Crítica - Burn After Reading (2008)

Realizado por Joel Coen e Ethan Coen
Com Brad Pitt, George Clooney, John Malkovich, Frances McDormand, Tilda Swinton

Em 2007, os Irmãos Coen apresentaram ao mundo “No Country For Old Men”, um western com traços de thriller que surpreendeu a crítica e que rendeu o público à magia cinematográfica dos Coen. Um ano e vários prémios depois, os irmãos cineastas voltam à carga com “Burn After Reading”, uma espécie de comédia negra que se mostra incapaz de alcançar as expectativas criadas em seu redor. Já se sabia que muito dificilmente os Coen conseguiriam apresentar um trabalho que ombreasse directamente com a qualidade de títulos como “No Country For Old Men” ou “Fargo”, no entanto, esperava-se que fossem capazes de criar um filme digno de suceder ao vencedor do principal Óscar da Academia mas infelizmente, “Burn After Reading” não corresponde a essa expectativa, não é que seja um mau filme porque não o é, dentro do género humorístico até é capaz de ser uma das melhores obras do ano, contudo há qualquer coisa que falha, talvez seja por causa do argumento que é demasiado aparvalhado ou talvez seja por culpa da realização que se mostra uns furos abaixo da fasquia qualitativa dos Coen, a verdade é que “Burn After Reading” não consegue entusiasmar os espectadores da mesma forma que os seus antecessores conseguiram.

 

O argumento de “Burn After Reading” contém um misto de vários géneros cinematográficos, contudo o mais promitente é a comédia, centrada num humor negro praticamente satírico, que realça as excentricidades/clichés do mundo dos espiões ao mesmo tempo que expõem humoristicamente os vários defeitos dos desejos humanos. A história do filme centra-se num valioso CD que contém alguns dos mais importantes segredos da CIA e do governo americano, e que acaba por ir parar às mãos de dois gananciosos funcionários de um ginásio (Brad Pitt e Frances McDormand) que pretendem vender essa informação aos russos, e com isso lucrar milhões de dólares que poderão gastar em operações plásticas, contudo para que o seu plano tenha sucesso terão que fintar as investidas do agente Harry (George Clooney) e do ex-agente Cox (John Malkovich), responsável pela existência do CD. Paralelamente à trama principal, existem histórias secundárias que versam sobre o íntimo pessoal de cada uma das quatro personagens principais do filme. Como já referi, o argumento do filme aposta no humor negro e inteligente. Ao longo da obra são várias as situações cómicas que animam a trama principal e secundária, muitos desses momentos humorísticos são bem divertidos e é raro encontrarmos um que procure a piada fácil e sem nexo, contudo um filme não pode ser só feito de piadas, principalmente quando esse filme é realizado pelos Coen. Sinceramente esperava um argumento que apostasse no humor, mas que também se preocupasse em desenvolver um aspecto sério e realista que permitisse que géneros secundários (Thriller, Acção) tomassem subitamente conta da obra e surpreendessem o espectador, um pouco à semelhança do que foi feito em “Fargo” ou “No Country For Old Men”. Infelizmente nada disso foi feito. Os subgéneros estão lá, mas o argumento está demasiado preso à comédia e a uma história um bocado parva que não faz muito sentido. No fundo estamos perante uma boa comédia que tinha potencial para se expandir por outros caminhos, mas que optou por se limitar a praticamente um género.
O elenco do filme está recheado de grandes talentos da representação, entre as caras mais conhecidas estão Brad Pitt e George Clooney, inegavelmente os grandes atractivos do elenco. Ambos apresentam uma performance de qualidade que condiz com o seu real valor artístico. Brad Pitt "foge" do seu ambiente natural ao assumir uma personagem bastante cómica, mas que realça a sua versatilidade e talento como actor, já George Clooney interpreta uma personagem bem ao seu estilo e bastante semelhante a algumas que trabalhou no passado. Os outros grandes nomes do elenco, John Malkovich e Tilda Swinton, também tiveram a sorte de poder interpretar personagens que favorecem as suas capacidades de representação e que lhes permitiram arrancar uma boa performance. Frances McDormand, a famosa actriz de “Fargo”, encontra-se no mesmo barco que Brad Pitt, também ela deixou de lado os papéis sérios e dramáticos para assumir um papel cómico e gozão que realça as suas inegáveis qualidades de actriz, afinal de contas estamos a falar de uma veterana da representação que já ganhou um Óscar de Melhor Actriz Principal. “Burn After Reading” é uma boa comédia, recheada de momentos humorísticos de qualidade e interpretada por um elenco amplamente profissional e dedicado. Apesar dos elogios e da visível qualidade da obra, os Coen não conseguiram corresponder às altas expectativas criadas em redor do sucessor de “No Country For Old Men”, já que se esperava um trabalho ambicioso, sério e que provocasse espanto e surpresa no espectador mas, infelizmente, “Burn After Reading” não se enquadra em nenhum desses cenários.

