Crítica - The Hand of God (2021)

Crítica - The Hand of God (2021)

Realizado por Paolo Sorrentino

Com  Filippo Scotti, Toni Servillo, Teresa Saponangel


Embora longe de ser o filme avassalador que se esperava, "A Mão de Deus"/ "Hand of God" é mais um triunfo cinematográfico por parte de Paolo Sorrentino. Nascido em Nápoles, Sorrentino nutre uma grande paixão por esta cidade do Sul de Itália. Esta foi, aliás, o cenário perfeito para o primeiro argumento que escreveu em 1998 e, agora, Nápoles volta a ser a peça central de um dos seus trabalhos, onde a cidade (e toda a cultura em redor) ganham um merecido protagonismo e apresentam-se como a representação da paixão do cineasta pela sua cidade natal. 

"A Mão de Deus" não é, apenas, uma Carta de Amor de Sorrentino a Nápoles, mas também ao clube de futebol local, à gastronomia, à experiência social que rodeia a cidade e, também, a Diego Armando Maradona, uma figura do mundo do futebol (e do Nápoles FC) que o próprio Sorrentino aprecia ou não fosse o cineasta um napolitano ferrenho que sabe bem o impacto que o astro argentino teve não só no clube de futebol, mas em toda a cidade e seus habitantes. 

Tal como se percebe, a história desta obra desenrola-se nos Anos 80, altura em que Maradona chegou a Nápoles para liderar o clube de futebol local rumo ao título de Campeão Italiano. Dois anos após Maradona chegar a Nápoles participou, com a Argentina, no Campeonato Mundial de Futebol de 1986, onde num jogo contra a Inglaterra marcou um dos golos mais polémicos da história de futebol. Esse golo, marcado com a mão, ficou conhecido como a Mão de Deus, sendo o título do filme uma clara referência a este lance que ajudou a imortalizar Maradona, na altura jogador....do Nápoles. 

É precisamente entre, 1984 e 1986, que se desenrola a ação deste projeto, onde seguimos o jovem Fabietto, um jovem fanático pelo Nápoles que segue a sua paixão pelo futebol e pelo cinema. Filho de uma família da classe média de Nápoles, Fabietto fica em êxtase, juntamente com a sua família alargada, com a chegada de Maradona ao Nápoles. Embora solitário, Fabietto conta com o apoio da sua família altamente disfuncional que o apoia em todas as suas investidas sociais. É com o pai bancário que partilha as suas opiniões futebolísticas, já com a mãe fala sobre assuntos mais delicados, no entanto, é com o seu irmão mais velho que fala sobre as suas expectativas em redor das atividades sexuais. Tudo lhe parece correr bem, apesar da solidão, mas tudo muda quando é confrontado com uma inesperada tragédia familiar que molda o seu futuro na área do cinema. 

Este drama "coming of age" tem, como se esperava, uma beleza técnica acima da média. Sorrentino faz jus à beleza de Nápoles em todos os quadrantes, conseguindo captar na perfeição a essência e a mística da cidade nas suas várias formas. Em cada cena, Sorrentino capricha nos valores técnicos e na captação da essência, quer da cidade, quer das personagens. Este capricho salta à vista quando, por exemplo, Sorrentino explora as complexas dinâmicas familiares que ocorrem sobretudo nos verdejantes subúrbios da cidade, ou, também, na forma hábil como explora a união de Fabietto com Nápoles enquanto este deambula pelas ruas desta cidade nem sempre segura, mas também nem sempre perigosa. Sorrentino promove assim um espetaculo visual apelativo que vai tendo o apoio de um contexto narrativo que, entre altos e baixos, acaba por não corresponder em pleno ao valor técnico da obra. 

Embora se perceba, em última análise, a grande lógica por detrás do enredo, este falha na hora de promover uma trama linear, objetiva e concreta que consiga agarrar o espectador. Em todo o caso é, ainda assim, muito interessante de acompanhar a evolução existencial e emocional de Fabietto, sendo também curioso de acompanhar como lida com novas experiências e inesperadas adversidades que o ajudam a se tornar num adulto com um percurso de vida mais claro...

Candidato de Itália ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro (já assegurou a presença entre os pré-nomeados finais), "A Mão de Deus" não é, como já se disse, um filme avassalador, não sendo sequer o melhor da carreira de Sorrentino. Mas é evidente a paixão que o cineasta depositou neste seu projeto de coração que, apesar de algumas falhas, surge como uma grande experiência cinematográfica para qualquer espectador....sobretudo para aqueles que conhecem (ou querem conhecer) a cidade de Nápoles. 


Classificação - 4 Estrelas em 5

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