Crítica - Batman (1989)

Realizado por Tim Burton
Com Michael Keaton, Jack Nicholson, Kim Basinger, Robert Wuhl, Pat Hingle

Batman, a popular personagem da DC Cómics criada por Bob Kane, teve a sua primeira aventura no cinema em 1966, no entanto, este filme serviu apenas como complemento à série televisiva por isso podemos considerar que “Batman” de 1989 foi a primeira adaptação formal do super-herói ao grande ecrã. O realizador escolhido para dar vida ao projecto foi o excêntrico Tim Burton, uma escolha algo arriscada devido à falta de experiência do cineasta, que só havia realizado dois outros filmes e de um género completamente diferente do projecto em mãos, no entanto, esta aposta acabou por ser revelar como a mais acertada já que o espírito negro e misterioso do realizador combinaram na perfeição com a identidade original da personagem. “Batman” foi o primeiro de uma série de filmes que relatou as aventuras de Bruce Wayne e do seu alter-ego, contudo nenhuma das obras apresentadas ao longo da década de noventa rivalizou com esta. O filme apresenta-nos a Bruce Wayne (Michael Keaton), um jovem rico mas transtornado que presenciou o homicídio dos seus pais quando era criança. Magoado e movido por um sentimento de vingança, Bruce começa a viver a sua vida com o desejo implícito de limpar Gotham de todos os criminosos que ameaçam a sua segurança. É então que nasce Batman, um super-herói misterioso que combate o crime no escuro da noite e que não dá descanso aos vilões da cidade. O seu maior desafio chega quando um psicopata deformado apelidado de Joker (Jack Nicholson) ameaça todos os cidadãos de Gotham ao engendrar um plano diabólico que envolve químicos e uma das maiores fraquezas da sociedade actual, o desejo incessante de ter uma melhor aparência física.
O filme aborda as origens de Batman, no entanto, fá-lo de uma forma diferente da efectuada por Christopher Nolan em “Batman Begins”. Se este explora as origens de Bruce Wayne e Batman de uma forma pormenorizada e detalhada, Tim Burton optou por simplificar o passado do super-herói, focando-se mais nas suas primeiras aparições e negligenciando o seu passado longínquo. No entanto, por muito estranho que possa parecer, Batman acaba por desempenhar uma função secundária no filme, porque o verdadeiro protagonista é o seu principal inimigo, Joker. Este vilão foi alvo de uma concepção muito completa e personalizada, que lhe permitiu roubar o estatuto de protagonista ao próprio herói do filme. Para tal facto contribuiu e muito a brilhante interpretação de Jack Nicholson, que “pintou” Joker da melhor forma possível, contudo temos também que atribuir o crédito devido a Tim Burton, que soube oferecer à personagem os cenários ideais para que esta brilhasse. É claro que devemos criticar Burton por não se ter focado mais em Batman, contudo esta “falha” não foi tão grave como isso, porque o filme acabou por resultar e o super-herói viria a ter mais tempo de antena nos filmes seguintes. O único resultado negativo desta abordagem menos centralizada é que se ficou a saber muito pouco das origens do Cavaleiro Negro, algo que viria a ser corrigido em 2005.
O ponto fraco de Burton acabou por ser as sequências de acção, tendo sido aqui que a sua inexperiência na realização de filmes de acção veio ao de cima. As lutas e perseguições da obra não foram devidamente coordenadas e coreografadas, o que levou a uma confusão geral nos momentos de maior adrenalina. Felizmente, Burton compensou em outros aspectos como o visual. A cidade de Gotham apresenta-se negra e misteriosa, bem ao estilo gótico do realizador e correspondente à descrição dada pela banda desenhada. Também Batman e Joker aparecem brilhantemente caracterizados, enquadrando-se perfeitamente no estilo sombrio da história. A banda sonora de Danny Efman é outro aspecto técnico a destacar em “Batman”. A partitura composta para o filme é vibrante e baseada no estilo alternativo/gótico do herói. O elenco é dominado, como já referi, por Jack Nicholson, um brilhante actor que interpretou um brilhante vilão. Nicholson fez sobressair a personalidade brincalhona mas terrivelmente psicótica de Joker que se sobrepôs a uma misteriosa e carrancuda personalidade de Batman, um choque de ideias e emoções que resultou num bom duelo cinematográfico, talvez por isso Joker seja visto como o principal inimigo de Batman. Michael Keaton pode, para muitos, não ter preenchido os requisitos físicos necessários para interpretar Batman, no entanto, a nível psicológico parece-me a mim que cumpriu a missão. Na minha opinião é, atrás de Bale, o actor que melhor interpretou o papel. A posição feminina de maior destaque foi preenchida por Kim Bassinger, que tem um trabalho razoável na pele da fotógrafa Vicky Vale.
Este “Batman” apresentou um forte argumento baseado na essência do super-herói, no entanto, poderia se ter focado mais nele do que em Joker, contudo o trabalho efectuado com este vilão ainda não foi igualado por qualquer outro filme de super-heróis e isso é de destacar, afinal de contas um bom herói necessita de uma magnifico vilão para se sobressair. Apesar de tudo, com um argumento simples e modesto, um vilão incrivelmente maléfico, um herói invulgar e misterioso e uns aspectos técnicos de acordo com o espírito original da obra, “Batman” acaba por ser um bom filme.


Classificação - 3,5 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. É um filme morno, mas dá para assistir para esquecer aquele série horrorosa dos anos 60.
    Mas convenhamos que Kim Bassinger foi apenas ela mesma...
    Harvey Dent, que veríamos em 2008 novamente, aqui ele é apenas uma figura que não acrescenta em nada -até mesmo a etnia do ator é trocada-.
    Infelizmente na continuação desse longa, Tim Burton cometeu o mesmo erro, deixou o morcego em segundo plano e deu mais luz aos vilões.
    Mas ambos sobreviveram ao tempo, e até hoje quando passa em algum canal da tv paga, tem muitos fãs assistindo.
    Pena que depois a série morreria e só voltaria em 2004 com Batman Begins de Christpher Nolan.

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