entrevista sobre o projeto a concurso, a sua carreira e, claro está, os projetos futuros. 11 dos 12 criadores aceitaram esta proposta e apresentamos agora o resultado final. Segue-se uma entrevista com Gonçalo Morais Leitão, realizador de “A Boneca”.
Sobre A Boneca
Realizado por Gonçalo Morais Leitão, uma cara já conhecida dos espectadores nacionais graças a projetos como ""Filho da Pub", "A Boneca" é um projeto bastante curioso e instimista que promete entusiasmar os fãs do MOTELx ao longo dos seus quase 13 Minutos de duração!
Sinopse - Ela era uma criança, esse monstro que os adultos fabricam com as suas mágoas.
1 – Antes de explorarmos um pouco o projeto que vem apresentar ao MOTELx 2018, gostaria que me falasse um pouco sobre o seu percurso profissional até ao dia de hoje. Qual a sua formação? E o que fez antes de começar a trabalhar neste projeto?
O meu percurso profissional começou torto quando decidi ir para direito. Nunca gostei daquela vida e, por isso mesmo, mantive uma vida paralela. Fiz de homem Sandwich, de porteiro, de estafeta e montei um negócio de aluguer de karaoke para animar festas, casamentos e baptizados até que, já o curso ia quase no fim, consegui um estágio como copywriter no departamento de auto-promoções da SIC. Resultado: desisti das duas vidas – a de quase advogado e a paralela – e dediquei-me a uma nova vida. Mais criativa. Mais interessante.
Passado um ano tive um convite para ir para a publicidade. Aceitei e fiquei lá 15 anos como copywriter, director criativo e onde cheguei a ter a minha prórpia agência. Correu muito bem. O trabalho que fiz (para clientes como Jumbo, Continente, PT, TMN, Optimus, Galp, BES, Nissan, Sagres, Super Bock) foi premiado em todos os festivais nacionais e nos principais festivais internacionais. Mas não estava feliz. Assim, em 2011, larguei a publicidade e criei uma produtora com a minha mulher, a One Couple Show. Fizemos vários programas de televisão. Ela como produtora e eu como autor e apresentador. E tivemos vários filhos (para além dos "meus", dos "teus" e do nosso). Foram eles "Filho da Pub", "A Minha Vida Dava Um Anúncio" e "A Selecção Deixa Marcas". Mas para um casal com tantos filhos é difícil viver da televisão e então, fui para a... televisão. Entre 2015 a 2017, estive como director criativo da RTP. Correu muito bem mas... não estava realizado.
Até que um amigo meu de uma outra produtora me perguntou no seu sotaque brasileiro: “Sê não guztáva dji realizá?” Primeiro estranhei e depois entranhei. Comecei a ler tudo o que era livro sobre o tema, tirei um curso de edição, fiz Masterclasses com com o Aaron Sorkin (argumentista e realizador), Hans Zimmer (compositor de Hollywood), David Mamet (dramaturgo e realizador), Werner Herzog, Ron Howard e Martin Scorsese. E pus mão à obra.
Escrevi, produzi, realizei e editei a curta metragem "Se o Tecto Falasse" que está a fazer um óptimo percurso nos festivais de cinema.
Escrevi, produzi, realizei e editei uma segunda curta metragem, “A Boneca”, que acaba de ser selecionada para o MOTEL X, e que é a razão desta entrevista.
E recentemente estreei-me a realizar publicidade com um anúncio para o Expresso BPI Golf Cup e fui convidado agora para realizar um outro anúncio para uma marca de leite. É caso para dizer, estou realizado.
2 – Quais são as suas principais influências cinematográficas?
As minhas principais influências cinematográficas são três:
1- Boas histórias bem contadas de uma forma não linear. E nisso o Cristopher Nolan é mestre;
2- Boas histórias que tenham preocupações com pormenores, com a estética, com o guarda roupa, com a sonorização, com enquadramentos. As séries “Handmaid’s Tail”, “Big Litle Lies”, “House Of Cards”, “The Crown”, “The Killing” são bons exemplos disso;
3- Boas histórias onde a violência, o sangue e o humor andam de mãos dadas como são os casos dos filmes do Quentin Tarantino.
3 – Tem algum sonho/objetivo em particular que pretenda alcançar no mundo cinematográfico?
4 – O que o levou a criar “A Boneca”?
A minha filha Joana, quando tinha 4 anos, dizia que quando fosse grande queria ser Barbie. Medo. Mas felizmente cresceu e agora com 11 anos quer ser actriz. Por isso, pediu-me para a inscrever numa agência de casting. Eu disse-lhe que fazia melhor. Disse-lhe que escreveria um argumento para uma curta metragem em que ela seria a protagonista principal. Dito e feito. Escrevi e realizei "A Boneca". E ela encarnou a Diana. Durante as filmagens, que foram muito duras para ela, fui pai e realizador ao mesmo tempo. E não foi nada fácil. Tinha o pai a dizer "Corta!" e o realizador a dizer "Continua!". Mas os quatro (pai, realizador, actriz e filha) divertiram-se muito. E já só querem repetir a experiência.
5 -O projeto final ficou como imaginou? E já agora como o descreve?
Há muitos realizadores que alteram a forma como a história é contada quando chegam à edição. Neste caso, isso não me aconteceu. Talvez seja porque fui eu que escrevi, realizei e editei. E quando estava a escrever pensava logo nos planos e nos cortes. Daí o projecto final ter ficado tal como o imaginei à excepção de duas coisas. Imaginei as cenas de flashback a preto e branco e acabei, e bem, por fugir desse cliché para optar por filmar a cores mas com lentes antigas dando-lhe uma textura diferente do resto da história. E imaginei o flashback sem som, tal como são as nossas memórias, mas acabámos por o sonorizar utilizando sons distorcidos e um efeito “Sheperd” que lhe dá mais tensão e dramatismo.
5 – O que pode o espectador esperar e o que espera que ele sinta ao ver “A Boneca”? Tem alguma mensagem específica que lhe queira transmitir para o preparar para a visualização?
Eu espero que o espectador passe os 12’30” agarrado ao ecrã. Que o entretenha. Espero que ele sinta que viu uma história bem contada, que o deixe com dúvidas, desconfortável, pois não há nada pior que o conforto. O conforto é sinal de mais do mesmo, de coisas certinhas, politicamente correctas, consensuais. Quanto a mensagens faço minhas as palavras de Bernardo Bertolucci: “Os meus filmes não têm mensagens. Deixo isso para os correios”.
6 – O que significa a presença da sua curta na Competição Oficial do MOTELx? E perante isto quais são as suas expectativas globais (quer no festival, quer posteriormente) para a mesma?
Eu não estava a pensar inscrever esta curta no Motelx porque não a vejo como um filme de terror no sentido mais literal do termo. Mas quando a mostrei a uma amiga minha que é fã do Motelx, ela disse-me que tinha muitas possibilidades de ser escolhida e até quem sabe ganhar o festival. Sem grande fé, inscrevi a curta. Parte do que ela disse concretizou-se. Vamos ver quanto ao resto.
7 – E o que nos pode dizer sobre os seus projetos futuros? O seu futuro profissional passará por Portugal ou poderá haver uma aposta no estrangeiro?
Neste momento estou a escrever um argumento para uma longa metragem que espero realizar em breve (se ganhar o Motelx, o dinheiro do prémio será canalizado para este projecto) e estou a pré produzir um anúncio para uma marca de leite. E espero que o futuro passe por Portugal e me leve para o estrangeiro. De preferência para os Estados Unidos. Mas o futuro à Realização pertence.
0 Comentários