Crítica - Where The Wild Things Are (2009)

Realizado por Spike Jonze
Com Max Records, Catherine Keener, James Gandolfini, Forest Whitaker

Muito de vez em quando, cada vez mais raramente, aparecem pérolas inconcebíveis e inqualificáveis como este "Sítio das Coisas Selvagens". Filmes que abanam as fundações do nosso ser, que nos relembram de emoções que não sentíamos desde criança e que nos desafiam a sentir as coisas novamente como se fosse a primeira vez. Há que dizer que este filme não é para todos e a asserção que vou fazer dele é pessoal e intransmissível. Portanto nega-se a responsabilidade no sentido de ser usada para classificar o filme como bom ou mau, se vale a pena ver ou não.
Max é aparentemente um menino normal de 8 ou 9 anos: irmã adolescente e negligente, mãe solteira atenciosa e carinhosa, uma imaginação sem limites. Após um ataque de raiva incontrolável, foge de casa e navega até uma ilha longínqua com uma floresta imensa habitada por adoráveis monstros. Mas estes monstros estão afundados em tristeza e confusão. Carol (Gandolfini) não compreende porque não conseguem ser felizes e veicula a sua tristeza através da raiva. Judith (O'Hara) é a pessimista do grupo e sente-se sempre negligenciada e vai para todo o lado com Ira (Whitaker), o mais pacífico mas o mais certeiro a fazer buracos em árvores. Alexander (Dano) necessita gravemente de atenção e carinho mas ninguém lhe dá. Douglas (Cooper) tem uma introspecção e perspicácia a outro nível mas conforma-se com o que tem. KW (Ambrose) desertou o grupo porque procurava algo mais e fez novos amigos, coisa que Carol nunca perdoou. Finalmente "O Touro", que nunca fala, aparece como um espectro, a concretização do peso e da escuridão que paira sobre todos eles. Num derradeiro sopro de esperança de que tudo se endireite, coroam Max como o seu rei quando este lhes promete que tem o poder para tudo ficar bem. A história é baseada no livro com o mesmo nome.


O único filme que me ocorre como comparação, que me provocou o mesmo tipo de sentimentos quando o fui ver ao cinema para aí aos 8 anos é "A História Interminável II". Mas é uma fraca comparação, porque para ter o mesmo tipo de impacto passados 18 anos de vida é preciso ser infinitamente mais poderoso. Não me lembro de ter alguma vez visto algo desta intensidade a mostrar a profunda melancolia e angústia que impregnam a infância. A retratar o momento em que uma criança é confrontada com a finitude e a morte das coisas, se apercebe das trevas dentro de si e pára de ter a certeza de que tudo irá ficar bem. Desenganem-se os que acham que a infância é só alegria e inocência, pode ser a época mais negra da vida de uma pessoa. A tomada de consciência prematura do sofrimento e da perda como inerentes à condição humana é de uma violência sem igual e altera inexoravelmente a nossa maneira de ser e de olhar o mundo.
A história não pretende ter uma moral ou uma conclusão, ilustra sim uma época inicial da vida em que estamos frequentemente perdidos, sem compreender o que se passa dentro de nós, sem ferramentas mentais suficientemente desenvolvidas que nos permitam lidar com isso, apanhados em turbilhões de emoções cruas e desconhecidas que nos fazem questionar pela primeira vez a nossa identidade. Cada uma das "coisas selvagens" pode representar um aspecto da nossa personalidade que não podemos controlar, ou uma emoção que não compreendemos e que se apodera de nós. Ou então pode ilustrar, uma a uma, as forças da idade adulta que temos de enfrentar mais cedo ou mais tarde, enquanto Max as fita impotente e pesaroso, descorrendo perante os seus olhos. A ira, a frustração, o pessimismo, o conformismo, a procura vã de respostas noutro locais e noutras pessoas, todos eles com origem num só sentimento: o medo puro e primitivo. O medo perante a mudança, necessária e incontornável no percurso de uma vida, mas que leva sempre e irrevogavelmente à morte. Assim se pinta no extremo a impossibilidade, ou pelo menos a improbabilidade, de se ser feliz.


