Crítica – Ed Wood (1994)

Realizado por Tim Burton
Com Johnny Depp, Sarah Jessica Parker, Martin Landau

Um realizador que já mostrara em Batman (1989) a mestria com que se sabia servir dos efeitos especiais foi escolher precisamente o realizador que os usou da forma mais doméstica como personagem principal deste filme biográfico baseado na obra de Rudolph Grey. Péssimo realizador ou uma figura ímpar, Edward D. Wood Jr. tem congregado em seu torno uma série de fãs que o apreciam exactamente pelas mesmas razões que outros o abominam, os efeitos especiais artesanais , as montagens loucas, os argumentos duvidosos.
O filme centra-se no período em que Ed Wood (Johnny Depp) passa da encenação para o cinema, usando como actriz a sua namorada Dolores Fuller (uma Sarah Jessica Parker pré Sex and the City muito mais interessante). É nesta época também que conhece em Hollywood Bela Lugosi (Martin Landau), decaído e completamente viciado em morfina, o recupera como actor nos seus filmes de terror e acompanha como amigo até à sua morte. As excentricidades do realizador, notavelmente interpretadas por Johnny Depp, nomeadamente o seu fetiche por roupas femininas que vestia como o maior dos à vontades em qualquer situação ainda que fosse heterossexual, afastam a sua namorada, abrindo espaço para o envolvimento com a pacata Kathy O’Hara (Patricia Arquette) que viria a ser sua mulher o acompanharia para o resto da vida.


Mas tão importante como a biografia do realizador é a apresentação do seu modo de fazer cinema, do modo como construía realidades alternativas como pouquíssimos meios e pouco convencionais actores, para além de Lugosi, Wood gostava de trabalhar com o pugilista Tor Johnson (George “The Animal” Steele) e com a excêntrica Vampira (Lisa Marie). O próprio encontro com Orson Welles (Vicente D’Onofrio) é uma homenagem à sétima arte e àquilo que move quem a dela faz a sua vida. A opção de Burton pelo preto e branco cria uma fotografia absolutamente apropriada à época recriada e dá o enquadramento devido à inserção dos filmes rodados por Ed Wood dentro do próprio filme.
Burton centrou-se, como já disse, na arte da realização e daquilo que ela permite e pode ser. O Ed Wood aqui representado não é o realizador de filmes eróticos com que terminou a sua carreira nem é o considerado o pior realizador de Hollywood e do Universo, é um homem estimulante que se alimenta da sua paixão por contar histórias com imagens tal como o próprio Tim Burton certamente é. Este filme recebeu o Óscar de Melhor Actor Secundário (Martin Landau) e de Melhor Makeup.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Sem dúvida Ana, estou completamente de acordo.

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  2. Gostei muito da tua crítica, muito sóbria e fluída :) e acertada, claro. Curiosamente, este é provavelmente o meu "menos preferido" do Tim Burton, embora reconheça que, também provavelmente, seja um dos mais notáveis em termos de realização clássica. A personagem de Ed Wood aqui retratada é muito apelativa, e os paralelos que se traçam com a vida e filmografia de Burton muito curiosos. Adoro a ingenuidade e genuinidade do pior realizador do mundo!

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  3. Concordo, vi deliciada o "Plan 9 from outer space" logo na altura em que saiu este filme de Burton e tomei contacto com Ed Wood.

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