Crítica - Benedetta (2021)

Crítica - Benedetta (2021)

Realizado por Paul Verhoeven

Com Virginie Efira, Lambert Wilson, Daphne Patakia


Habituado a controvérsias, Paul Verhoeven lançou em 2021 aquele que é, porventura, o filme mais polarizador da sua carreira. “Benedetta” foi exibido no Festival de Cannes e, desde cedo, fez correr muita tinta devido aos seus temas polémicos que envolvem o cruzamento entre o sexo/erotismo e a crença/fé. 

Baseado no livro "Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy", de Judith C. Brown, "Benedetta" transporta-nos até à vila de Pescia no final do século XVII. É aqui que encontramos a jovem freira Benedetta, a quem são atribuídos alguns milagres. Benedetta é portanto a grande figura do convento de Pescia que, a dada altura, passa também a ser a casa de Bartolomea, uma jovem problemática que acaba por se tornar muito próxima de Benedetta, crescendo entre elas um romance ardente que promoverá um aceso debate no Vaticano. Deverá Benedetta ser castigada pela sua relação imoral ou deverá ser perdoada devido ao seu dom único?





Muitos têm dito que "Benedetta" é um de filme de ataque ao Vaticano e à Religião Católica.  Sim, "Benedetta" retrata um entre muitos casos reais que não pintam uma boa imagem da Igreja Católica, não sendo portanto um retrato que agradará aos mais crentes e devotos. O tema da homossexualidade é, ainda, bastante controverso na Igreja Católica (como em outras religiões), mas quanto muito esta obra de Verhoeven ajuda a ilustrar o quanto o pensamento da Igreja evoluiu em 500 anos. Embora a homossexualidade esteja longe de ser aceite pela Igreja, já não é um tema tão tabu e muito menos criminal...Se "Benedetta" é um filme de ataque ao Vaticano terá, então, que o ser também para outras religiões e até para países que ainda consideram a homossexualidade um pecado com possíveis consequenciais capitais e criminais....

Todos nós conhecemos o legado negro da Igreja em algumas matérias, mas justiça seja feita "Benedetta" não é uma ode de ataque ao Vaticano, mas sim um exemplo de como todos têm telhados de vidro. Paul Verhoeven apimentou uma já de si polémica e invulgar história real com uma forte componente sexual, fazendo-o por via de algumas explicitas sequências eróticas que reforçam a afronta do pecado no epicentro da moralidade.....Mas levar "Benedetta" como um ataque direto à Igreja Católica pode ser exagerado....Isto dito, a Igreja Católica não apreciará esta exposição, como também não apreciará de todo certas sequências que envolvem Jesus Cristo e Benedetta que podem ser encaradas como imprórpias, mas também verdade é que a Igreja já teve que enfrentar filmes mais bem insultuosos...E, dito isto, não serão os filmes de terror sobre possessões demoníacas mais hereges que esta obra?

Mas questões religiosas e políticas à parte o que podemos dizer de "Benedetta"? Embora não seja um filme de ataque é sim um filme de choque! Seja pelas sequências explicitas e extravagantes, seja pela própria carga de polémica que rodeia a inspiração real (que como é óbvio tem factos bem mais contidos que os retratados nesta obra exuberante) . É claro que Verhoeven soube mediatizar e sexualizar a já de si curiosa narrativa, transformando-o assim num drama erótico com potencial para chamar à atenção dos mais curiosos, nem que seja pelo seu carisma mais bizarro. E há uma certa beleza neste erotismo e na excentricidade, sendo claramente o destaque de uma história que, claramente, puxa mais pelo excesso que pelo "julgamento moral" dos superiores da protagonista...

E, como filme fora da caixa, "Benedetta" convence e cativa, já como drama biografico deixa algo a desejar porque não é perdido tanto tempo a contextualizar a vida de Benedetta Carlini como é a contextualizar o seu lado mais bizarro ou sexual....É, ainda assim, um filme diferenciado que tem o seu valor igualmente diferenciado num mundo cada vez mais banal.


Classificação - 3 Estrelas em 5

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