Spike Jonze demonstra com este filme uma sensibilidade fora de série e sem precedentes. Essencialmente um realizador de videoclips, já nos tinha trazido interessantes dissertações sobre o desconforto mental e o sentimento de clausura no nosso próprio corpo com "Being John Malkovich" e "Adaptation", que deu a conhecer ao mundo o atormentado escritor Charlie Kaufmann. E aqui confere um olhar intimista e sempre bem colocado, ora de espaços interiores com planos muitas vezes tão próximos que se tornam quase invasivos, ora espaços exteriores tão vastos que abarcam toda a floresta onde as "coisas selvagens" têm liberdade de se manifestarem. O argumento, adaptado por si próprio, está repleto de momentos de ternura e de angústia, esperança e desespero pintados inacreditavelmente em expressões de ursos de peluche gigantes e na inocência estampada no rosto real e genuíno de Max Records, sempre vestido com o seu fato de gato, na teimosia de não crescer. A interpretação de James Gandolfini como o agonizado Carol é transcendental!
"Where The Wild Things Are" não é um filme para crianças nem é para ser visto de ânimo leve, não é propriamente filme para passar o tempo. É provável que aconteça uma de duas coisas: ou se gosta muito ou se detesta, porque caso não se identifiquem com o que se está a passar, resta pouca coisa de cativante ou empolgante. No entanto, se se vir de mente aberta, pode ser uma grande grande surpresa e uma verdadeira viagem no tempo a zonas da mente anuladas pela idade, mas que ao fim e ao cabo estão sempre presentes.


Classificação - 5 Estrelas Em 5

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13 Comentários

  1. Eh lá!
    Isso é bom, espero ansiosamente por ver este título.

    Abraço
    http://nekascw.blogspot.com/

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  2. Bem, com esta crítica fiqui abismado. Pensava eu que isto ia ser so mais um desastre cinematográfico! Ida ao cinema ainda hoje à noite!

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  3. adorei o texto Ana, parabéns. Senti precisamente estas emoções de que falas... é realmente muito intenso

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  4. Pois eu detestei.
    E até compreendi que o filme pretendia mostrar o interior conturbado de uma criança mas fiquei muito insatisfeito porque simplesmente a história podia ser contada em 5 minutos e a extensão para 90 minutos é constrangedora. O filme vai pelo caminho mais fácil e deixa tudo á nossa interpretação: o que são os monstros e qual o significado daquilo tudo são perguntas sem resposta.
    Já li que o filme segue á risca o texto de Sendak mas isso nem sempre é bom.
    E quanto ao final digo apenas que não é assim que uma criança ganha responsabilidade e respeito aos pais.

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  5. A concepção de que indiviualização de perspectiva permite que toda opinião sejá válida e deva ser aceita é uma generalização equivocada. A opinião de Helder MC é simplesmente errada, ele simplesmente se concentrou nas partes menos importantes do todo.

    Eu fiquei impressionado com seu texto, Ana P. Foi algo tão preciso que parecia uma extensão natural do próprio filme. Acho até que essa descrição deveria fazer parte do encarte do filme, difícil retratar melhor do que fez.

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  6. erick explica me la essa primeria frase . . .

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  7. p.uta que vos pariu, cambada de drogados

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  8. nao gostei e nao percebi nada e voces so inventam porque nao existem criancas, fazem parte do imaginario dos monstros e nao e possivel os monstros terem sentimentos, esses que o autor quer transmitir na pseudocrianca.

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  9. é k isto e o estado em que fica um gajo depois de ver esta me.rda. ahahah nao sabiam que se pode escrever p.uta car.alho etc . . . .aahahahah tomaaaaaaai

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  10. c.aralho . . . . p.uta ..... m-erda....


    BECAUSE WHERE THE WILD THINGS ARE IS HERE!!!!!

    UAAAAAAHHAAAAUAAAAHHH

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