MOTELx 2020 - Entrevista com André Carvalho, Realizador da Curta A Grande Paródia

MOTELx 2020 - Entrevista com André Carvalho, Realizador da Curta A Grande Paródia

O Portal Cinema volta a aliar-se ao MOTELx (pelo terceiro ano consecutivo) para dar voz aos criadores que competem a um dos prémios mais icónicos do festival: Melhor Curta-Metragem de Terror Portuguesa. É de recordar que o vencedor desta categoria será o representante de Portugal ao Prémio internacional Mélliès D´Árgent. É importante realçar que esta competição é um dos pontos altos da programação do MOTELx e a concretização de um dos maiores objectivos do festival: a promoção, incentivo e exibição de filmes de terror produzidos em Portugal.   É por isso um prazer para o Portal Cinema repetir esta parceria, ainda para mais num ano tão peculiar como este!


André Carvalho


André Carvalho tem uma grande história para contar com "A Grande Paródia", mas também é uma grande história tudo aquilo pelo qual teve de passar para concretizar este projeto. Valerá a pena conferir o resultado final neste MOTELx


Realizado por André Carvalho

Argumento de André Carvalho

Com André Carvalho

Sinopse: Um realizador adormece enquanto vê televisão e sonha sobre vender a alma a troco de fama e glória. 

Sessões - 10 de Setembro (Quinta-feira) à 00h00 no Cinema São Jorge/ 13 de Setembro (Domingo) às 13h40 no Cinema São Jorge


Portal Cinema (PC) – Antes de explorarmos um pouco o projeto que vem apresentar ao MOTELX 2020, gostaria que falasse um pouco sobre o seu percurso profissional até ao dia de hoje. Qual a sua formação? E o que fez antes de começar a trabalhar neste projeto? 

André Carvalho - Formei-me em Gestão, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O meu projecto final foi criar uma produtora de audio visual, à qual dei o nome de “Lazy Eye”. Comecei a trabalhar com alguns músicos e companhias de teatro, tendo feito o registo de algumas peças e vários videoclipes. Mais tarde, vi a necessidade de ter formação profissional. Frequentei um pequeno curso, também em Coimbra, de Cinema, através do Festival “Caminhos do Cinema Português”. Posteriormente, inscrevi-me no curso “Experimental Filmmaking” da MetfilmSchool, em Berlim. Foi após terminar este curso que realizei a curta.  

PC – Quais são as suas principais influências cinematográficas? E, já que estamos a falar no enquadramento de um Festival de Terror, qual é o seu Top 3 de Filmes de Terror favoritos? 

André Carvalho - Foi o meu pai que me despertou, desde muito novo, o gosto pelo cinema. Passei tarde inteiras, a ver filmes com ele. Curiosamente, eram em maioria Westerns.   Foi mais tarde, que descobri certos realizadores, que mudaram a minha perspetiva sobre o cinema. Emir Kusturica, Stanley Kubrick, Buster Keaton,  João César Monteiro, estão entre os muitos que me despertaram o interesse e vontade em “tentar fazer” cinema. Relativamente a filmes de terror, na realidade, não é de todo “a minha praia”. Sendo que o que mais me atrai, é o surrealismo e o mundo fantástico dos sonhos. Para referenciar um top 3 de filmes de terror, irei cair um pouco nos clichés, de certos clássicos. Não elegendo um top 3 com base em favoritismos, mas sim um top 3, com base na “marca” que deixaram, irei referenciar o “The Silence of the Lambs”, “The Exorcist” e claro o “The Shining”.            

PC – O que o levou a criar “A Grande Paródia”? Como o descreve? E como o enquadra no panorama nacional do género de terror? 

André Carvalho -  - Ainda durante o curso em Berlim e após participar em algumas curtas como freelancer, percebi as dificuldades que há em obter apoios/financiamentos, que deste modo limitam, jovens/novos criativos, em realizar projectos independentes, da sua autoria. Acredito que, por isso, estes mesmo criativos, se sujeitem a “adaptar” as suas obras/ideias, à lei da oferta e da procura. Muitas vezes, chegando até a “despirem-se” dos seus valores e princípios, acompanhando a “desumanização” global que se vive.  É este fenómeno que tentei retratar, incluindo-me, de alguma forma, no “rebanho”. Não sei até que ponto é que se trata de uma curta de terror. Penso que será  mais uma curta gore surrealista.  