Classificação - 3,5 Estrelas Em 5

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9 Comentários

  1. Como sempre, concordo inteiramente com a tua crítica. Podaim ter feito melhor, ainda por cima com um elenco daqueles.

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  2. Voce ralmente viu o filme?? Sua resenha naum condiza com a historia... primeiro pq o cd naum continha informaçoes valiosas e isso fica claro durante tdo o filme... e o george clooney naum é um agente mandado para buscar o cd... ele é só um funcionario do governo... dificil dar credito a critica se vc se enrola na sinopse...

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  3. Fled se voce é ingénuo o suficiente para não saber o significado de uma sinopse, o problema é seu não meu. Acha mesmo que uma crítica deve revelar o conteudo do cd e spoilar a história para a pessoa que a lê antes de ir ver o filme? Quanto à personagem de Clooney ele é um investigador federal que de certa forma está envolto na história do cd roubado, afinal de contas ele é o amante da mulher do homem que escreveu o livro.

    Antes de falar confirme os factos sim....

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  4. A questão não é a sua sinopse conter spoilers, JT, mas sim estar errada - o cd NÃO contém informações valiosas, e tão pouco o Clooney investe contra quem quer que seja.

    O facto de um filme ser 'aparvalhado' (usando o seu adjectivo) não faz dele um mau filme. Aconselho-o a rever os seus critérios de análise e a ser um pouco mais objectivo.

    A história não faz grande sentido propositadamente (apesar de estruturalmente o filme fazer todo o sentido). É isso que é discutido na cena final. O que me parece é que JT está a discriminar o Burn after reading por não ter um registo sério, e, mais uma vez, isso não é um argumento válido (é sim demonstrativo da sua intolerância face a comédias mais exageradas)

    Ao contrário do que diz, Burn after reading é bastante ambicioso e imprevisível (os Coen já nos habituaram a não se manterem num registo por muito tempo, e têm a particularidade de serem super versáteis). Não é qualquer realizador que consegue por uma plateia inteira a rir com uma cena em que um homem furioso espeta um machado na cabeça de outro.

    Sem dúvida que não é um dos momentos mais altos dos Coen, mas não deixa de ser um tremendo filme. E se é menos grande, de certeza que não é pelos motivos que mencionou.

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  5. Anónimo, lá estamos nós a bater na mesma tecla em relação ao CD. Em todas as sinopses, portuguesas e norte-americanas de anuncio do filme, o cd é tido como contendo informações cofidenciais. Se eu estou errado em colocar uma sinopse detsa forma também devem contestar a sinopse oferecida pelo próprio estudio do filme.

    Uma sinopse não tem como objectivo fornecer um resumo completo do filme mas sim aguçar o apetite do espectador, se esse fosse o caso a sinopse de "Eagle Eye" por exemplo deveria referir que a voz presente no filme não é de uma mulher/pessoa mas sim de um computador ou a sinopse de Indiana Jones 4 devia referir que a personagem interpretada por Shia LeBeouf é filho de Indiana Jones mas fazem-no .......NÃO......Porque?....Porque estraga, de uma forma ou de outra, o enredo do filme e arruina alguma curiosidade levantada em torno deste. Nunca fui apologista de revelar o filme numa crítica já que se eu fossse um leitor, não gostaria que me revelassem e posteriormente estragassem o filme todo. Se a sinopse de "Burn After Reading" revelasse desde logo que a personagem de Brad Pitt tem nas mãos um cd repelto de informações inuteis...acho que os trailers do filme parceriam um pouco inuteis...já agora porque é que não os criticam também?...estes dão claramente a etender que o cd é valioso....

    Mudando de assunto porque este claramente está encerrado.

    A minha opinião do filme foi expressa na crítica e não mudo nem uma virgula.Como tuda na vida hà gostos para tudo, há quem adore certos filmes e há quem não goste, cada um tem os seus critérios e a opinião pessoal é sempre subjectiva.

    Não considerei "Burn After Reading" um mau filme, porque senão não lhe tinha dado uma nota acima da média (3,5). Quando não gosto dum filme ou dou-lhe 1 ou 2.
    Como disse, o filme é um boa comédia, uma das melhores do ano em Hollywood. Tem um elenco competente e uma realização boa mas não ao nível de alguns trabalhos do passado recente dos Coen. Eles limitaram-se a fazer uma comédia quando se esperava que fossem muito mais ambisiosos...No fundo jogaram pelo seguro.

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  6. O primeiro assunto não está de todo encerrado, porque o JT ainda não o compreendeu. O seu problema é essencialmente de português, porque CONFIDENCIAL não é sinónimo de VALIOSO. Há uma diferença abismal entre escrever uma sinopse que não revela detalhes da intriga do filme, e escrever uma sinopse que mente ao espectador acerca da real natureza dessa intriga. A não ser que isso seja um exercício propositado (o que não me parece de todo o caso) – está mal feito.

