Entrevista com Sara David Lopes e Silvia Di Marco, Responsáveis Pelo Olhares do Mediterrâneo - Women's Film Festival

O Portal Cinema apoia uma vez mais uma Edição de Olhares do Mediterrâneo - Women's Film Festival, que trará ao Cinema São Jorge, entre 30 de Outubro e 2 de Novembro, 55 filmes que privilegiam o olhar feminino sobre o mundo!
Para se compreender melhor os objetivos e a missão desta edição, o Portal Cinema entrevistou Sara David Lopes e Silvia Di Marco, respetivamente Diretora do Festival e Coordenadora de Programação deste famoso certame!


Portal Cinema  – Este Certame já se encontra na 6ª Edição. Quais são as principais diretrizes, objetivos e ambições deste festival? E como o apresentaria para quem não o conhece?

Sara David Lopes e Silvia Di Marco - As directrizes e os objectivos principais mantêm-se, na sua essência. Contudo, ao longo destes anos de produção certas áreas foram sendo mais afinadas e algumas outras têm emergido. Pensamos que uma das coisas muito libertadoras no nosso festival é que mantemos uma total abertura programática, relativamente às temáticas dos filmes, uma vez que as mesmas são definidas pelos filmes que nos são submetidos. Isso tem criados situações muito interessantes e permite-nos também ir explorando áreas diversificadas.
Por exemplo, houve um ano em que havia muitos filmes sobre as nossas raízes e as nossas origens, um outro que houve muitos filmes sobre o envelhecimento, este ano tivemos vários sobre minas, algo que nunca nos tinha aparecido. Esta pluralidade de temas serve plenamente a nossa ambição, se é que podemos chamar-lhe assim, que é a de ser um Festival onde são tratados temas que preocupam as cineastas do Mediterrâneo e que - ao abordar, sem receios, certas temáticas como a identidade sexual ou os sonhos gorados dos refugiados quando se vêem confrontados com aquilo que encontram deste lado do Mediterrâneo - pretende contribuir para uma desconstrução de estereótipos.
Sendo assim, para quem não nos conhece, o Olhares do Mediterrâneo - Women’s Film Festival é um festival internacional de cinema compacto, com muitos filmes e muitas actividades paralelas, no qual se olha para o mundo através das lentes das cineastas do Mediterrâneo.

Portal Cinema - Em traços gerais o que podemos esperar da 6ª Edição do Festival Olhares do Mediterrâneo?

Sara David Lopes e Silvia di Marco - O reforço do nosso compromisso com os nossos objectivos. Nesta 6ª edição alterámos o nosso nome e logótipo para reflectir uma internacionalização crescente do Festival; vamos ter mais um dia e temos a maior participação de filmes árabes de sempre; reforçámos também a programação para as escolas e para as famílias; teremos uma foto-reportagem premiada pela World Press Photo com fotografias de uma repórter de guerra da Time Magazine e uma masterclass com uma das realizadoras. O público pode esperar aquilo a que já se vai habituando: uma programação compacta e variada com muitos filmes e muitas actividades.


Portal Cinema – Se pudesse sugerir apenas 3 Destaques da Programação quais seriam?

Não podendo propriamente destacar filmes em particular, gostaríamos de recomendar o filme da primeira noite, "History of Love", de Sonja Prosenc, um filme esloveno muito belo, uma cinematografia de autor muito particular. O filme é a candidatura da Eslovénia aos Óscares e vamos ter o gosto de ter cá a realizadora. Estamos também muito contentes por ter pela primeira vez no Festival a representação da Líbia. “Freedom Fields”, de Naziha Arebi, acompanha durante cinco anos uma equipe de futebol feminino tendo como pano de fundo uma Líbia pós-Primavera Árabe.
Ficando no Sul do Mediterrâneo, gostaríamos de mencionar ainda a longa-metragem “Pause”, de Tonia Mishiali. Esta co-produção Chipre-Grécia é um drama carregado de humor negro, no qual acompanhamos Elpida, uma mulher de casa, nas suas fantasias de vingança contra o marido opressivo, num vórtice em que as fronteiras entre fantasia e realidade parecem desaparecer.


Portal Cinema – O que nos pode dizer sobre a presença portuguesa na programação do certame?

Sara David Lopes e Silvia Di Marco - Antes de mais, temos muito orgulho em receber, na Competição Geral Longas, um filme da Teresa Villaverde, “O Termómetro de Galileu”. Na Competição Geral Curtas, apresentamos uma animação em stop motion bastante original, “A Era das Ovelhas”, de Sara Augusto, Eva Mendes e Joana DeRosa. 
Na secção Começar a Olhar, a nossa secção competitiva de filmes de escola, temos dois filmes muito maduros e interessantes: “Camel Toe”, de Alexandra Barbosa, e “Flor de Lótus”, de Ana Paula Junqueira, Maria Clara Norbach e Marisa Pedro. 
Isto deixa-nos particularmente satisfeitos. Por um lado, porque nos indica que os jovens realizadores vêem no nosso festival uma forma de divulgar e promover o seu trabalho; e por outro, porque a ideia que presidiu à criação desta secção, na 4ª edição, foi precisamente criar um espaço particular que pudesse dar visibilidade aos jovens realizadores. 
Finalmente, na secção não competitiva salientamos a curta “Mayday”, de Miguel Gaspar, que introduz uma mesa redonda sobre a criminalização da ajuda humanitária no Mediterrâneo e o filme “Um Ramadão em Lisboa”, um trabalho colectivo assinado por Amaya Sumpsi, Carlos Lima, Catarina Alves Costa, Joana Lucas, Raquel Carvalheira e Teresa Costa, que dará origem a uma mesa redonda em que se fala precisamente do que é isto de fazer um documentário colectivo.


Portal Cinema – E relativamente aos Debates e Masterclasses. O que podemos esperar dos temas em discussão e o que levou às suas escolhas?

Sara David Lopes e Silvia Di Marco  - À semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores, os debates acabam por se organizar em torno de alguns pólos temáticos que encontramos nos filmes que nos são submetidos. Assim, este ano, para além das mesas redondas referidas na pergunta acima, pareceu-nos pertinente organizar uma conversa em torno de “Seduções e Sexualidades”, ancorada na exibição de três filmes e com a presença das respectivas realizadoras: o já mencionado “Camel Toe”, de Alexandra Barbosa; “Non è Amore Questo”, de Teresa Sala; e “Seduction Ltd.”, de Anat Vovnoboy.


Portal Cinema – E em relação ao futuro, o que poderemos esperar das próximas edições do festival? Existem planos para uma expansão para outras cidades?

Sara David Lopes e Silvia Di Marco  - Um dos nossos objectivos é dar cada vez mais visibilidade aos filmes realizados nas margens meridional e oriental do Mediterrâneo, talvez alargando um pouco a nossa geografia com alguns filmes do Médio Oriente e dos Balcãs.
Em relação à expansão do Festival para outras cidades, não se trata bem de planos, mas de uma realidade já concreta! Já fizemos duas extensões em Vila Real, em 2018 e já em 2019; com os filmes da edição de 2018, fomos também a Alcobaça; e neste momento, planeamos mais uma extensão em Évora. Além disso, já tivemos uma sessão no Porto, a convite do Porto Femme IFF, outra em Guimarães, a convite da Shortcutz, e, em Novembro, levaremos uma selecção de curtas portuguesas a Vigo, em Espanha. E não vamos ficar por Europa! Também em Novembro, iremos ao Brasil com a nossa escolha de filmes sobre a sedução e a sexualidade.

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