Espaço Séries: Weeds


A ironia e o cinismo, aliados a ausência de pudor e sentido de humor sublimes dão em séries como esta. A América que todos tão na moda abominam é ainda a pátria de inteligência e afrontamento aos "valores" que por cá são e serão miragem, no mínimo, por muito tempo. A sinopse é simples: casal com dois filhos (um adolescente, outro pré-adolescente) da classe média-alta dos subúrbios de uma cidade nos EUA. Marido morre. Esposa descobre que a família estava afinal falida e pretende manter o nível de vida levado até aí. Como proceder dado que até à viuvez era doméstica de profissão? Torna-se dealer! Obviamente!
Agora a sério: por mais provocatória que pareça esta tagline, não será nada do outro mundo se se atentar no facto que mandar umas passas está nas agendas regulares da citada classe bem nutrida, abonada e instruída. Claro que se envereda muito pelas personagens caricaturais, mas nem a mais improvável caricatura está divorciada da realidade. Como não poderia deixar de ser, o sucesso de Weeds não vem somente de um argumento com as exactas doses de humor, acutilância, drama e suspense (cada episódio conhece o seu climax na provável detenção da heroína Nancy Botwin ), as interpretações completam/inauguram a insofismável qualidade da série. Lembram-se da destravada namorada do Josh em The West Wing? Uma tal Mary-Louise Parker... É justamente esta senhora aqueloutra supra mencionada Nancy Botwin . Papel ideal para a actriz que melhor sabe manipular o sorriso. Caso para se afirmar em modo "nortada": "Esta mulher é uma Senhora, carago!"
Coadjuvada por Elizabeth Perkins , Kevin Nealon, Tonye Patano, e duas crianças agora já adolescentes simplesmente soberbas: Allie Grant, e Alexander Gould (puto talentoso!), Mary-Louise Parker/Nancy Botwin distribui e angaria marijuana episódio após episódio, sempre na corda bamba (ou na corda Obama, já que a série é de pendor 100% pró-democrata). Além de promover o culto da botânica alucinogénia, em Weeds o tráfico é feito a bordo de um automóvel híbrido. Mais amor à Natureza não pode haver! Estou a exagerar nos elogios? É natural. Justifica-se perfeitamente que o faça. O único handicap da série é ter prosseguido após o apocalíptico término da 3ª temporada, a fechar com o mesmo tema que abre a série: "Little Boxes" de Malvina Reynolds. Mas o dinheiro é mau conselheiro...
O meu desgosto em ver mais uma série que não soube terminar no seu devido tempo é de tal ordem que, apesar deste entusiasmo todo, não guardo qualquer apetite pela 4ª temporada (que já começou há umas semanas). Para finalizar, e porque o tal tema do genérico é simplesmente perfeito... Os covers que dele foram feitos na 2ª e 3ª temporadas! Nomes como Elvis Costello, Randy Newman, The Shins, Death Cab For Cutie, etc, interpretam "Little Boxes" seguindo-se-lhe uns escassos 20 minutos mais qualquer coisa em que o reduzido tempo compensa na qualidade de conteúdos. Toda a TV deveria ter meia hora a este nível!

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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