    Quanto ao resto da sua resposta saliento isto: “limitaram-se a fazer uma comédia.” Acho que é totalmente coerente com aquilo que já disse acerca da sua crítica no meu post anterior. Se volta ou não atrás com a sua palavra, isso é consigo, mas repito que dizer que um filme não é tão bom porque é aparvalhado, não é argumento que se apresente (até mesmo numa crítica). Se dissesse que o filme contém uma série de plot holes, ou que os diálogos são pobres, ou que situação X não tem razão de ser no contexto dramático do filme… era aceitável. Mas o que faz é dizer que o filme é aparvalhado e não faz sentido... Consciência disso já tinham os Coen quando o escreveram, portanto não só é um fundamento fraco do ponto de vista da crítica, como não nos traz nada de novo.
    Não acho de todo que eles tenham jogado pelo seguro, prova disso são as muitas críticas do género da sua. Jogar pelo seguro seria ir pelo caminho dos grandes sucessos, como Fargo ou No country.
    A opinião pessoal é subjectiva (sendo pessoal, lá está), mas o gosto tende para uma objectividade, e é isso que estamos aqui a discutir.

    Miguel Cipriano

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  7. Claro que não é a mesma coisa mas só me está a dar razão com esse comentário. O facto é que na trama existe o CD e que esse CD contem informações classificadas que podem ser ou não valiosas, mas a forma como os trailers e como o filme o apresenta na sua introdução dá a entender que são valiosas. Esses conceitos não são sinónimos, mas ao conceito de confidencial está tacitamente associado ao de valioso porque uma coisa que é confidencial é em 99% dos casos...valiosa.

    Quanto ao filme em si. Já muitas vezes disse aqui que as comédias de Hollywood já não são o que eram e que cada vez mais aparecem obras desse género que mais valia não terem saido do papel. No espectro dessas obras, "Burn After Reading" é realmente uma obra de arte porque lhes dá 10 a 0 em qualidade em todos os aspectos técnicos e narrativos.
    "Burn After Reading" é aparvalhado e isso é um facto, é certo que esse aparvalhamento funciona como sátira aos filmes de espiões e até às proprias comédias (estas de uma forma muito subjectiva)e se essa era a ideia dos Coen, que acredito que era, muito bem para eles, há pessoas que como o leitor gosta desse tipo de narrativa aparvalhada. Eu pessoalmente não gostei e acho que podiam ter ido mais além do mundo da comédia, mas recorreram apenas à satira...que é uma das "ferramentas" mais usadas pelas comédias e que cada vez mais é usada naquele tipo de filmes detestaveis e descartaveis de Hollywood como "SuperHero Movie".

    Os Coen criaram uma comédia satírica...parabéns para eles...é surpreendente? Não. Acompanha a sua evolução dos ultimos anos enquanto cineastas? Não. É digno de um Oscar de Melhor Filme? Não (Mas isso também não se esperava)

    Esperava-se mais dos Coen, esperava-se uma comédia satírica com contornos noir ou uma comédia dramática com contornos satíricos...agora quando o resultado é uma comédia ao nível de 90% dos realizadores...é realmente desapontante e não faz jus ao nome dos Coen.

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  8. O trailer pode dar a entender, mas não mente. Essa diferença entre o implícito e o explícito é um detalhe importante, por muitas voltas que tente dar à coisa. O que você fez foi uma má sinopse. Ponto final.

    Colocar o Superheroe movie ao lado dos Coen tem o seu quê de bizarro. A sátira existe desde sempre, mas há sátiras e sátiras.
    Reconhece-se que eles têm muito jeito para reavivar o noir quando lhes apetece, mas este não é de todo um caso em que isso deveria acontecer, não percebo sequer essa sua questão.
    Tem dificuldade em receber este filme como uma simples comédia que é - aparvalhada, mas muito inteligente. Tudo bem.

    Foi mais esclarecedor nesta sua última resposta do que na crítica.

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  9. Penso que o principal objectivo deste filme é mostrar mesmo a parvoice, que qualquer escalão, em qualquer nível de vida há verdadeiros idiotas.
    Assim existem os idiotas ignorantes (personagens representadas por frances e brad pitt); idiotas que parecem espertos (personagens representadas por malkovich e swilton); idiotas psicopáticos com a mania da perseguição (clooney) e idiotas românticos (personagem representada por richard jenkins).
    E é engraçado que a personagem mais sonsa do filme é a mais esperta, que é a mulher de george clooney,personagem representada por elizabeth marvel).
    O filme não é um fargo, um no coutry for old men ou até um the big lebowski, mas também está longe do intolerable cruelty, para mim de longe o mais fraco filme dos cohen.
    Penso que está ao nivel do o brother where art tho, do quinteto da morte ou do raising arizona.
    Aliás, acho que o único filme fraquinho dos cohen é mesmo o intolerable cruelty.
    Daria portanto 3.7 a este filme que nos dá uns bons momentos de risada em que o expoente máximo é o momento em que a personagem interpretada por clooney se encontra com a personagem encontrada com pitt( e mais não digo :) ). Bom ano a todos

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