MOTELx 2020 - Entrevista Com José Miguel Moreira, Realizador da Curta Carnaval Sujo

MOTELx 2020 - Entrevista Com José Silva, Realizador da Curta Carnaval Sujo
O Portal Cinema volta a aliar-se ao MOTELx (pelo terceiro ano consecutivo) para dar voz aos criadores que competem a um dos prémios mais icónicos do festival: Melhor Curta-Metragem de Terror Portuguesa. É de recordar que o vencedor desta categoria será o representante de Portugal ao Prémio internacional Mélliès D´Árgent. É importante realçar que esta competição é um dos pontos altos da programação do MOTELx e a concretização de um dos maiores objectivos do festival: a promoção, incentivo e exibição de filmes de terror produzidos em Portugal.   É por isso um prazer para o Portal Cinema repetir esta parceria, ainda para mais num ano tão peculiar como este!


José Miguel

Estamos mais perto do Halloween que do Carnaval, mas isso não impede a forte validade da proposta que José Miguel Moreira apresentará no MOTELx 2020. "Carnaval Sujo" joga com as bases tradicionais do Carnaval Português (Ovar) e esta foi uma das muitas peculiaridades que abordamos na nossa conversa com o realizador que, como já sabe, pode ser lida de seguida. Para quem não apanhar "Carnaval Sujo" fica a informação, dada pelo próprio José Silva, que a poderemos ver em 2021 na RTP!



Realizado por José Miguel Moreira

Argumento de José Miguel Moreira

Com Pedro Rodil, Inês Costa, Rui Spranger  

Sinopse: Os namorados Pedro e Inês viajam de Lisboa para assistir ao Carnaval de Ovar. Perdem-se nos pântanos da Ria, onde quase atropelam Teresa, uma criança desaparecida.Teresa foge, e Pedro e Inês procuram-na na laguna, ao mesmo tempo que a protegem de um estranho e perigoso grupo de mascarados que também procura a criança: os Dominós...

Sessões - 9 de Setembro (Quarta-feira) à 21h00 no Cinema São Jorge/ 12 de Setembro (Sábado) às 13h40 no Cinema São Jorge


Portal Cinema (PC) – Antes de explorarmos um pouco o projeto que vem apresentar ao MOTELX 2020, gostaria que falasse um pouco sobre o seu percurso profissional até ao dia de hoje. Qual a sua formação? E o que fez antes de começar a trabalhar neste projeto? 

José Miguel Moreira - Tenho formação em Cinema e audiovisuais (adquirida na ESAP, ESTC, RTP e ESMAE) e, desde há cerca de uma década, sou professor nessas áreas na ESMAD e ESAP. Como realizador, numa espécie de percurso lateral, venho realizando algumas curtas-metragens de ficção (Área Protegida, A Parideira, Falha do Sistema e este último Carnaval Sujo).

PC – Quais são as suas principais influências cinematográficas? E, já que estamos a falar no enquadramento de um Festival de Terror, qual é o seu Top 3 de Filmes de Terror favoritos?

José Miguel Moreira - Aprendo com filmes e realizadores diversos. Mas interessam-me sobretudo filmes onde a estilística “se esconde”, dando primazia à narrativa e às personagens, o que não abunda no género de terror/fantástico. Recordo-me de filmes como “Irmãos Inseparáveis”, do Cronenberg, “As diabólicas”, do Clouzot, ou o “Vampiro”, do Dreyer. Claro, o filme que mais me assustou, quando jovem, foi “O Exorcista” (que nunca mais revi).

PC – O que o levou a criar “Carnaval Sujo”? Como o descreve? E como o enquadra no panorama nacional do género de terror?

José Miguel Moreira - O “Carnaval Sujo” tem fortes raízes em Ovar, de onde sou natural. O filme inspira-se nos corsos dos anos 50/60, verdadeiras batalhas campais (onde a farinha servia de arma de arremesso), e procura explorar a dualidade entre o mundo normal, real e verosímil, e o mundo extraordinário, ambos separados por um portal (no filme é a Ponte). Mas, no fundo, embora mais simbólico e temático do que o habitual no género, “Carnaval Sujo” não é muito diferente dos filmes que trabalham o medo e o suspense.

PC – Quais foram os principais desafios que enfrentou para lhe dar vida? 

José Miguel Moreira - “Carnaval Sujo” foi um filme com uma produção muito complexa, com pouco tempo para a rodagem, sempre rodado em exterior, num enorme pântano, e quase sempre à noite (ou na “hora mágica”) ...e sem corrente elétrica no local, etc. Mas o mais difícil foi a meteorologia, diversa e adversa. Digamos que, como as personagens, também fizemos a nossa viagem iniciática. Dou como exemplo os planos finais, feitos praticamente num só TAKE, com o apoio de uma tenda aquecida (da Cruz Vermelha), e com uma ambulância de prevenção (com sacos térmicos), tal era o frio.

PC – O que significa a presença da sua curta na Competição Oficial do MOTELX? Como espera que o público reaja? E perante isto quais são as suas expectativas globais (quer no festival, quer posteriormente) para a mesma?

José Miguel Moreira - Pessoalmente, o MOTELX é um dos festivais portugueses que mais valorizo, por isso ficámos radiantes com a seleção. Os filmes são feitos para os espectadores e já fico satisfeito se eles o seguirem com emoção e expectativa até ao final. O “Carnaval Sujo” já vinha de um percurso inicial em festivais, nacionais e internacionais. Agora, após o interregno causado pela pandemia, deverá retomar esse percurso de sucesso, nos festivais pelo mundo fora, culminando com a estreia na RTP em 2021.

PC – Em tempos de pandemia, incerteza sobre o futuro e perante a eminência de uma grave crise económica que poderá afetar o financiamento cinematográfico não só em Portugal, mas também em todo o Mundo  gostaria de saber qual a sua posição e perspectiva sobre o futuro próximo da 7ª Arte em Portugal. Que novos desafios, oportunidades ou dilemas trará esta nova era para os criadores nacionais e, em particular, para o cinema de terror?

José Miguel Moreira - A pandemia irá acelerar o que já vinha acontecendo. E nem tudo será mau. No mundo, provavelmente teremos mais séries, mais Streaming e Home Cinema (os ecrãs caseiros competirão finalmente em qualidade com as salas de cinema). Mas também iremos reforçar a cinefilia em modernos cineclubes de rua. No caso do cinema de terror, estou na dúvida se o género não sofrera transformações que passarão, ou por uma maior solidez nos temas e personagens, ou se a distopia “covidiana” não o transformará numa escapatória básica da realidade. Por cá, sem a implosão do sistema de subsídios do ICA, o cinema português não terá futuro. Mas haverá sempre cinema enquanto não vencermos a morte.

PC – E o que nos pode dizer sobre os seus projetos futuros? 

José Miguel Moreira - Face à impressibilidade do momento é melhor não arriscar anúncios, mas não deixarei de lutar pelo sonho de realizar uma primeira longa-metragem, cujo argumento comecei agora a escrever. Curiosamente, algo que nunca pensei fazer, deverá ser uma comédia que mistura romance e drama. Pelo meio, caso demore com o meu produtor a concretizar este projeto, tentaremos outra curta, talvez um filme de fantasmas.

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