Crítica - Bruno Reidal – As Confissões de um Assassino (2021)

Bruno Reidal – As Confissões de um Assassino

Realizado por Vincent Le Port

Com Dimitri Doré, Jean-Luc Vincent, Roman Villedieu

Exibido pela primeira vez no Festival de Cannes em 2021, "Bruno Reidal – As Confissões de um Assassino" é uma obra de Vincent Le Port que explora um aterrador crime real ocorrido em 1905, na província de Cantal, França. Baseado na história verídica de Bruno Reidal, um seminarista de 17 anos que se entregou à polícia após confessar o brutal assassinato de um rapaz de 12 anos, o filme adota uma abordagem menos sensacionalista e mais clínica do que o título pode até sugerir.

Não há aqui muitas dúvidas sobre se o crime é real ou se aconteceu, sendo que também não se pretende criar em nenhum momento a dúvida ou colocar o espectador no papel de detetive e colocá-lo numa viagem  policial  por entre as provas para descobrir quem efetivamente cometeu o crime e se a justiça foi ou não feita, isto porque o filme começa precisamente por mostrar Bruno Reidal (interpretado por Dimitri Doré) a cometer o crime e a entregar-se às autoridades. É a partir daqui que a história se desenvolve, já que para entender as suas motivações, um painel de médicos liderado por Lacassagne (Jean-Luc Vincent) incita-o a escrever as suas memórias, proporcionando assim um mecanismo de flashbacks que revela a sua infância conturbada, marcada por pais abusivos e irmãos emocionalmente distantes.

O filme destaca-se, portanto, pela forma como tenta explorar a psicologia criminal através da perspetiva do próprio assassino. Ao contrário da abordagem sensacionalista comum em vários retratos de assassinos, Le Port opta por uma análise mais serena e meticulosa, quase copiando a abordagem de Truman Capote em "In Cold Blood". 

Apesar de muitos dos detalhes mais macabros serem omitidos do espectador, a narrativa não deixa de ser perturbadora. O uso de flashbacks para preencher a história de Reidal acrescenta uma profundidade psicológica que é tanto cativante quanto desconfortável. A cinematografia de Michael Capron reforça a atmosfera enigmática da época, com uma estética visual sublime. Dimitri Doré oferece-nos também uma performance marcante, capturando a melancolia e a inquietação de Bruno Reidal de forma convincente. 

Em suma, "Bruno Reidal – As Confissões de um Assassino" é um filme desafiante que nos obriga a confrontar as duras realidades da psicologia criminal e as falhas da sociedade em prevenir tais tragédias. Muito mérito tem que ser dado a Vincent Le Port que, assim, revela-se capaz de abordar temas complexos com uma sensibilidade perturbadora, criando um filme que é tanto uma exploração psicológica quanto uma crítica social. Embora tenha já três anos este é um filme que pode já ter sido esquecido pelo Mundo, mas que brilhou em Cannes e que em breve poderá ser visto em algumas salas de cinema em Portugal. 


Classificação - 3,5 Estrelas em 5

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