Crítica - The New World (2005)


Realizado por Terrence Malick
Com Colin Farrel, Q'Orianka Kilcher, Christian Bale, Christopher Plummer, August Schellenberg


Terrence Malick é actualmente um dos grandes génios do cinema mundial. Por si falam as suas 4 obras-primas que mostram que quantidade não é sinónimo de qualidade. Datado de 2005, este “The New World” é uma obra muito poética e filosófica, à imagem da sua anterior obra “The Thin Red Line”. Tal como nessa obra, “The New World” está repleto de monólogos existencialistas e naturalistas. A mãe natureza tem aqui um papel fundamental na construção e desenvolvimento do filme e das personagens, principalmente as de John Smith (Colin Farrell) e de Pocahontas (Q’Orianka Kilcher). O filme traz-nos a história da fundação da cidade Jamestown, na Virgínia, enquanto nos narra o conto de amor entre o Capitão Smith e Pocahontas. A paixão entre estes dois seres é-nos apresentada por Malick como algo transcendental, sublime, mágico e puro. São muitos os momentos em que vemos os dois a tocarem-se, sempre acompanhados por uma calma abundante em toda aquela natureza, a mãe-natureza, que parece ser um deus e a verdadeira inspiração para estas duas almas apaixonadas e toda a civilização índia. O filme irradia reflexões e críticas à sociedade actual, mostra que apesar do não desenvolvimento económico e cultural que os índios teriam se ainda hoje fossem povo, a sua sociedade era mais feliz e tranquila que a nossa actualmente. Terrence Malick aproveita a história de Pocahontas para fazer uma reflexão sobre o que seria viver em conformidade com a natureza, o que seria se o desenvolvimento científico, económico, electrónico e químico não crescesse, o que seria se não existisse falsidade, ganância, inveja e mentira. “The New World” traz-nos uma história de amor impossível em tempos de descobrimentos, conquistas e guerras, mostra-nos o início do fim de uma civilização que, segundo Malick sabia viver melhor que a nossa sociedade actual.
Terrence Malick apresenta-nos o Capitão Smith como um homem agressivo, pensativo, observador, fascinado por aquele mundo onde abunda natureza, ar puro, tranquilidade e um sossego invejável. Smith parece ser um homem cheio de incertezas e em busca da sua própria definição como homem. Esta aventura vai defini-lo como ser humano, vai ajudá-lo a conhecer melhor as suas limitações, ambições e desejos. Fascinado por aquele “novo mundo”, Smith anseia construir uma civilização onde ninguém é pobre, onde não haja diferenças sociais, ganância, mentira e onde todos sejam iguais. Por isso, quando Pocahontas o salva e ele se depara com a vida dos índios, percebemos que Smith era capaz de abdicar das suas ambições em criar novas colónias e descobrir novas terras, em prol de uma vida sã, feliz, fiel, ao lado de Pocahontas, por quem se apaixona, naquele mundo sereno. Mas Smith é também, e acima de tudo, um homem confuso e céptico quanto à dádiva que parece ter recebido, o amor; o amor naquele mundo perfeito; o amor no paraíso. Pocahontas é inteligente embora ingénua, pura, intrigada pelos visitantes. Apaixona-se por Smith e este amor é transposto para o ecrã como uma veneração de Pocahontas por Smith. Ela ensina-o a contemplar a natureza, a paz daquele mundo, aprende com ele a falar inglês e faz de tudo para que esse amor tenha sucesso, para que Smith se adopte aquela vida ou que a leve com ele para o seu mundo. Percebemos que Pocahontas está disposta a abandonar o seu povo devido ao seu amor por Smith.
Mas Smith não está disposto a renunciar a uma vida próspera e a um futuro risonho que ele anseia no mundo dos descobrimentos, em prol de um amor que nem ele está consciente de que exista. Percebemos no fim do filme que Smith ainda a amava, sempre a amou e só aí ganhou consciência de tal facto, bem como Pocahontas há muito percebera que Smith abdicara do seu amor pela carreira, quando lhe pergunta: “Encontras-te a tua Índia John? Deves encontrá-la.”, como que a reprová-lo pela sua escolha, mas a incentivá-lo a que não desista, pois embora ainda o ame, ela encontrou alguém que a ama incondicionalmente, que a ensinou a amá-lo e que a faz feliz. Terrence Malick traz-nos uma história de amor tão intensa e infeliz só superada pelo trágico Romeu e Julieta. “The New World” é uma obra-prima toda ela recheada de simplicidade. A banda sonora está constantemente em concordância com o filme, quando nos momentos mais belos e poéticos da obra em que a natureza e o crescimento do amor das duas personagens centrais do filme se misturam com temas musicais de Mozart e de Wagner. É um filme lindo, poético, filosófico e romântico. É, na minha opinião, uma das melhores obras cinematográficas deste novo século.



Classificação -5 Estrelas Em 5

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6 Comentários

  1. É um filme do Mallick, logo a seguir àquele que é só o meu filme preferido, e que conseguiu não me desiludir. Isto diz muito.
    De resto concordo substancialmente com a tua crítica. Tomara que em 2009 os nomeados lhe chegassem aos calcanhares. Ainda me falta ver mais uns, mas acho que não haverá um só que se lhe equipare.

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  2. Estas a falar dos óscares deste ano? É que se estás a falar disso, podes ter a certeza que não há nenhum que lhe chegue aos calcanhares. Nem a este, nem a nenhum do Malick. O único que podia discutir algo com este filme,não está nomeado, que é o The Wrestler do Aronofsky. Mas eu também não dou muita credibilidade aos óscares, pelo contrário, se não estiver nomeado é sinal de que não é um filme comercial e americanizado, por isso...

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  3. Grande realizador! Os poucos filmes que fez sairam todos geniais! Pena os óscares só terem dado valor ao The Thin Red Line com 7 nomeações, mas mesmo assim prémios foi para esquecer. Estou ansioso que saia o The Tree Of Life com o Brad Pitt e o Sean Penn

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  4. Eu também estou ansioso para que saia o The Tree of Life, mas estou convicto que Malick não vai desiludir e nos vai trazer mais uma obra-prima.

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  5. Partilho da mesma opinião. É uma das melhores obras cinematográficas deste novo século. Subtilmente perfeito.

    Cumps.

    Roberto F. A. Simões
    CINEROAD

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  6. Adorei o filme e só gostaria de acrescentar o seguinte: 1) achei muito interessante que tenham sido os ingleses a integrar a Pocahontas na sua sociedade e não o povo índio a realmente aceitar Smith na sua comunidade ("Ele não é um de nós"). Sim, a Pocahontas foi de visita ao reino quase como uma ave exótica em exposição mas eus enti que foi mais profundo que isso e os habitantes de Jamestown sentiram realmente a sua ausência. 2) Smith diz-nos nos seus pensamentos que as palavras "perdão" e "traiçã"o não existiam no vocabulário índio, mas a história mostra-nos que ele está enganado e nem a princesa, a filha predilecta foi perdoada pelo próprio pai. No fundo acho que Malick retrata os dois lados de forma imparcial, mostrando-nos o bom e o de mau de cada um. Mais uma vez: adorei.

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