Crítica - Three Monkeys (2008)


Realizador: Nuri Bilge Ceylan
Actores: Yavuz Bingöl, Hatice Aslan, Ahmet Rıfat Şungar, Ercan Kesal

O título deste filme vem duma história japonesa em que existem três macacos, o primeiro representado com a mão a tapar os olhos, o segundo com a mão nos ouvidos e o ultimo com a boca tapada de modo a evitar a percepção do diabo. O grande problema destes macacos é que o diabo continua diante dos três. E a história do filme não é mais que a tradução desta fábula japonesa para a realidade contemporânea turca.
A história do filme pode ser quase contada como uma novela brasileira da TV, um homem de negócios turco com ambições políticas atropela uma pessoa mortalmente por acidente numa floresta e decide fugir mas a matrícula do seu carro é registada por uma testemunha. Para prevenir um escândalo decide dizer que foi o chauffer que conduzia o carro naquele instante e propõe ao seu empregado confessar o crime em troca de uma quantidade de dinheiro avultada. O chauffer apanha 1 ano de cadeia e enquanto está na cadeia a sua mulher envolve-se amorosamente de forma frequente com o empresário a troco de adiantamentos de dinheiro. O filho dos dois apesar de resistência inicial aceita calar-se porque necessitava de dinheiro. Quando o homem sai da prisão, a sua relação com a família torna-se um inferno silencioso. Os três sabem do que se passa mas nenhum tem coragem em falar, em ouvir e a ver para manter a ‘unidade familiar’.
É uma história complicada mas que o cineasta filma com uma grande sensibilidade realçando os silêncios, os pensamentos e as expressões das personagens. Não é um filme de grandes diálogos mas de inteligência e sensibilidade. Na minha opinião o tema do filme é o silêncio, não um silêncio tranquilo mas um silêncio forçado e falso. Por vezes torna-se contemplativo chegando mesmo a realçar a beleza de Istambul (cenário do filme). Também alguns críticos interpretam como uma caricatura à situação actual das famílias do mundo árabe (onde a honra e a aparência são muito importantes).
O trabalho de fotografia deste filme é elaborado e original e o realizador usa uma vasta amplitude de ângulos de câmara na realização mas não deixa de ser um filme sóbrio. Talvez o único defeito deste filme seja a existência de um ou dois detalhes confusos na historia (eu vi este filme num cinema em França em VO com legendas) e alguma perda de ritmo na fase final do filme.Ganhou o prémio de Melhor Director no Festival de Cannes de 2008 e foi pré-finalista dos Óscares para Melhor Filme Estrangeiro em 2009.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

Escrito e Enviado por José Carlos Couto

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5 Comentários

  1. Concordo, o filme é bom mas fica aquém dos fabulosos Kasaba, Uzak e Iklimler. Mas é um dos melhores do 2008.

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  2. Obrigado por postarem a minha critica. Infelizmente do mesmo realizador só tinha visto o Climas que é realmente muito bom. Talvez melhor que os Três Macacos.

    Outra coisa que me esqueci de dizer, eu vi numa sala de cinema em França numa cidade com 140 mil habitantes no meio da semana às 19.00h e a sala estava quase cheia. O filme em V.O. (turco).

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  3. Uma pequena correcção:director traduzido significa realizador.
    Bem vindo.
    Continua o bom trabalho.
    Quanto ao filme em si ainda não vi e sinceramente não me entusiasma muito.
    Vi o "Climas" e detestei.

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  4. Me, Myself and I

    Se detestas-te o iklimler(Climas) então não vale a pena veres este üç maymun(Três Macacos). Embora este tenha mais ritmo que o iklimler, toda as obras do Ceylan são pautadas por um silêncio que vale mais que mil palavras, por uma linguagem corporal que transmite mais emoções e ideias que as palavras. É preciso saber ver este tipo de cinema mais paradoxal, mais filosófico e mais lento é claro. Mas quem não aprecia está no seu direito, até porque há gente que vai ao cinema para namorar, por isso...
    Ainda por cima detestas-te aquele que para mim é o melhor filme dele...

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  5. Willis de Faria (CINEFILOMANIACOS)24 de fevereiro de 2010 às 23:12

    O título deste filme vem da história japonesa em que existem três macacos, o primeiro representado com a mão a tapar os olhos, o segundo com a mão nos ouvidos e o último com a boca tapada de modo a evitar a percepção do diabo. O grande problema destes macacos é que o diabo continua diante dos três. E a história do filme não é mais que a tradução desta fábula japonesa para a realidade contemporânea turca. Servet (Ercan Kesal) um homem de negócios na Turquia, candidato as eleições local, dirige sozinho em uma estrada praticamente deserta. É noite e ele está com sono, mas atropela uma pessoa mortalmente por acidente numa floresta e decide fugir, mas a placa do seu carro é anotada por uma testemunha. Para prevenir um escândalo decide dizer que foi o seu motorista Eyüp (Yavuz Bingol), que conduzia o carro naquele instante e propõe ao seu empregado confessar o crime em troca de uma quantidade de dinheiro avultada. Então a motorista aceita e é condenado a oito meses de prisão pelo crime. Enquanto está na cadeia a sua mulher Hacer (Hatice Aslan) envolve-se amorosamente de forma freqüente com o empresário a troco de adiantamentos de dinheiro. O filho dos dois, Ismail (Ahmet Rifta Sungar) apesar de resistência inicial aceita calar-se porque necessitava de dinheiro. Quando Eyüp sai da prisão, a sua relação com a família torna-se um inferno silencioso. Os três sabem do que se passa, mas nenhum tem coragem em falar, em ouvir e a ver para manter a unidade familiar. É uma história complicada, mas que o cineasta filma com uma grande sensibilidade realçando os silêncios, os pensamentos e as expressões das personagens. Não é um filme de grandes diálogos, mas de inteligência e sensibilidade. O tema do filme é o silêncio, não um silêncio tranqüilo, mas um silêncio forçado e falso. Por vezes torna-se contemplativo chegando mesmo a realçar a beleza do porto de Istambul, visto de sua residência. O trabalho de fotografia deste filme é elaborado e original e o realizador usa uma vasta amplitude de ângulos de câmara na realização, mas não deixa de ser um filme sóbrio. O filme Três Macacos; é uma história sobre essa família e das decisões que venham a fazer para evitar a virada em direção a verdade, é também da sociedade sobre a nossa tendência para fechar os olhos ao que tínhamos que perceber, mas preferimos ignorar, de modo tomar decisões em nossas vidas para a imediata percepção do benefício, em vez de longo prazo. Três Macacos ganharam o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 2008 e foi pré-finalista do Oscar para melhor filme estrangeiro este ano. Ele é um filme de arte dramática, com poucos diálogos, mas que as imagens por si falam. Indicado para um público amante da 7ª arte. Se você deseja ação, humor ou extravasar suas energias em filme hollywoodiano, que atinja a toda massa de público, eu não aconselho. Mas se é amante da arte cinematográfica, pode comprar o ingresso. Nota: 9,0

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