Crítica - Sleepy Hollow (1999)

Realizado por Tim Burton
Com Johnny Depp, Christina Ricci, Miranda Richardson, Michael Gambon

A história da “Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” foi apresentada ao público norte-americano durante a segunda década do século dezanove pelo famoso escritor Washington Irving. Este relato fictício é um dos contos de terror mais antigos e conhecidos da literatura norte-americana e, ainda hoje, é tido como uma verdadeira referencia cultural. O grande contador de histórias da actualidade, Tim Burton, decidiu transpor este fantástico e arrepiante clássico literário para o grande ecrã e, sem grandes surpresas, conseguiu transformar esta excelente e misteriosa história numa produção cinematográfica de grande esplendor e qualidade. “Sleepy Hollow” é protagonizado por Ichabod Crane (Johnny Depp), um excêntrico investigador científico que tentará encontrar o responsável pelos múltiplos e violentos homicídios de Sleepy Hollow, uma pequena e isolada comunidade que é assombrada pelo Cavaleiro sem Cabeça, um mítico cavaleiro fantasmagórico que aterroriza os habitantes desta pacifica localidade norte-americana que não hesita em culpar esta lenda local pelos sucessivos homicídios e pelas inúmeras desgraças da comunidade. A investigação de Ichabod Crane é dificultada pelos histerismos e secretismos dos habitantes locais, no entanto, encontra uma valiosa aliada em Katrina Van Tassel (Christina Ricci), uma bonita e misteriosa rapariga com ligações secretas ao sobrenatural que o ajudará a resolver este verdadeiro mistério.


O argumento de “Sleepy Hollow” é extremamente criativo e inventivo, porque conseguiu misturar numa única história vários elementos narrativos de vários géneros cinematográficos, ou seja, é nos bastante difícil enquadrar esta fantástica produção num único género cinematográfico, porque somos confrontados com vários elementos de grande qualidade que nos remetem obrigatoriamente para os géneros mais disparas e improváveis, assim sendo, tanto podemos ser brindados com brilhantes momentos de humor negro como podemos ser imediatamente surpreendidos por excelentes momentos que misturam o melhor do terror com o melhor da fantasia sobrenatural. O suspense também está sempre presente até à conclusão da história, porque nunca sabemos se a lenda é real ou fictícia e se os homicídios são ou não são planeados. Estas dúvidas permitem-nos manter a expectativa e o interesse nesta imprevisível história que nos apresenta um conclusão absolutamente fantástica e improvável. Os diálogos auxiliam à manutenção do mistério e são essenciais para compreendermos a evolução da narrativa e das personagens que a interpretam, porque à medida que avançamos na aventura, somos confrontados com uma evolução crescente da personagem principal que subitamente passa de um tímido investigador para um corajoso e intrépido aventureiro.


A sombria direcção de Tim Burton é inegavelmente a melhor característica de “Sleepy Hollow”, porque lhe fornece uma extraordinária atmosfera que combina habilmente o estilo clássico com o estilo gótico, criando assim um espectacular cenário sombrio que alimenta convenientemente o desenvolvimento narrativo desta produção que está carregada de elementos sobrenaturais, elementos esses que são engenhosamente aproveitados pelo cineasta para instigar a fantasia da lenda e o terror dos violentos homicídios. Os cenários gélidos e as paisagens enevoadas aumentam ainda mais o ambiente terrorífico e claustrofóbico desta longa-metragem que também nos apresenta pormenores absolutamente deliciosos, como por exemplo, as desgastadas e desesperadas caracterizações dos habitantes de Sleepy Hollow e os arrepiantes designs gráficos dos elementos sobrenaturais. As sonoridades de Danny Elfmann também se enquadram muito bem com os restantes elementos técnicos e narrativos desta obra-prima de Tim Burton. O elenco é liderado pela fantástica performance de Johnny Depp, um actor que raramente nos oferece prestações medíocres. O elenco secundário é composto por alguns actores de qualidade, como por exemplo, Christina Ricci e Michael Gambon, no entanto, é a desconhecida Miranda Richardson que nos oferece a melhor performance deste elenco secundário. A experiente actriz britânica interpreta uma carismática e maquiavélica personagem que assume uma surpreendente preponderância ao longo da história do filme.


A capacidade artística de Tim Burton ficou novamente provada com “Sleepy Hollow”, uma fantástica adaptação cinematográfica da aventura sobrenatural idealizada por Washington Irving. Ao irrepreensível e imaginativo visual desta produção temos que adicionar a criatividade narrativa do argumento e as fantásticas preformações do elenco, porque todos esses elementos contribuíram para a excelência qualitativa desta longa-metragem que nos assusta e que nos deslumbra.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

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5 Comentários

  1. Existem coincidências nesta vida. Acabei de ver o filme, chego à blogosfera e deparo-me com a tua crítica :p

    Quanto ao filme, não posso dizer que tenha gostado muito. Sim, é bom mas é Burton. A nossa relação continua a não ser a melhor. Agora, não existem dúvidas que é empolgante e misterioso. E apesar de o próprio Depp não gostar do seu papel, devo dizer que gostei bastante do seu registo.

    Abraço

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  2. Excelente filme. A junção de Tim Burton com Johnny Depp sempre rende grandes filmes. O visual deslumbrante do filme é um dos maiores feitos nesta obra, assim como sua trilha sonora!

    www.cinemaemdvd.blogspot.com

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  3. Não gostei assim tanto, e eu adoro Burton e Depp!

    Abraço
    http://nekascw.blogspot.com/

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  4. Tive oportunidade de rever esta longa-metragem durante esta semana no Hollywood e fiquei com uma impressão muito mnelhor desta segunda vez. É mais violento que os outros trabalhos góticos de Burton mas na minha opinião, é um dos seus trabalhos visuais mais conseguidos.

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  5. Talvez o último GRANDE/EXCELENTE filme de Burton! (O Big Fish veio depois?)

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