PC – Quais foram os principais desafios que enfrentou para lhe dar vida?  

André Carvalho  -  Inicialmente, a curta era para ser o meu projecto final de curso, na MetfilmSchool. Infelizmente, na sessão de Pitch e após a leitura do guião, a Reitora achou que me estava a expor em demasia, visto ser eu próprio a fazer o acting e não quiseram associar o nome da escola a tal filme, visto abordar um tema bastante sensível de uma forma de algum modo grotesca. Ora, à data, já tinha a equipa e os dias de rodagem fechados. Inclusive já tinha requisitado os estúdios e equipamento da escola, os quais após a decisão de não apoiar o meu projecto, não pude mais usufruir. Estive mesmo para desistir, por falta de condições e por razões monetárias. Entretanto e como a vontade de fazer a curta era muito grande, decidi vender o carro que tinha em Portugal. Ao qual não dava uso, visto estar a viver em Berlim. Deste modo, consegui ir em frente com o projecto. Três semanas mais tarde, tinha filmado a minha primeira curta em película de 8mm.               

PC – O que significa a presença da sua curta na Competição Oficial do MOTELX? Como espera que o público reaja? E perante isto quais são as suas expectativas globais (quer no festival, quer posteriormente) para a mesma?

 André Carvalho - Foi muito importante para mim, ter sido selecionado. A curta, tem um estilo bastante específico. Sendo que não há muitos festivais onde se possa “encaixar”. Já fui seleccionado em outros festivais e inclusive cheguei a ganhar alguns prémios, mas todos internacionais. Fiquei, por isso, muito feliz quando recebi a notícia. O MOTELX, tornou-se num dos festivais nacionais de maior referência no que toca a cinema experimental e/ou alternativo.  Infelizmente, acho que, em Portugal, tendemos a dar mais valor, a quem é reconhecido primeiro lá fora. Não apoio de todo esse “fenómeno” e gostava de que, de alguma forma, se quebrasse esse “ciclo”. Temos excelentes criativos e técnicos que só precisam de melhores condições e de algumas oportunidades.  

PC – Em tempos de pandemia, incerteza sobre o futuro e perante a eminência de uma grave crise económica que poderá afetar o financiamento cinematográfico não só em Portugal, mas também em todo o Mundo  gostaria de saber qual a sua posição e perspectiva sobre o futuro próximo da 7ª Arte em Portugal. Que novos desafios, oportunidades ou dilemas trará esta nova era para os criadores nacionais e, em particular, para o cinema de terror? 

André Carvalho - Em Portugal, todos sabemos que, infelizmente, os apoios à cultura não são muitos. Não existem assim tantos concursos/financiamentos, que deem apoio, especialmente a novos talentos.  Acho que teremos de nos despir de pretensiosismos. Não estamos em Hollywood. Temos de pensar fora da caixa e ser mais criativos. Sabemos que tempos mais difíceis aí virão. Teremos de nos adaptar a esta nova realidade.  Creio que isso passará por tentar contar a “história” de outra forma. Fugir um pouco aquilo que já vimos e já conhecemos. Budgets ainda mais baixos e equipas ainda mais reduzidos. Acredito, por isso, que esta nova vaga de “videoarte”, terá uma grande influência no futuro do cinema, não só em Portugal, mas no cinema em geral.   

PC – E o que nos pode dizer sobre os seus projetos futuros? 

 André Carvalho - Desde a adolescência, que despertei o gosto pela escrita e mais tarde pela ficção. E desde muito novo que sou, constantemente, “invadido” por flashes e visualizo tudo a acontecer na minha cabeça, quase como que por magia. Trago sempre comigo, um pequeno bloco, onde escrevo tudo, desde notas, frases ou ideias.  Neste momento, estou a escrever aquela que será a minha primeira longa. O projecto ainda se encontra numa fase embrionária. mas já tenho o “esqueleto”. Agora comecei a “caça” a apoios/financiamentos para a escrita. Vamos ver o que acontece..

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