Crítica - Enola Holmes (2020)

Crítica - Enola Holmes (2020)


 Realizado por Harry Bradbeer

Com Millie Bobby Brown, Henry Cavill


É já óbvio há algum tempo que a Netflix está determinada em apostar em franchises e, após “Bright”, “The Old Guard” e “Power”, a Netflix apresenta outra produção com potencial para alavancar uma saga. Trata-se de “Enola Holmes”, uma espécie de spin-off das aventuras de Sherlock Holmes e que tem por base a série literária “The Enola Holmes Mysteries” da autora norte-americana Nancy Springer. 

É certo que chamar a “Enola Holmes” uma spin-off das populares histórias de Sherlock Holmes imaginadas por Arthur Conan Doyle, ou até das que foram reimaginadas recentemente em Hollywood, pode até ser tecnicamente correto, mas é um pouco forçado. Isto porque as intrigas e os grandes casos aos quais nos habituamos de ver o nome de Sherlock Holmes associado têm, por norma, um espírito bastante dramático, austero e sombrio onde o suspense impera do início ao fim. Já a obra “Enola Holmes” apresenta um ambiente mais infato-juvenil, relaxado e até algo cómico que contraria em tudo a noção clássica que temos de uma história do mais famoso detetive do mundo.  


Crítica - Enola Holmes (2020)



Basta olhar para o estilo narrativo e até cénico de “Enola Holmes” e compará-los, por exemplo, com os dois filmes “Sherlock Holmes” protagonizados por Robert Downey Jr.  para percebermos que, efetivamente, há duas dimensões e dois ideias completamente antagónicos a moldar estes projetos. E as obras interpretadas por Downey Jr. e criadas por Guy  Ritchie já podem ser consideradas adaptações alternativas…O próprio Sherlock Holmes que aparece nesta produção (sendo interpretado por Henry Cavill) é, ele próprio, uma caricatura feliz, jovial e demasiado simpática e empolgada do famoso detetive do qual temos uma imagem bem mais austera e ecléctica, imagem essa que nos foi dada pelo próprio Conan Doyle. 

Por isso qualquer comparação entre o canon presente em “Enola Holmes” e a espinha dorsal do espólio “Sherlock Holmes” é puramente errónea e até algo enganosa, já que claramente só a presença do apelido Holmes é que é idêntica em ambos. Se é, por isso, um fã acérrimo das histórias de Sherlock Holmes, “Enola Holmes” deverá ser um filme a evitar porque não tem nada daquilo que os verdadeiros apreciadores das histórias de suspense do famoso detetive esperam encontrar.

Poderemos até dizer que esta aposta da Netflix que tem, como já se disse, um alvo etário bem identificado não é mais que uma versão simplista e quase infantilizada da estrutura narrativa e cénica que retiramos habitualmente dos contos de Sherlock Holmes. Tal como a sua jovem e até por vezes irritante protagonista, “Enola Holmes” aparenta ter algum conteúdo à primeira vista, mas quando se vai a fundo chegamos à conclusão que é tudo um fogo de vista que esconde um profundo vazio de conteúdo, drama e, mais grave do que tudo, de uma ideia vazia de suspense, mistério e intriga criminal. Estes três últimos são pilares que se associam ao nome Sherlock Holmes, mas que nesta obra da Netflix são substituídos por dramas juvenis, paixões de adolescente e dramas familiares ligados à família Holmes que deixariam Conan Doyle enojado. 


Posto isto, a Netflix poderá mesmo assim ter em “Enola Holmes” um sucesso comercial que poderá mesmo dar à plataforma aquilo que os seus líderes desesperadamente procuram há alguns anos, ou seja, uma saga cinematográfica. É claro que dificilmente será uma saga aclamada, mas poderá ser um produto com um certo apelo comercial para certo público, até porque confere um certo twist ao pesado estilo clássico de Sherlock Holmes. E embora se possa discutir se esse twist tem valor ou não, certo é que a dimensão mais airosa, alegre e dinâmica de “Enola Holmes” parece reunir um maior consenso comercial e apresenta também um maior potencial junto das famílias… 

Numa perspetiva mais pessoal, “Enola Holmes” ficou àquem da expectativa e só a performance da talentosa Millie Bobby Brown é que deixou algumas boas sensações no ar. É certo que compreendo a ideia de criar com este projeto algo mais familiar, mas ainda assim não se poderia ter encontrado um maior equilíbrio com os traços tão particulares e populares que ajudaram a criar uma lenda?


Classificação - 2 Estrelas em 5


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